Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Parece, mas não é. A frase resume o espírito do terceiro CD, "Death by Chocolate", do grupo alemão De-Phazz, que está saindo neste mês no mundo todo. São 16 faixas originais, sem samples, embora você tenha a sensação de ter ouvido todas elas em uma outra ocasião. Conta com músicos e instrumentistas competentes, embora nenhum se destaque (salvo os vocalistas) nesta produção impecável, melodiosa e agradabilíssima.
Cheio de fragmentos sonoros, pedaços de vocais e instrumentação jazzística, o álbum é uma brincadeira suave situada no universo do
acid jazz, com letras que fazem referências irônicas ao mundo pop.
Formada pelo produtor e músico
Pit Baumgartner em 1997, De-Phazz não é uma banda no sentido tradicional. Além do próprio Baumgartner, um meticuloso produtor, a base da banda nestes três álbuns (todas pela gravadore
Mole) tem sido Karl Frierson e
Barbara Lahr nos vocais, e Otto Engelhard no trombone e teclados. Outro colaborador fixo é o percussionista e vocalista Roy George Randolph, que é metade cubano (e que mostra isso na faixa título e em "Roy's Choice").
A faixa de abertura, "Heartfixer", tem um naco de vocais (não sampleados) que lembram Billie Holiday. O som parece o acid jazz do
Us3, mas de súbito surge um break ambiental, mais parecido com trilha sonora de um drama existencial do que o clima jazzístico predominante no disco. Parece nova bossa (não bossa nova!) com elementos de drum & bass, embora não seja nem uma, nem outra. O som é percussivo, com elementos de dub, mas não é latino, reggae, nem tribal.
Na faixa "Something Special", a vocalista
Pat Appleton brinca: "If there's no chance to reach you / no bridge, no boat, no stones / then I would swim the waters / just like Brian Jones" (Se não houvesse chance de te encontrar / nenhuma ponte, nenhum barco, nem pedras / eu nadaria nas águas / assim como Brian Jones)". Num outro trecho: "If I should ever lose you to / someone else one day / I'll sure be diplomatic just like Cassius Clay" (Se um dia te perdesse / para alguém /
certamente seria diplomática assim como Cassius Clay). Fica a graça da letra; a música lembra o circo sonoro do
Kid Creole & The Coconuts e não é muito original.
"Online" é uma lânguida canção com breaks de trompete com surdina, em que Appleton brinca com a semântica do amor na era cibernética. O refrão é um sussurro no vocoder: "Well, you've got to meet me online /
Disconnected for a long time / Well, you've got me meet me online / Download you for a lifetime (Bom, você precisa me encontrar na rede / Desconectada por muito tempo / Fazer o seu download por toda a vida)".
A faixa título, "Death by Chocolate", segue na mesma linha lânguida com orquestração exuberante e em clima lounge, mas sem o vocal de Appleton. Esta canção, assim como "Online", conta com uma produção límpida e
sofisticada de ar retrô e chic. É a trilha perfeita para um dry martini à tarde, num bar da moda. Já em "Trash Box", o vocal de Pat Appleton anima um pouco mais, e dá até vontade de mexer com a azeitona do dry martini.
O vocalista Karl Frierson mostra o seu canto em falsete nas faixas "Sabbatical", "Jim the Jinn" e "Maybe San José". Esta última, uma brincadeira com "Do You Know the Way to San José" de Burt Bacharach: "Leading me on my way / And maybe I'll go to San José (Me guiando em meu caminho / Talvez vá até San José)". É um mambo que até lembra o "Jazz Music" do segundo CD da banda, "Godsdog" de 1999, em que Frierson também canta.
Em "Sabbatical", Frierson canta com ar de superioridade que: "I must admit I'm getting tired / of sitting on my cloud (Tenho que admitir que estou cansado / de ficar na minha nuvem)". A brincadeira nem sempre tem
graça.
Crítico, músico e autor, o inglês
David Toop, fez uma observação sobre a música contemporânea em geral que vale para a música de De-Phazz em particular: "a música, no futuro, certamente será de híbridos de híbridos, de tal maneira que a idéia de rastreá-la para achar sua origem será um anacronismo".
As canções do "Death by Chocolate" são todas inéditas, a maioria delas é de autoria dos próprios integrantes. Talvez a origem das canções, ou mesmo sua inspiração, não importem. O único problema é que a maioria delas pode soar manjada demais.
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