Rodrigo Silveira
|
Jan Fjeld
Satisfação garantida. O Pulso selecionou para você os dez lançamentos que fizeram a diferença no primeiro ano do terceiro milênio, em várias nuances do pop. O critério da seleção é o de lançamentos de novos talentos e que não tenham a palavra "chill-out" (que virou um truque de marketing para vender música eletrônica e pop em geral para quem, em princípio, não compraria um CD de um artista desconhecido).
Como disse Charles Mingus certa vez: "Escrever sobre música é como dançar com arquitetura". Adaptando um pouco este raciocínio, seguem comentários dançantes das dez edificações musicais de maior impacto de 2001. Uma lista quase que esquizofrênica:
Air "
10.000 Hz Legend" (Source/Virgin 2001)
Bem mais pesado do que o primeiro e mais rock _ no sentido progressivo_ é este segundo lançamento da dupla francesa Air. É épico como Pink Floyd, tem camadas de teclados como Yes, mas não é mais um safári na lua. O álbum é uma mistureba de sons líquidos e gêneros variados: você já ouviu tudo em algum lugar antes, embora seja difícil apontar de onde veio ou quem eles copiaram . É doente. É música para ouvir no carro, olhando o que tiver lá fora.
Ashbury "A Dream Indoors" (Landscape 2001)
São 15 faixas das mais deliciosas e sutís melodias, a um só tempo pesadas e com batidas delirantes e profundas. A gravadora é independente e competentemente chamada de Paisagem (
Landscape). O dono, Supra, é a cabeça da banda e junto com vários colaboradores criou músicas para serem sentidas. É sombrio, para curtir numa noite quente de verão massageando o lado esquerdo do cérebro.
Ellen Allien "Stadtkind" (Bpitch Control, Germany)
Este é o debut no formato "CD cheio" da DJ berlinense Ellen Allien _a mulher que mais trabalha no mundo techno. Dona da gravadora
Bpitch, especializada em tudo que é pesado e psicótico, a moça até consegue tempo para cantar, e canta bem. Conhecida pelos seus mixes de ítalo-Disco dos anos 80 com techno berlinense, este lançamento prova que ela é a "criança da cidade" (no caso, Berlim). Electro-minimalismo para a sua pista favorita (pode até ser na sua casa). Allien não é só um nome e/ou um conceito _é uma realidade. Romântica, urbana, em sua maior parte dançante, mas às vezes é só pra curtir. Será a nova Nena?
4Hero "Creating Patterns" (Talkin' Loud 2001)
Puxado por uma nova versão da música "Lês Fleur" (originalmente na voz de Minnie Ripperton), este álbum é impecavelmente bem produzido. As batidas são secas, soam cristalinas e o vocal tem peso. Tem exuberantes arranjos de cordas, estilo "philly sound" dos anos 70 em quase todas as faixas e uma luxuosa colaboração de Roy Ayers e outra não menos luxuosa de Jill Scott. É o segundo álbum cheio da dupla Dego McFarlane e Mark Clair, e se encontra em algum lugar entre soul e hip hop com um toque de drum'n'bass. Ou é jungle mesmo, no sentido literal de mata viva? É mais acessível, mais melódico e menos impenetrável que o primeiro, "Two Pages" de 1998. Sirva gelado, acompanhado de dry martinis.
Green Velvet "Whatever"
O produtor de techno de Chicago (a cidade do vento) contemporâneo mais estranho do mundo. Você nunca viu ou ouviu nada igual. Visualmente, ele é tudo o que um cybermano almeja ser. Seu som vai desde faixas funkeadas e dançantes até as mais esquizofrênicas, como "La La Land". Veja o refrão e compreenda o que eu digo: "Something 'bout thous little pills / unreal the thrills they yield / untill they kill a million / Brain cells". Seu nome verdadeiro é Curtis T. Jones (
), e ele lança também sob o nome de Cajmere. As letras tratam de temas que vão desde pequenos homens verdes até a rotina da vida de uma molécula de água. O som é minimalista, utilizando-se muito de timbres antigos tipo Kraftwerk e com modulações e vocais em quase todas as faixas, algo raro em um disco techno. Totalmente absurdo.
