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"Perdi não só um amigo, mas um irmão", diz Angela Maria sobre Cauby Peixoto

Mariane Zendron e Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

16/05/2016 14h06Atualizada em 16/05/2016 17h44

A cantora Angela Maria causou comoção nesta segunda-feira (16) no velório do cantor e amigo de longa data Cauby Peixoto. Ela chegou à Assembleia Legislativa de São Paulo por volta das 13h10. Amparada pelo marido, Daniel D'Ângelo, a cantora primeiro se aproximou do caixão do amigo para depois conversar com a imprensa. 

"Perdi não só um amigo, mas um irmão", disse a artista de 87 anos, que fazia ao lado de Cauby a turnê "120 Anos de Música". Ela se apresentaria com o cantor no próximo sábado (21), no Sesc Santo Amaro, em São Paulo, como parte da programação da Virada Cultural. 

A cantora se disse surpresa com a partida do amigo aos 85 anos. "Eu não esperava que ele fosse tão cedo. Queria que ficasse muito mais tempo por aqui", lamentou. 

Aplaudida pelo público presente no velório, Angela Maria relembrou a parceria com Cauby e também falou do temperamento do cantor fora dos palcos.

"Cauby era mais alegre no palco. Fora dele era uma pessoa calada". A última lembrança que tem do amigo é de uma conversa deles no Rio, provavelmente na última apresentação que fizeram juntos, no Theatro Municipal, dia 31 de março.

"Ave Maria do Morro" era a música que Angela mais gostava de cantar com o amigo. A canção de Herivelto Martins foi gravada por eles no álbum "Angela e Cauby ao Vivo", lançado em abril de 1993.

A artista ainda relembrou com carinho como eles se conheceram, há 67 anos, nos corredores da Rádio Nacional. Pouco depois disso, passaram a cantar juntos em uma boate até surgir a dupla. Ela também homenageou a índole do cantor. "Cauby não achava defeito em ninguém. Para ele, todas as pessoas eram ótimas". Por fim, deixou o velório muito abalada e chorando.

Velório e enterro

Depois de cerca de seis horas de velório, o caixão de Cauby Peixoto foi fechado por volta de 15h20 ao som de "Ave Maria", cantada a capela pelo tenor Rinaldo, conhecido por suas participações no Programa Raul Gil. Os fãs e amigos presentes fizeram uma última homenagem ao cantor com uma salva de palmas.

Depois, o caixão de Cauby Peixoto seguiu em um carro do Corpo de Bombeiros para o Cemitério Congonhas, onde foi enterrado às 16h10 sob um coro de seu maior sucesso, "Conceição", puxado pelo cantor português Roberto Leal.

O velório na Assembleia Legislativa de São Paulo começou pouco antes das 9h. Daniel D'Ângelo, marido de Angela Maria, e a empresária de Cauby, Nancy Lara acompanharam a chegada do corpo. A empresária Lilian Gonçalves, filha de Nelson Gonçalves, chegou logo em seguida. "Ele estava bem no começo do mês, mas com muitos problemas de saúde nos últimos anos", disse ao UOL.

Cauby foi internado no dia 9 de maio para tratar de diabetes, mas o quadro evoluiu para uma pneumonia. Até domingo de manhã, o cantor estava se comunicando, e na semana passada, fazia piadas. No momento de sua morte, às 23h50 de domingo (15), amigos estavam reunidos no quarto para uma oração.

Segundo a empresária Nancy Lara, Cauby deixou um álbum pronto e que deve ser lançado até o fim do ano.

Cantores e personalidades dão último adeus

O cantor Agnaldo Timóteo relembrou os tempos em que abria os shows de Cauby em 1961. "Ele tinha beleza e capacidade de voz raríssimas, mas seu principal legado é a democracia", disse, antes de entoar "Nossa Senhora". "Todas as duplas sertanejas que cantam [canções] românticas aprenderam com ele."

O cantor Jerry Adriani foi outro que lamentou a perda. "Perdemos a maior referência de cantor no Brasil. Com certeza o lado performático dele me influenciou. Como muita gente disse, era um mestre. Pegava qualquer canção e enchia de beleza. Essa é imagem que eu quero que vocês fiquem dele".

A senadora Marta (PMDB) afirmou que Cauby, embora fosse carioca, tinha a cara de São Paulo. "Nos 450 anos de São Paulo convidamos o Cauby para ser o símbolo da cidade."

Filho da senadora, o roqueiro Supla, que gravou com Cauby a música "Romântica", na extinta banda punk Tokyo, lembrou que o cantor é considerado o pai do rock brasileiro. "Pouca gente sabe que Cauby foi pioneiro do rock com Erasmo e Roberto Carlos como backing vocal. Vim prestar meu respeito. Cauby tinha uma voz aveludada e com influência de Nat King Cole e Frank Sinatra, Nelson Gonçalves e Bing Crosby", disse.

O pai de Supla, Eduardo Suplicy, também esteve no velório e relembrou a ocasião em que Supla foi convidado para participar do show de Cauby no Bar Brahma, em São Paulo. "Cantei junto com ele 'Blowin in the Wind', do Bob Dylan, há três anos. Quisera eu ter cantado 'Conceição'. Ele cantava de uma maneira linda. O povo brasileiro amava o Cauby. Vim dar meus cumprimentos aos familiares, amigos e fãs", disse.

Último show de Cauby Peixoto

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