Lucinda Williams têm algo a dizer sobre o amor, as relações, o tesão e a solidão. As letras da cantora e compositora norte-americana tratam estes assuntos de uma forma direta, literária e são embaladas por um rock básico e comovente, com elementos de folk e country.
Sua voz é tão emocionante que ao entoar os versos singelos da canção "Lonely Girls" ("garotas solitárias"), chega a dar vontade de chorar. Lucinda Williams é uma versão feminina de Leonard Cohen.
Williams faz música de raiz. O acompanhamento é baseado em duas guitarras, violão (o dela), baixo, bateria e ocasionalmente teclado. Mas Williams é rock demais para o mundo country, country demais para o mundo do rock e não se encaixa no mundo folk -é o
country alternativo. Uma categoria só dela, ou talvez de outros artistas como Billy Bob Thornton.
Na falta de uma categoria definida para encaixar o seu trabalho reflexivo e introspectivo, Williams já faturou três prêmios Grammy em categorias diferentes.
O primeiro, de 1993, pela música
"Passionate Kisses", gravada por Mary Chapin Carpenter, na categoria "Melhor Canção Country". O segundo, na categoria "Melhor Disco Folk", em 1998, pelo seu primeiro álbum de sucesso comercial, "Car Wheels on a Gravel Road". E o mais recente pela canção "Get Right With God", na categoria "Melhor Cantora de Rock" do álbum "Essence", que está sendo lançado no Brasil este mês.
"Essence" (Lost Highway, 2001 / fnm 2002) é a obra prima de sua pequena discografia de apenas seis álbuns, em quase trinta anos de uma carreira marcada pelas brigas com produtores e gravadoras que queriam opinar sobre seu trabalho, sua voz e seus arranjos. Williams sempre soube como queria que sua obra soasse. "Essence" traz 11 canções de sua autoria, sempre com uma linguagem caudalosa, direta, embora nunca piegas ou comum.
Na faixa título, "Essence", há algo da sofisticação do country pop de Fleetwood Mac, na introdução da guitarra arrastada e ao mesmo tempo épica. A faixa lembra até o dueto de Stevie Nicks e Tom Petty em "Stop Draggin' My Heart Around", de 1981.
É uma canção com tesão, com desejo carnal mesmo. Abre com o pedido: "Baby, Sweet Baby/You're My Drug/Come on and let me/Taste Your Stuff" (algo como "meu doce amor, você é a minha droga, deixe-me provar o seu barato"). Com voz rascante, Lucinda canta: "Baby, Sweet baby can't get enough, Please come find me and help me get fucked up" (numa tradução livre: "meu doce amor, não foi o bastante, venha me achar, me ajude a ficar chapada").
Numa outra faixa, "Out of Touch", Williams canta sobre a tensão no reencontro com um ex-amante: "We speak in the past tense and talk about the weather. Half broken sentences we try to piece together" (ou "falamos sobre o clima com verbos no passado, sentenças incompletas que tentamos emendar"). A faixa "Bus to Baton Rouge" está para o country alternativo assim como "Missing" do Everything But The Girl está para a música pop -uma triste canção sobre o amor desviado.
Com uma voz que soa alienada e dolorida, com uma certa cadência sulista de dicção aberta e arrastada, Lucinda só solta o vozeirão em uma das onze faixas do álbum, justo na que lhe rendeu um Grammy na categoria rock: "Get Right With God". A cantora Emmylou Harris escreveu sobre Lucinda em um perfil para a revista Time: "sua voz é tão devastadora e emocionante que ela poderia cantar a lista telefônica".
Filha de pai
poeta e mãe pianista, Williams cresceu viajando pelas Américas, tema também recorrente em suas canções. Conviveu em casa com os poetas da geração beat Allen Ginsberg e Charles Bukowski, citados como influência. Outras influências são Bob Dylan, Jim Morrison e até Astrud Gilberto.
Lucinda não joga palavras fora e não se reprime na hora de cantar sobre a sua vida íntima, fazendo o seu cancioneiro de músicas sobre os rituais de amor, de dor, de perda e de fé. "Essence" traz algo que podemos acreditar ser a sua essência.
» Ouça
Lucinda Williams na Rádio UOL
» Visite o
site oficial de Lucinda Williams