Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
O título do quinto e mais recente CD do cantor e compositor inglês, Omar, "Best by Far" ("De longe, o melhor") não é um exagero. Omar se mantém fiel ao estilo acid jazz e soul com elementos de hip hop, funk e reggae, como nos discos anteriores. Mesmo assim, a novidade fica por conta das improvisações, em clima jazzístico, o que torna o disco menos pop no formato (há poucas músicas de três minutos e meio e refrão grudento).
O álbum surpreende pelo vocal, e pelo equilíbrio na dosagem da instrumentação acústica (sopros e cordas) e programação eletrônica de baixo e teclados. Às vezes, soa como um Stevie Wonder com tratamento eletrônico atual, e às vezes parece um Jamiroquai acústico, que fosse gravado nos anos 70. "Best by far" traz onze músicas novas, uma excelente regravação (o clássico soul "Be Thankful") e duas vinhetas. Tudo com arranjos primorosos, suinge e uma despreocupação com a formato pop.
Omar não é Prince, mas é responsável por todos os arranjos e programação, além de cantar (inclusive backing), tocar teclados, percussão e guitarra. O músico consegue criar no álbum a sensação de uma jam session entre banda e orquestra.
Além do mais, a jam session é familiar. A maioria das músicas foi composta pelos pais de Omar,
Sonia e Baron Lyefook , por ele mesmo, e algumas em colaboração com sua irmã, Samia Hammer-Lyefook, que também faz backing vocal. Parceira de longa data, Samia é responsável pela maioria das composições do seu primeiro disco, "There's Nothing Like This" (
Talkin' Loud de 1991). O irmão Roland "Scratch" Lyefook faz as honras de DJ e também faz backing em várias faixas.
O repertório prima pela elaboração musical e pelo apuro vocal -Omar estudou música clássica. Apesar disso, as letras do álbum são fracas -a maioria clichês sobre situações amorosas.
O timbre da voz de Omar e sua maneira de cantar "scat" (uma forma jazzística de improvisar, cantando sílabas e não necessariamente palavras) lembram Stevie Wonder, em cujo disco "For Pleasure" participou em 94.
As faixas "Tell Me" e "Syleste" mostram a flexibilidade da voz do cantor e marcam seu diferencial com Stevie Wonder: sua voz é mais crua e mais rouca do que a de Wonder. Mas há também momentos aveludados, como na balada "In the Morning", baseada num sample da música tema do filme "Midnight Cowboy", de John Barry.
Algumas faixas são co-produzidas pelo ex-baixista do Jamiroquai,
Stuart Zender, que é também parceiro de Omar e produtor de uma das melhores faixas do disco, o funkeado "Something Real" onde Zender toca percussão, baixo e programa teclados.
Outra participação especial que vale destaque é o da cantora inglesa,
Kele Le Roc, na faixa "Como On". A pulsação é marcada por palmas e uma linha de baixo sintetizado ao fundo. Esta é, ao lado de "Something Real", a faixa mais pop do álbum.
"Best by Far" foi lançado originalmente em 2000 pela gravadora independente Naïve e
relançado em 2001. Na primeira edição, "Be Thankful" é um dueto soul com a contora Erykah Badu; na versão de 2001, a mesma faixa foi regravada em dueto com Angie Stone, mais acelerada que a primeira gravação, e com uma levada mais jazzística. São participações especiais poderosas de duas das grandes divas do
"nu-soul".
Mesmo com estas duas oportunidades de marketing - Erykah Badu e Angie Stone - para o lançamento de "Best By Far", Omar continua um artista desconhecido pelo grande público. Omar nunca fez sucesso, salve um primeiro flerte com a fama logo após o seu single de estréia. Mesmo assim, ele nunca perdeu seu rumo, nem apelou para o mercado pop.
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