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"É natural as bandas se tornarem eletrônicas", diz guitarrista do Hot Chip

À la Kraftwek, Owen Clarke (segundo da esq. para dir.) posa com os colegas de Hot Chip - Divulgação
À la Kraftwek, Owen Clarke (segundo da esq. para dir.) posa com os colegas de Hot Chip Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

25/11/2015 06h00

Há uma boa chance de haver uma participação especial no show que Hot Chip fará no festival Sónar, no próximo sábado (28), em São Paulo. É a praxe do quinteto do chamado electropop, que na véspera (27) também se apresenta no Rio, no Sacadura 154. Mas não adianta perguntar ao tecladista e guitarrista Owen Clarke quem será. “Não somos de planejar demais. Apenas vamos ver o que acontece”, diz por telefone ao UOL.

Veterana no circuito de festivais no país, a banda já foi escalada no Tim Festival, em 2007, no Planeta Terra, em 2010, e no Lollapalooza de 2013. Assim como fazem em outros lugares do mundo, os integrantes costumam usar o tempo de folga dos shows para peneirar raridades em lojas de discos brasileiras.

Da última vez, gostaram tanto do que ouviram que decidiram incluir batidas tupiniquins em seu mais recente trabalho, o bem-humorado “Why Make Sense?”, lançado no ano passado. “A música brasileira é muito interessante. Conhecer essas sonoridades é um dos motivos que nos fazem gostar de estar no Brasil. É uma música completa”, diz Clarke, antes de entregar que alguns de seus colegas chegarão antes no Brasil especialmente para bater perna em sebos.

Formado em Londres em 2000, o Hot Chip pega carona na onda de popularidade da música eletrônica, que vive um de seus melhores momentos na história. Em praticamente todas as vertentes. Para Clarke, esse é um processo natural e que tem a ver com a popularização dos meios tecnológicos: “As pessoas não formam mais bandas porque elas não têm mais garagens. Agora elas têm laptops e fones de ouvido”.

Leia os principais trechos da conversa.

UOL - O que esperar da volta da banda ao Brasil?

Owen Clarke - Estamos trazendo nosso show completo. Mais de 28 caixas de teclados. Vamos ajustá-los e fazer muito barulho, com muitas luzes. Sei que vamos estar ao lado de bons amigos no festival, como o Chemical Brothers. Imagino que eles vão levar muitos teclados também. E robôs. Vai ser ótimo.

Vocês costumam trazer participações especiais nos shows. É a vez de Tom Rowlands e Ed Simons (do Chemical Brothers)?
    
Gostamos de ter esses elementos de surpresa. Mas você não pode planejar uma festa e dizer antes o que vai acontecer. Tivemos vários convidados especiais nesta turnê, como o David Byrne [ex-Talking Heads], que tocou tamborim conosco em Nova York. No fim do set, os convidados vêm e tocam coisas divertidas, que conseguimos executar. Mas não somos de planejar demais. Vamos ver o que acontece. Essa é a natureza das surpresas.

Vocês já mencionaram admiração pela música brasileira. É possível dizer que há influência?

Acho que sim. A música brasileira é muito interessante. Conhecer essas sonoridades é um dos motivos que nos fazem estar no Brasil. É uma música completa. É quase como um outro mundo para nós explorarmos. Sei que alguns dos caras da banda estão voando antes do show especificamente para ir a lojas de discos e tentar encontrar algo que aumente o conhecimento deles sobre o assunto.

Não acho que eles sejam realmente pop. Acho que são fruto de uma mistura de popularidade, algoritmos e playlists.
Owen Clarke sobre as novas estrelas da música pop

O Hot Chip já foi descrito tanto como "pop" quanto "cerebral". Qual desses lados você se identifica mais?

Temos nossas referências sonoras e poéticas, mas também somos grandes fãs da música pop. Seja Beach Boys ou até mesmo algo como Kylie Minogue. São grandes exemplares de música pop, que você reconhece assim que escuta. Seria frustrante para nós se não experimentássemos tocar música pop. Obviamente, também gostamos de coisas mais obscuras, mas que também têm sensibilidade pop.

A música eletrônica vive uma fase de ouro, povoada por sucessos e DJs superstars. É o auge?

Pode ser. Mas, de qualquer forma, é inevitável que o modo de produção da música hoje faça a música eletrônica ser popular. As pessoas não estão mais formando bandas e ensaiando em garagens. Não há mais garagens. Hoje, em vez disso, as pessoas têm laptops e fones de ouvido. Essa é a forma como muitos artistas chegam e influenciam as pessoas. É um movimento natural se tornar eletrônico, porque o mundo se tornou eletrônico também.

Lembrando o título do último álbum do grupo, “Why Make Sense?”: O pop faz sentido atualmente?

Com certeza é uma música digestiva. Fácil de processar. Mas não acho que esses artistas sejam realmente pop. Acho que são fruto de uma mistura de popularidade, algoritmos e playlists. Não acho que sejam genuinamente populares, no sentido de as pessoas ficarem os escutando repetidamente e amando o que fazem. Mas isso faz sentido para agora, nesta era. Talvez as coisas mudem no futuro.