Groove Armada "Goodbye Country (Hello Nightclub)" (Jive Electro/Zomba 2001)
A dupla inglesa produziu neste álbum um híbrido de batidas pesadas, de som grave e ao mesmo tempo espaçoso, cheio de arpejos e breaks, deixando espaços abertos para a imaginação. O disco tem um som quente e conta com colaboradores de peso como Richie Heavens, Nile Rodgers e Jeru de Damaja. É uma ode ao dub e ao dancehall, sendo ao mesmo tempo suntuoso e sutil.
Saiba mais sobre o Groove Armada clicando
aqui.
Talvin Singh "Back to Mine" (DMC, 2001)
Bom, não tem "chill-out" no título e nem na capa (mas tem no encarte). A idéia desta série, "Back to Mine" é usar o nome de alguém famoso (também na série, EBTG, Groove Armada e Morcheeba) para promover músicas e artistas que não têm saída comercial, vendendo rios de CDs com o selo de qualidade de um nome de griffe. Neste caso, a escolha é feita por Talvin Singh, em uma interessante mistura de batidas globais (como o delirante remix de "Mustt Mustt" do finado Nusrat Fateh Ali Khan feito pelo Massive Attack), até o mais atmosférico e ambiental (o sensual "Song of Sand II" do norueguês Nils Petter Molvaer remixado pela Rockers Hi-Fi). São 14 músicas indicadas como trilha sonora de mergulhos e para a apreciação das estrelas.
Vários "Looking Back 2" (Looking Good Records 2001)
De clássicos do gênero até faixas que só existem nas caixas dos DJs mais seletos do gênero, esta é a coletânea de drum'n'bass do ano. Nenhuma discoteca que se preze é completa sem contar com clássicos como "Connected" de Seba e "Aqqueous" de Mark J, incluídas nesta compilação. Além do mais, você ganha os recentes "Components" dos Future Engineers e "Ocean Breeze" de Rantoul. A compilação dá conta de uma vasta área sonora com as faixas mais atmosféricas e chiques do gênero.
Mais sobre o LTJ Bukem e Looking Good Records
aqui Mari Boine "Mari Boine Remixed" (Jazzland Records, 2001)
Quebrando barreiras musicais, a cantora da Lapônia Mari Boine apresenta dez remixes de dignatários do mundo fusion como Chilluminati, Jah Wobble, Bill Lasvell e alguns noruegueses como Biosphere e Those Norwegians. É puro prazer sonoro, com seu timbre cristalino de soprano, sua poderosa apresentação e as versões eletronicamente tratadas. Vai de faixas ambient até a versão no estilo deep house de Marc De Clive-Lowe. Atenção espacial para o remix que Chilluminati faz da música de Mari Boine "Gula Gula", que está no volume "Ocho" da série "Café del Mar". É maravilhosa e você vai ouvir muito. Nada a ver com a gula, pecado capital. "Gula Gula", significa "Ouça Ouça".
Wookie "Presents" (soul2soul 2001)
Um dos grandes produtores que trabalha o encontro de r&b inglês com garage dos EUA, resultando no que os britânicos chamam de
two step, Wookie é responsável pelos grandes remixes do gênero, incluindo o clássico "Sincere" de MJ Cole. Filho de mãe chinesa e pai jamaicano, Wookie mostra nestas quatro faixas (Soul2soul, Craig David, Attica Blues e Exemen) porque ele é supremo. Dane-se a crítica especializada, aqui o compromisso é fornecer divertimento para os subúrbios do mundo afora. Combina com Versace ou Dolce & Gabbana e pina coladas, mas sem a pose. Toque, por favor, novamente _é liso no tratamento, seco nas batidas, dançante e bagaceiro.
Ouça Air e Groove Armada na Rádio UOL:
» Air - Radio ?1 » Groove Armada - Superstylin