Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Instrumentos indianos tradicionais, como
cítara,
tabla,
bansuri e
sarangi (veja glossário abaixo), fornecem uma coloração sonora sensual e uma batida hipnótica à música eletrônica atual. As novas estrelas que trabalham este universo não vêem a música indiana como algo exótico, étnico ou curioso, mas utilizam sem pudor e com propriedade este elo acústico com o passado para fazer o chamado
"Asian Massive".
São indianos nativos ou ingleses de origem indiana, com idade entre vinte e trinta e poucos anos, que filtram, sintetizam, sampleiam, e misturam o virtuosismo de músicos da tradição clássica indiana com seu virtuosismo tecnológico. Abram alas para Talvin Singh, Nitin Sawhney, Karsh Kale e Badmarsh + Shri.
Talvin SinghLondrino de pais indianos, Singh é um inovador e uma das figuras centrais na mistura hipnótica do ritmo indiano bhangra com a batida quebrada do drum'n'bass. Causou furor no cenário pop inglês com o lançamento de "Anokah - Soundz from the Asian Underground" (Mango/Island 1997). Além de faixas de autoria própria o disco trazia também trabalhos de outros artistas como The State of Bengal (ou Sam Zaman cujo irmão, MC Deedar é um dos fundandores do Asian Dub Foundation). Colaborou nos dois primeiros lançamentos da Björk, "Debut" e "Post".
O seu primeiro álbum solo, "OK" (Island 1998), ganhou o prêmio Mercury naquele ano. "OK" tem elementos de drum'n'bass, mas sem peso excessivo nas batidas, e está mais para trilha sonora do que para pista. O seu segundo álbum solo "Há" (Island 2001) é mais acessível, mais pop, mas ao mesmo tempo o mais experimental. Inclui até duas faixas em 4/4, tech-house, um gênero que o próprio Singh tem chamado de "limitado" em várias ocasiões.
Nitin SawhneyAo lado de Talvin Singh, Sawhney é um dos artistas euro-asiáticos de maior destaque. É o Sting da nova onda asiática -não pelos clichês musicais, mas pelo seu envolvimento com causas ecológicas e sociais. Os créditos musicais incluem colaborações com o acid jazz de James Taylor Quartet, composição de músicas para Sinead O'Connor e remixes para Sir Paul McCartney.
Sawhney está no seu quinto álbum solo, "Phropesy" (V2/Sum 2001), que é mais pop do que os seus anteriores. É mais atmosférico na produção e ao mesmo tempo melodioso na construção, com batidas mais lentas e elementos de bossa nova.
A maioria das faixas tem vocais em inglês, espanhol e indiano. Duas faixas de destaque são as belíssimas colaborações com a vocalista brasileira da banda Smoke City, Nina Miranda, nas faixas "Moonrise" (gravado no Rio) e "Walk Away". É tabla bossa.
Outro colaborador de peso é o indiano Trilok Gurtu, percussionista da formação clássica, considerado um dos melhores e mais influentes músicos da atualidade. Gurtu, junto com o South Indian Full Harmonic Orchestra e Bollywood Strings fornecem o toque indiano tradicional.
No encarte, Sawhney declara que o seu objetivo é quebrar as barreiras culturais entre o clássico e o novo, o Oriente e o Ocidente, o erudito e o popular. Na introspectiva "Acquired Dreams", um piano elétrico trilha uma melodia singela, e é interrompido por um arranjo grandioso de cordas digno de clímax de filme épico.
Karsh KaleApesar de suas colaborações como instrumentista e produtor de remixes de Sting, The Cure, Paula Cole e Baaba Maal, Karsh Kale é mais conhecido por suas colaborações mais experimentais com DJ Spooky e Bill Laswell.
Tocador de tabla, Kale nasceu em Londres, filho de pais indianos, mas desde pequeno mora nas cercanias de Nova York, EUA. Trabalhou com artistas variados como, é claro, Talvin Singh (no primeiro "OK"), o músico de trance marroquino Hassan Hakmoun e até com Herbie Hancock. Lançou um maxi single de material próprio com o curioso título de "Classical Science Fiction from India". Este título é uma boa indicação do que a sua estréia como artista solo, "Realize" (Six Degrees, 2001), oferece. É ambient drum'n'bass com bansuri (flauta indiana), sarangi e muita tabla.
