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Sob lanternas chinesas, Criolo reforça o rap com baile variado em novo show

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

14/11/2014 04h04

"Vai ser sentado? Show de rap assim não dá", reclamou uma jovem, ao entrar no teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo, para o primeiro show da nova turnê de Criolo, nesta quinta-feira (13), com ingressos esgotados. Logo no primeiro movimento no palco, assim como em um chamado, todos se levantaram das cadeiras e ficaram em pé. Não é para menos, o novo show do cantor está mais rap do que nunca, e mesmo que a dicotomia persista, as rimas de Criolo vêm cada vez mais engrossadas no caldo de outros ritmos – muito além da MPB.

Cheio de referências (de Ferréz a Sartre, de Nietzsche a Edi Rock) e com uma banda cada vez mais afiada, Criolo entrou ovacionado no palco decorado com lanternas chinesas para mostrar as canções de "Convoque seu Buda", um dos destaques do ano. E assim como no registro recém-lançado, o cantor promoveu um baile cada vez mais variado e dançante. Realmente, é difícil assistir sentado.

Talvez inspirado na amizade seleta de medalhões como Chico Buarque, Milton Nascimento, Ney Matogrosso e Caetano Veloso, Criolo se arrisca em timbres e tons diferentes. Sua imersão na música é maior que os rótulos. Ele vai da ciranda nordestina de "Pegue pra ela" ao partido alto de "Fermento Pra Massa" e "Linha de Frente", passando pelo reggae de "Pé de Breque", sem deixar de flertar com o progressivo em "Plano de Voo" e com os pontos de Candomblé em "Esquiva da Esgrima". Carregado de refrões fáceis, como mantras, e com as danças ritualísticas, o show faz Criolo estreitar ainda mais o laço com o público – é um artista popular, acima de tudo.

Se a plateia já estava garantida antes mesmo do show começar, o imperativo no nome do disco fez reacender a busca por equilíbrio em dias (ainda) tão desiguais. O cantor faz, discretamente, acenos de artes marciais nos agradecimentos. Atrás do cantor, diante da bateria, um pequeno Buda é iluminado por velas. Criolo chega até a trocar de roupa no bis para um roupão de um estilo franciscano (para cantar "Não Existe Amor em SP") e uma túnica branca (para versar na antiga "Demorô”). Tocado com a energia do público, ele agradecia repetidamente: "muito amor, paz, axé".

O papo pode soar xamânico demais para alguns, e a produção de Marcelo Cabral e Daniel Ganjaman (nos teclados e programação), um rebento tropicalista, mas tanto a evolução quanto a busca de Criolo nasceram nas ruas. No ponto mais alto do show, a gema "Plano de Voo" mostrou Criolo e suas duras rimas sobre a busca do homem contemporâneo por igualdade. Ele, que sempre evita falar de política em entrevistas, faz também um retrato fiel das ocupações em "Casa de Papelão" e da melancolia das quebradas em "Duas de Cinco".

Criolo sacramentou o momento ao chamar seu afilhado, Neto, do duo de rap Síntese, para prosseguir as rimas angustiantes em "Plano de Voo". O rapaz agradeceu os aplausos, humilde, e deu um longo abraço no padrinho.

Com exceção de Juçara Marcal, que dá um brilho singular para "Fio de Prumo", ausência mais sentida entre as novas batidas, todos os convidados compareceram na estreia. Tulipa Ruiz veio vestida a caráter, de vestido dourado, para o baile black de "Cartão de Visita", que encerra o show. Pop fino, com rimas irônicas sobre o consumismo, a música ganha mais potência e suingue ao vivo. É o fim do baile. E o bagulho continua louco.

Setlist:

Convoque Seu Buda
Esquiva da Esgrima
Mariô
Subirusdoistiozin
Casa de Papelão
Duas de Cinco
Plano de Vôo/Rap Síntese
Pé de Breque
Grajaúex
Lion Man
Pegue Pra Ela
Fermento Pra Massa
Cartão de Visita

BIS

Não Existe Amor em SP
Sucrilhos 
Tô Pra Vê

BIS 2

Linha de Frente
Demorô