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Perda de Zé Rico é "doída" para quem sente orgulho da música sertaneja

André Piunti

Especial para o UOL

03/03/2015 16h53

A reação dos artistas sertanejos nas redes sociais expressa, minimamente, o tamanho de José Rico. Perdemos a figura sertaneja mais querida entre todos os artistas e mais imitada, por conta de sua voz e seus trejeitos.

A perda de Zé Rico é dolorosa ou, como dizem os sertanejos, "doída", pois se tratava de um artista que só orgulhava quem bate no peito para se dizer fã de música sertaneja.

O “Zum”, como era apelidado justamente por chamar as pessoas dessa forma (para não errar o nome de ninguém), foi uma das principais vozes da música sertaneja, senão a maior.

Deu início à dupla ao lado de Milionário nos anos 1970, apostando em uma música sertaneja mais “moderna”, que respeitava a viola e o violão, mas inseria outros instrumentos nada tradicionais para os caipiras, como bateria, baixo, guitarra, metais e teclado.

A dupla veio na linha de Léo Canhoto e Robertinho, que extraíram costumes da Jovem Guarda, como os cabelos compridos, óculos escuros, joias e roupas extravagantes, e uniu a esse novo perfil a influência mexicana que já existia entre as duplas sertanejas, principalmente com Pedro Bento e Zé da Estrada.

Zé Rico ficou marcado por sua interpretação, seu sotaque acentuado nos “erres”, e principalmente por um sofrimento nas canções muito inspirado em Pedro Infante, cantor mexicano do qual também gravou algumas versões.

Piunti escreve sobre José Rico

  • Zé Rico se tornou um ícone da música sertaneja pela voz, pelo talento e pela imagem. Os óculos, além de uma questão de estilo, escondiam alguns problemas de visão. A figura imponente, de barba cheia e cabelão, guardava um senhor repleto de manias, mas de risadas muito fáceis e cheio de histórias boas pra contar

Conversar com o Zum era um prazer para quem gosta de música, pois além de ter convivido com músicos de diversas gerações, ele era uma enciclopédia de canções, recitava uma canção da década de 1940 com a facilidade com que canta uma do último disco. Contava histórias que viveu com Teixeirinha, Raul Seixas ou Zezé di Camargo como se fossem seres que encontramos em qualquer esquina.
 

Os medalhões e o novo sertanejo
Após uma curta separação no início dos anos 1990, Milionário e José Rico passaram a enfrentar um desafio que era o de renovar seu público, objetivo que muitas duplas grandes não conseguiram.

Com eles, no entanto, deu certo. Apesar de reservados, ambos foram sempre respeitosos com as gerações mais novas, o que os aproximou muito das duplas mais jovens.

Mesmo com as mudanças no mercado sertanejo, eles se mantiveram na ativa, principalmente na segunda metade dos anos 2000, com a ascensão do “sertanejo universitário”. O público que não gostava do “novo sertanejo“, corria para shows dos medalhões. Foi nesse vácuo que eles voltaram com um ritmo de shows que talvez nem fosse muito correto para a idade deles, de cerca de 20 apresentações por mês.

Zé Rico se tornou um ícone da música sertaneja pela voz, pelo talento e pela imagem. Os óculos, além de uma questão de estilo, escondiam alguns problemas de visão. A figura imponente, de barba cheia e cabelão, guardava um senhor repleto de manias (dono de mais de 30 automóveis e de um castelo, que construía há mais de 20 anos), mas de risadas muito fáceis e cheio de histórias boas pra contar.

Aproveitando o clichê que será amplamente reproduzido, “o final desta vida chegou”, talvez do jeito que o Zum imaginava. Em plena atividade, com a agenda cheia, respeitado pelos mais velhos e cultuado pelos mais jovens.