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Público aprova Adam Lambert como vocalista do Queen após show em SP

José Norberto Flesch

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/09/2015 04h13

O cirurgião dentista Otávio Neiva, 46, viajou de Campina Grande, na Paraíba, até São Paulo só para ver o Queen, na noite desta quarta (16), no ginásio do Ibirapuera. Ele foi um dos que aprovaram o norte-americano Adam Lambert, 33, como atual vocalista da banda inglesa --cujo tempo de carreira é bem maior que a idade do cantor.

"Eu queria ver o Brian [May, guitarrista] e o Roger [Taylor, baterista]. E tinha que ter alguém cantando, mas gostei dele [Adam Lambert]. Valeu muito a pena", conclui Otávio, que é chamado pelos amigos de Mercury, em referência ao ex-vocalista original do Queen, que morreu em 1991.

O arquiteto Denis Elias, 36, desfilou elogios a Lambert, no final do show. "Não dá para comparar os três vocalistas [que o Queen já teve]. O Freddie e o Paul [Rodgers, do Bad Company] eram bem diferentes, e o Adam também. E gostei muito dele. É um showman, simpático, com grande presença de palco".

Se Adam conquistou o público mais velho, que conheceu o Queen com Mercury nos vocais, ele também fez a alegria dos fãs mais jovens da banda. É o caso da estudante Giovanna Benedette, 17, que foi ao show com os pais. "Adorei o Adam. Sabe o que acontece? As pessoas pensam que ele entrou para substituir o Freddie, mas, na verdade, o que ele faz é uma homenagem", afirmou a garota.

A mãe de Giovanna, Siomara Benedette, 52, apoia a filha na aprovação ao cantor. "Ele tem um timbre de voz maravilhoso. Eu o achei apenas um pouco extravagante, mas, pensando bem, Freddie também era", compara.

O show

O Queen antecipou em São Paulo o show que fará na próxima sexta-feira no Rock in Rio. Durante 2h20, a banda repassou toda a carreira, enfileirou no setlist de canções pouco conhecidas, como "In the Lap of the Gods", do álbum "Sheer Heart Attack" (1974), a clássicos, como "Somebody to Love" e "We Are the Champions". Outra de "Sheer Heart Attack" que entrou foi "Killer Queen", que Lambert cantou sentado em uma poltrona roxa.

O vocalista não é toda essa fábula que o público mais empolgado acha que é. Na maior parte do tempo, sua presença mais incomoda do que agrada. Mas quando o cantor acerta, o show cresce absurdamente. Lambert tem uma sequência em que domina o espetáculo, e parece inverter a situação. Em "Save Me" e "Who Wants to Live Forever", ele faz o Queen penetrar no seu universo vocal e performance, e não o contrário, quando tenta se adaptar ao grupo. O cantor ainda se dá bem em "Show Must Go On" --mas é só.

Como homenagem a Freddie Mercury, funciona. Como show do Queen, decepciona um pouco. Mercury surge no telão três vezes. Na primeira, canta um trecho de "Love of My Life". Na última, chega a duelar nos vocais com Adam, em "Bohemian Rhapsody". Mas não há grandes versões de qualquer uma das músicas do grupo, exceto nas duas citadas, em que Adam toma conta.

O lugar não ajudou. A péssima acústica do ginásio do Ibirapuera estragou a parte inicial da apresentação. Para quem estava na pista, próximo ao palco, o som, além de embolado, era coberto pela caixa da bateria de Roger Taylor, alta demais, no início.

Taylor trouxe junto seu filho Rufus, que atuou como percussionista e também duelou com o pai durante o solo de bateria de Roger. O rapaz ainda assumiu as baquetas em "Tie Your Mother Down".

O que não desagradou em quase nenhum momento foi a produção cênica da banda. Apesar de lembrar muito a do Pink Floyd, a iluminação em torno de um telão redondo, instalado dentro do desenho de uma letra Q, tornou o espetáculo visualmente muito bonito. Ainda assim, Brian May não precisava ter recorrido ao clichê de tocar usando uma camisa que representasse o Brasil, mas isso é outra história.