Topo

Muse não lota estádio em SP, mas prova que pode segurar multidões no Brasil

Mariana Tramontina

Do UOL, em São Paulo

25/10/2015 03h01

Muita água rola por debaixo da ponte que o Muse caminha. A banda inglesa experimentou bastante ao longo da última década, e os sete álbuns lançados não deixam mentir: eles se permitem provar de múltiplas sonoridades e incrementá-las em seu próprio universo. Ao mesmo tempo, em meio a tantas influências, há uma identidade fácil de ser reconhecida. Toda essa informação se reflete no palco: um show meio heavy metal, meio ópera, meio eletrônico, com todo excesso do rock and roll, refletindo as incursões no caos do universo e do apocalipse no qual mergulha o líder do grupo, Matthew Bellamy.

Se na Europa e no Reino Unido eles levam há anos multidões para grandes arenas, só agora o Muse conquistou o status de banda de estádio no Brasil. Pela primeira vez, eles tiveram por aqui um espaço só para eles, tomando o Allianz Parque, o estádio do Palmeiras, em São Paulo --o trio havia tocado no estádio Morumbi durante a turnê do U2, em 2011, como banda de abertura. Dessa vez, levaram 27 mil pessoas, segundo a organização, só para vê-los. Não foi suficiente para encher a casa: ou o grupo ainda não é tão grande assim no país, ou o preço dos ingressos (R$ 320 a inteira da pista, e R$ 650 a inteira da pista premium) assustou. Qualquer que seja o motivo, o Muse mostrou que pode segurar um estádio sozinho  no Brasil.

Parte do sucesso ao vivo da banda está na escolha de seus repertórios --faixas mais antigas, como "Muscle Museum" (uma raridade nos shows) ou "Plug in Baby", encaixam certeiras com as novidades. É uma banda que proporciona uma das grandes experiências ao vivo deste rock do século 21 porque encara o palco como seu palanque principal, e não apenas como um produto de estúdio gravado para vender CDs. Matt canta suas músicas de forma apaixonada, como se cada faixa pudesse a qualquer momento estourar para fora do peito, enquanto o baterista Dominic Howard e o baixista Chris Woltstenholme se completam de forma competente.

O show que o Muse trouxe ao Brasil (eles também tocaram no Rio de Janeiro, na última quinta-feira) é uma peça em transição. Desde março eles passaram a incluir faixas do disco "Drones", que foi lançado em junho e que, em sua mensagem, planta o medo de uma Terceira Guerra Mundial e o avanço descontrolado da tecnologia. São cinco músicas do novo trabalho, além da vinheta "Drill Sargent", em que um sargento detona seu pelotão, ao estilo de "The Wall", do Pink Floyd. O disco é um retorno ao som mais orgânico e ao rock cru, e a apresentação vai aos poucos assumindo essa identidade. Durante as canções novas, o cenário se volta para algo mais sóbrio, sombrio, sem muita invenção.

A parte inicial da apresentação, repleta de músicas novas, prometia ser tediosa, mas funcionou bem com "Psycho",  "The Handler" e "Dead Inside", esta última com direito a um flash mob do público, que se organizou pela internet para acender lanternas de celulares para o alto. Enquanto "Uprising" trazia junto gigantes balões pretos que pulavam por cima da plateia, o encerramento teve ares épicos, em uma dobradinha da nova "Mercy" (uma prima de "Starlight", de 2006) e a mistura de hard rock e sci-fi de "Knights of Cydonia" com uma chuva de papeis e serpentinas.

Não é ainda um show regular. A turnê oficial de "Drones", chamada de The Drones World Tour, começa em novembro, no México, com drones sobrevoando a plateia e um palco em formato de 360 graus, com a banda posicionada no meio do público --bem semelhante à garra que o U2 usou na turnê 360, que trouxe a banda de Matthew para o Brasil como convidada de abertura. É o Muse mais uma vez usando o que já foi feito por aí.

Veja as músicas que o Muse tocou em São Paulo:

"Drill Sergeant" (vinheta)
"Psycho"
"Reapers"
"Plug In Baby"
"The Handler"
"The 2nd Law: Unsustainable"
"Dead Inside"
"Resistance"
"Muscle Museum"
"Citizen Erased"
"Madness"
"Supermassive Black Hole"
"Time Is Running Out"
"Starlight"
"Uprising"

bis
"Mercy"
"Man with a Harmonica" (introdução de Ennio Morricone)
"Knights of Cydonia"