Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Os portugueses do Madredeus estão aproveitando o momento de sucesso comercial de qualquer coisa que pode ser chamada de "lounge" ou "chill music" para lançar uma coleção de remisturas (adota-se aqui a palavra usada em Portugal para "remixes") feitas por um naipe de produtores, músicos e DJs da cena eletrônica atual. Com as suas surpreendentes e belas faixas remisturadas, "Madredeus Eletrônico" (EMI, 2002) pode facilmente ser encaixado nestes gêneros. Além de pós-moderno, o novo álbum é também beleza pura.
Trata-se mais de adicionar elementos eletrônicos do que copiar e colar as bem-construídas faixas originais. O álbum traz 13 remisturas de
Alpha,
Craig Armstrong, Dusted (Faithless) e Ralf Meyerz, entre outros, que valorizam e respeitam os instrumentos acústicos tradicionais (violão e violoncelo), além da voz soprano e cristalina de Teresa Salgueiro.
O grupo português, que ficou conhecido pela sua bela trilha sonora para o filme "Lisbon Story" (Céu de Lisboa) do alemão Wim Wenders, sempre andou na linha fina entre dar uma nova cara para a música tradicional de Portugal, especialmente o fado, e criar
canções essencialmente acusticas e belas para cordas (hoje um quinteto) e voz. O nome do grupo vem do primeiro lugar em que eles se encontravam para ensaiar, em meados dos 80, numa ala do antigo Convento da Madre de Deus, em Xabregas, na zona oriental de Lisboa. Vem daí o sentimento de solidão que permeia as músicas de Madredeus.
Um bom exemplo é a melancólica "Haja o que houver", na versão da dupla de produtores ingleses
Lux, que abre o álbum com a atmosférica interpretação produzida em Ibiza. Também produzida em Ibiza é a remistura da música "A Lira", do álbum "Manifesto" (EMI, 2001), de Afterlife. A voz pura de Teresa Salgueiro ganha eco, reverberação e uma cozinha eletrônica com efeitos dub. Dá pra ouvir os ventos quentes provenientes do continente africano trazendo o calor para o ensolarado mediterrâneo ibérico. Canta Teresa: "Fui ao mar e não vi nada, nem sequer onde estava, só ouvia a solidão da cantiga que eu cantava". Também do álbum "Manifesto" há a faixa "Ecos no Catedral", cuja remistura vira uma misteriosa versão com sussurros e ecos.
"O Paraíso" é a faixa-título do álbum de 1997, que na versão do produtor belga Dirk Swartenbroekx (cujo alter ego é Buscemi) virou um afro-house com batida agradável. É a faixa mais animada do álbum, embora não seja para pista. O clima é de melancolia e introspecção, com as várias entradas e saídas da voz de Teresa.
Cirar novas versões eletrônicas poderia ser puro artifício para dar nova vida às carreiras artísticas estagnadas ou até esquecidas. Mas este não é o caso de Madredeus. O grupo está em pleno vigor e com até agora dez lançamentos, tem vendido acima de três milhões de CDs para um público fiel no seu país de origem, na Europa em geral e também aqui no Brasil.
O grupo sempre se preocupou em trazer uma nova experiência sonora aos seus muitos ouvintes, e o "Madredeus Eletrônico" amplia ainda mais este universo experimental com o seu tratamento e ritmos eletrônicos. Em geral, o clima triste de solidão nas versões originais vira melancolia nas remisturas, dá uma roupagem contemporânea para a língua portuguesa e é beleza pura. Deve trazer ainda mais ouvintes interessados em conhecer melhor este universo essencialmente português, que através da sua belíssima melancolia toca em algo reconhecível nos quatro cantos do mundo.
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