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Proibir show de Pedrinho é "covardia", diz Catra sobre funkeiro boca-suja

"Por favor, não acabem com o sonho das crianças do funk", diz o cantor, defendendo que objetivo deve ser ajudá-los a continuar cantando, e não proibir - Reprodução/Instagram
"Por favor, não acabem com o sonho das crianças do funk", diz o cantor, defendendo que objetivo deve ser ajudá-los a continuar cantando, e não proibir Imagem: Reprodução/Instagram

Felipe Blumen

Do UOL, em São Paulo

10/02/2015 05h00

“Se não queria que o menino cantasse, não deixasse nem começar.” É assim que o cantor de funk Mr. Catra, com sua voz grossa e, agora, séria, começa a defender o direito de MC Pedrinho, um funkeiro mirim de 12 anos, cantar as suas músicas, com letras recheadas de palavrões e conteúdo erótico. 

“Se o problema é o repertorio e o horário, faz versão 'light' da música, canta na matinê ou fala que a mãe precisa estar junto”, continua o músico carioca, comentando também o fato de haver muitos funkeiros menores de idade fazendo shows após as 23h. “Só não pode proibir de cantar, obrigar a parar, porque isso aí é sacanagem”, diz.

Em janeiro deste ano, MC Pedrinho, um dos nomes mais conhecidos da nova geração do funk, foi proibido de realizar dois shows, um em Araçatuba, interior de São Paulo, e outro Fortaleza.

Catra 2

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    Ninguém está matando, roubando. Temos que aproveitar que eles estão cantando e dar um caminho para eles.

    Mr. Catra

As proibições, que foram obtidas pelos Ministérios Públicos dos dois Estados, tinham teor parecido: Pedrinho não poderia cantar por não ter autorização registrada no Ministério do Trabalho e porque os locais e horários das apresentações (casas noturnas, de madrugada) seriam “impróprios” para sua idade –assim como o conteúdo erótico e explícito de suas músicas.

Para Catra, proibir os funkeiros mirins de cantar é uma saída “covarde”. “Se for tomada alguma atitude, tem que ser de orientar, de ajudar os meninos”, explica. “Porque eles já são artistas, ganham o seu dinheiro, ajudam as mães, já são a fonte de renda da família. Acabar com isso pode causar um trauma grande na vida deles” afirma.

Responsabilidade e futuro

Mr. Catra não enxerga o funk como uma ameaça à educação dos jovens. Para o cantor, a programação das TVs abertas no horário nobre “também não é nada maneiro para criança”. E completa: “Isso sem você contar o que qualquer um pode achar na internet”.

Pai de 28 filhos, o funkeiro diz que o sonho de muitos é seguir a mesma carreira que ele. “Mas eu já fui muito perseguido e tento passar isso para os meninos”, conta. “Eles ficam tristes, porque veem todo o mundo cantando e também querem cantar.  Mas eu troco ideia com eles, falo que eles não têm idade”.

Catra

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    Se o problema é o repertorio e o horário, faz versão light da música, canta na matinê ou fala que a mãe precisa estar junto.

    Mr. Catra

Para os que já estão no ramo, e que veem nele uma inspiração, Catra tenta dar conselhos. “Ninguém está matando, roubando. Temos que aproveitar que eles estão cantando e dar um caminho para eles. Esses meninos têm talento, arrastam multidões. Se proibir de cantar, o que sobra para eles? Você sabe pra onde eles podem ir amanhã?”, pergunta.

O cantor utiliza a própria experiência como exemplo. “Eu canto samba, canto rap, canto de tudo”, diz. “O meu sonho é ver uma geração próspera de funkeiros. Eles podem um dia representar a música popular brasileira”, afirma. E finaliza: “Uma criança tem o direito de sonhar. Se eles estão felizes cantando, o caminho tem que ser esse. Não pode é castrar, fazer a sacanagem que é proibir de cantar e pronto. Virar as costas. Temos que ajudar, não podemos fazer novos Pixotes”, conclui.