Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
A dupla escocesa de música eletrônica Michael Sandison e Marcus Eoin, conhecidos como Boards of Canadá (BOC), acaba de lançar o seu esperado segundo álbum, "Geogaddi", pela gravadora independente
Warp Records (sem distribuidor no Brasil).
É um lançamento generoso com 23 faixas de fragmentos musicais, efeitos sonoros e psicodelia de audição prazerosa. Soa como um encontro entre Jean Michel Jarre,
Autechre e Radiohead da fase "Kid A".
"Geogaddi" é mais nervoso do que os lançamentos
anteriores e é mais parecido com o
primeiro single (oficial) da dupla, "Hi Scores" (Skam), de 1996, em que as batidas, os ruídos e a melancolia eram elementos mais presentes.
Apesar de serem uma referência importante no cenário de dance music, cheio de batidas nervosas e quebradas, o Boards of Canada faz música eletrônica para se ouvir
deitado. "Geogaddi" traz até algumas músicas com batidas ou pulsações, mas não é para incendiar a pista: é música para ouvir de olhos fechados ou, como indica a referência na capa de "Geogaddi" que traz uma imagem de um caleidoscópio, é música para a imaginação.
Os títulos dão pistas do clima das faixas: "Music is Math" lembra a faixa antológica "Turquoise Hexagon Sun" do seu primeiro álbum, com suaves "bleeps" que formam a melodia em cima de uma batida de sons sintetizados, que lembram uma queda d'água.
Visite o seu site para ter uma idéia. Estão lá 18 das 23 faixas, acompanhadas de belas imagens psicodélicas -a maioria de paisagens- feitas pelo duo.
Outros títulos do álbum são "Gyroscope", "Dandelion", "Sunshine Recorder", "The Beach at Redpoint", "Alpha and Omega" e "I Saw Drones". Todas são paisagens sonoras de texturas digitais que se desenvolvem lentamente. Pelo que parece, o Boards of Canada prefere uma noitada ao lado de uma fogueira, numa praia distante, sob um céu estrelado, ao agito de um clube barulhento, esfumaçado e lotado de gente.
A
aversão ao mundo dos clubes também está manifesta pela ausência da dupla na imprensa. São raras as entrevistas e apresentações ao vivo -deram apenas uma entrevista para lançar seu álbum, para o semanário inglês New Musical Express em fevereiro último.
Salvo uma ou outra apresentação nos festivais de música eletrônica, o Boards of Canada não se esforça muito em trazer o seu show de sons e imagens para o público. Para os interessados, o próximo grande festival do qual eles devem participar é o "
All Tomorrow's Parties" na Inglaterra, no primeiro trimestre de 2003.
A melancolia de "Geogaddi" está nas vozes de crianças cantando, conversando e chorando. Vozes que estão presentes em toda a discografia da dupla. E, como em todos os seus lançamentos, as faixas são criadas a partir de fragmentos de sons, de interferências de rádio, de vento, de ondas, de pessoas conversando (muitas vezes tocadas ao contrário), sempre com camadas de bases eletrônicas sobrepostas.
O Boards of Canada continua fazendo uma estranha mistura sonora, que pode soar
retrô, mas que é de
vanguarda.
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