Mulheres com deficiência fazem sucesso com grupo pop na Austrália
Cinco mulheres com dificuldades cognitivas estão com a agenda cheia tocando em um grupo de música pop na Austrália. Mais que a fama, as cinco buscam, através de suas letras, compartilhar suas experiências com o público.
Annika, Michelle, Jackie, Aimee and Caroline vivem em Adelaide. Elas se conheceram em 2010, quando cantaram juntas em um coral dirigido pela Tutti, uma organização que apoia artistas com deficiências. A Tutti percebeu nelas o talento e as convidou para formar um grupo. Agora, as cinco se apresentam duas ou três vezes por mês, principalmente em conferências.
Michelle, de 25 anos, tem paralisia cerebral e uma leve deficiência de aprendizado. Ela diz que o nome The Sisters of Invention foi escolhido "porque somos como irmãs e apoiamos umas às outras no palco e fora dele".
"A parte da invenção é porque estamos tentando mudar a opinião das pessoas sobre deficiência. Estamos reinventando as regras", diz Michelle.
Afirmação
A canção de estreia, "This Isn't Disneyland", tem por objetivo mostrar que as jovens são adultas, não mais crianças. "Isso aqui não é a Disneylândia. Eu não sou uma novidade: mais real do que é isso é impossível", diz a letra.
A canção foi escrita como uma resposta irritada a um assistente social que sugeriu que elas só deveriam se apresentar para crianças de escola. "Saí da escola anos atrás, acho que você deveria saber", afirma outro trecho da música.
O clipe da faixa reforça a mensagem. Começa com as cinco vestidas como princesas da Disney segurando brinquedos. Ao final, as asas da Sininho são quebradas, o cabelo de Rapunzel é cortado e todos os brinquedos são jogados fora.
"A mensagem é que não queremos ser tratadas como crianças com deficiência", diz Aimee, de 28 anos, que tem síndrome de Williams, uma condição genética que traz, frequentemente, uma afinidade com a música. "Somos apenas pessoas", diz ela, "antes de sermos pessoas com deficiência".
Annika, de 28 anos, cega e com uma afinação perfeita, diz que as meninas sabiam ser capazes "de muito mais do que o assistente social achava".
Uma canção, "Chaos And Serenit"y (na tradução: "Caos e Serenidade"), relembra o tempo em que Annika estava na escola e recebeu mensagens contraditórias sobre suas habilidades. Seus pais sabiam que ela poderia ir longe na vida, diz ela, mas a escola não concordava. "A diretora ficava dizendo a meus pais que eu não conseguiria aprender, mas eu provei que ela estava errada", diz Annika.
Outra faixa, "Tsunami Of Kites" ("Tsunami de Pipas") veio dos sentimentos de Jackie, de 25 anos. Ela era próxima de um primo que se matou.
'Ouro criativo'
Todas as dez músicas do álbum são baseados em experiências das integrantes e foram escritas pelo grupo em seus encontros semanais duas vezes na Tutti. "Chegávamos de manhã e eu perguntava: 'Sobre o que vocês querem falar hoje?'", diz o empresário e produtor Michael Ross. Ele anotava tudo o que era dito até as letras ganharem forma. "Vinha muita poesia delas", diz Ross, que fez com que elas entendessem exatamente como suas palavras seriam usadas mais tarde.
Construir obras por meio de conversa é comum em grupos de artes para pessoas com deficiência: uma boa maneira de expressar o que os participantes realmente querem dizer. O produtor diz que expôr "sua verdade" é importante. "Eu não estou nem um pouco interessado na deficiência delas", diz ele. "O que me interessa é que começamos a ver o mundo através de uma lente pela qual as pessoas na cultura pop quase nunca veem. É ouro criativo."
Opções individuais
Quando as Sisters tocam, o lado físico das suas deficiências fica mais aparente. Aquelas que têm dificuldades para dançar ou se mover no palco ficam sentadas, Ross diz, "porque elas não estão lá para mostrar suas barreiras ou dificuldades - eles estão lá em cima para mostrar seus pontos fortes".
Embora as decisões criativas sejam feitas em conjunto, o que vestem é opção individual. "Eu gosto de usar calças esportivas", diz Jackie, que descreve seu estilo como semelhante ao do hip-hop. "Eu gosto de glitter e coisas sexy", diz Aimee, que se veste mais como um artista de cabaré. Michelle se diz "inteligente e moderna", e usa cadarços que combinam com sua blusa rosa choque. Annika, que não enxerga, diz que recebe ajuda da mãe para escolher as roupas. Caroline, dançarina de 29 anos, compra suas roupas em viagens pelo mundo com seus pais.
As meninas vêm aprimorando seu som e sua imagem há mais de três anos. Neste ano, o grupo começou a fazer sucesso, com suas músicas disponíveis para download e a agenda cheia.
A maioria dos shows do The Sisters of Invention ocorre em eventos corporativos, onde o público busca "alguém para inspirá-los", diz Michael Ross. Ele faz questão de destacar que o grupo existe, acima de tudo, com uma proposta artística. "Não nos irrita ser fonte de inspiração. Se você ficar inspirado pela fantástica realização artística delas, tudo bem", diz Ross. "Mas não se inspire só porque alguém que não pode andar como você consegue lembrar seu próprio nome."
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