Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Um dos mais interessantes criadores e DJs da música eletrônica atual,
o inglês Richie Hawtin faz música para pista desde o início dos anos 90. Propagador do estilo tecno minimalista, clínico e melancólico de
Detroit, Hawtin também ficou conhecido por seus trabalhos sob os nomes Plastikman e F.U.S.E. Em seu mais recente lançamento
tradicional, DE9, "Closer to the Edit" (novamute, 2001), Hawtin radicalizou: fez uma peça de 53 minutos de música para ouvir em casa, no seu fone de ouvido, no carro e não necessariamente para movimentar os pés numa pista de dança.
De certa maneira, o Hawtin fez pelo tecno com "Closer to the Edit" foi o que Rick Wakeman fez com o rock progressivo "Journey to the Center of the Earth" (1974): ampliou o horizonte de um gênero estagnado. Mesmo de formas opostas, ambos os lançamentos trouxeram novos elementos, tecnologia e novas formas de trabalhar.
No caso de Hawtin, a sua produção em "Closer to the Edit" é bem mais hermética do que a de Wakeman, há quase trinta anos. A produção de Wakeman é autoral, de um criador. A de Hawtin questiona a idéia de criação pelo uso de tecnologia. Wakeman acrescentou uma orquestra, um coral - algo ousado até então - à sua parafernália eletrônica e o uso particular do sintetizador para fazer algo inédito com uma banda de rock.
O conceito do Hawtin em "Closer to the Edit" é o contrário. Ele vai limpando, tirando elementos e usando apenas trechos e loops das produções (muitos das quais de autoria própria) que ele escolheu para mixar, como um comentário sobre o ato de fazer música em si e sobre a autoria. Embora utilize algo criado pelos outros, na sua mixagem o produto final vira algo novo.
Junto com
John Acquaviva , o seu parceiro no seu selo +8, Hawtin é um pioneiro da música, mas também na invenção de tecnologia para fazê-la. As suas ferramentas vão do arcaico vinil até a última palavra em parafernália eletrônica, como o revolucionário
FinalScratch , uma ferramenta que ele mesmo ajudou a desenvolver.
"Closer to the Edit" é um disco de remix de um DJ, e, até aí, nada especial. O que faz a diferença neste caso são as faixas (segundo ele, pontos de id do CD) que são alternadas muito rapidamente. A batida é bem pesada - embora não necessariamente anime uma pista de dança - e é feita para ouvir, prestar atenção nas nuances de ritmos, nas diferentes sonoridades, nos espaços abertos e nos trechos de silêncio no som.
Richie Hawtin explica no encarte do CD como ele concebeu "Closer to the Edit":
"Depois de gravar, samplear, editar, combinar e reduzir mais de 100 faixas a seus elementos mais básicos, fiquei com uma coleção de mais de 300 loops variados, com amostras de uma nota só até quatro compassos. Aí comecei a recriar e reinterpretar cada faixa, juntando estes pedaços (os loops) como se fossem um quebra cabeça de áudio -usando efeitos e edições como se fossem a cola entre cada pedaço. Esta peça de 53 minutos, que consiste de mais de 70 faixas e 31 pontos de ID, representa o que estes loops se tornaram e como a sua interação criou algo que não existia anteriormente".
"Closer to the Edit" é uma progressão do seu CD de remix anterior, "Decks, EFX & 909" (novamute, 1999), em que Hawtin mostra no encarte, graficamente, como ele fez o seu mix: literalmente um mapa da utilização de 38 faixas diferentes (também editadas) para fazer um set de 61 minutos, juntamente com efeitos e uma clássica bateria eletrônica 909, como diz o próprio título.
Este sim é para pista, e não tem troca de trechos e loops tão rápidos como em "Closer to the Edit". Ambos os lançamentos, entretanto, têm a marca característica de Hawtin: um tecno preciso, que parece ser feito em laboratório e cujo cerne é uma linha estilo acid (utilizando equipamentos "vintage" como Roland TB-303, TR 808 e 909) que se desenvolve lentamente.
(*) O título é inspirado no trabalho de webart da artista plástica Giselle Beiguelman chamado "O livro depois do livro". Este trabalho é sobre literatura, leitura e mídia no contexto da Internet. Tem como foco narrativas não-lineares, trabalhos que conferem à linguagem de programação conteúdos textuais e estéticos e criações que discutem e problematizam a condição do livro e do leitor. Hawtin discute de uma forma similar, a criação e a condição da música e do ouvinte no contexto da tecnologia e, particularmente, o uso de samples com o seu "Closer to the Edit". » Visite o
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O Theorem THX » Visite o site do
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