O álbum conta com notáveis colaboradores como Ajay Prasanna no bansuri e o maestro de sarangi Sultan Khan, além da vocalista Gigi da Etiópia que canta em amárico (língua oficial da Etiópia) na faixa "Satellite". Não se preocupe em entender a letra. A hipnótica batida de tabla eletrônica e o duelo entre o sarangi e o bansuri já garantem sua audição.
"Realize" puxa os limites entre o clássico e a vanguarda com o foco mais na instrumentação acústica. O álbum insinua batidas indianas e as suas texturas sensuais -mesmo com formato de música pop e tratamento eletrônico- aumentam o efeito dos ritmos tradicionais indianos. Funciona em São Paulo e Bombaim. É para pista, é viajante e belo. A tabla é um instrumento ancestral, mas através do tratamento do Kale fica novo e surpreendente. Destaque para todas as 13 faixas.
Badmarsh + ShriÉ uma dupla formada por um DJ e um tablista/baixista, com base em Londres. Parece que é preciso morar na Inglaterra para conseguir produzir essa mistura eficaz de baixo pesado, com muita percussão, ao ritmo do bhangra, ragga, e até reggae de raiz, embora a maior parte do repertório dos dois lançamentos da dupla seja essencialmente drum'n'bass.
Como para a maior parte desta nova geração, o tablista Zakir Hussain é uma forte influência, mas Badmarsh + Shri incorporam a ela até elementos de heavy metal. Hussain é filho do tablista Ustad Allah Rakah, um colaborador de longa data de Ravi Shankar.
Badmarsh é o DJ e o mais inglês da dupla. Nasceu na Inglaterra, de mãe e pai indiano. Trabalhou como assistente de vários estúdios (na maior parte deles acompanhando gravações de reggae) e pegou o gosto pela produção e a mistura que a discotecagem oferece.
O primeiro lançamento da dupla, "Dancing Drums" (Outcaste 1999) é mais percussivo do que o recente "Signs" (Outcaste 2001) e mostra mais a influência do bhangra e a ligação com o ragga e o dancehall que a dupla possui.
Shri, nativo de Bombaim, toca tabla desde pequeno, e mais tarde se aperfeiçoou na flauta e no baixo elétrico. Chegou em Londres em 1994, onde tocou cinco anos com Nitin Sawhney (também produtor do seu primeiro álbum solo, "Drum the Bass", Outcaste 1997).
Shri fornece linhas de baixo que Badmarsh sampleia e processa eletronicamente. Shri é também um bom tablista e produz um som com baixo pesado e camadas de percussão (tabla eletrônica) filtrados, loopados e misturados com bateria eletrônica. É polirítmico, é tabla jazz e é exuberante.
Os instrumentos:Cítara - O mais conhecido dos instrumentos clássicos indianos que chegou ao mundo moderno ocidental principalmente através de Ravi Shankar. É um instrumento de cordas com braço comprido e trastes, cuja caixa acústica é uma espécie de cabaça. O número de cordas (e trastes) varia, mas o mais comum é 17. A escala é bem diferente da ocidental (distinta da do violão, por exemplo) por conter mais notas. Em geral, apenas quatro destas cordas são tocadas, e as outras ressoam juntas.
Tabla - Instrumento de percussão formado por dois tambores de tamanhos diferentes. Geralmente são afinados conforme a música que é tocada, e sua afinação é ultra sensível, o que faz os tablistas terem de afinar o instrumento a todo instante. O tablista senta com as tablas na sua frente, com a mais grave à esquerda e a mais aguda para a direita, no caso de um destro. A superfície de cada tambor produz sons bem diferentes dependendo do local em que se bate. Em razão disso, os tablistas tocam não com as mãos, mas mais especificamente com os dedos. A base da mão é utilizada no caso de sons graves.
Sarangi - Espécie de cítara tocada com arco, como um violoncelo. Possui uma camada extra de cordas que produz um zumbido que acompanha a melodia principal quando as cordas principais são tocadas. É usado como instrumento solo e para acompanhar vocalistas. O instrumento tem um impressionante dom de reproduzir o som e a textura de voz.
Bansuri - Flauta feita de bambu ou de cana que cobre três oitavas e tem uma sonoridade muito parecida com suas primas do Oriente Médio e até uma certa similaridade com o pífano brasileiro.
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