O ano é 1973. A música de abertura que toca é o tema do filme "2001 - Uma Odisséia no Espaço", produção de 1968. Elvis Presley se prepara para subir ao palco e cantar "See See Rider". O que se vê é sua silhueta por trás de um enorme tecido branco, apressando-se para puxar a peça e revelar uma banda escondida. Cai o pano. É 2012, e Elvis está em cena.
Em toda a sua vida, Elvis Presley fez apenas cinco shows fora dos Estados Unidos (em três cidades canadenses, em 1957). E, graças à tecnologia, o Rei do Rock chegou nesta segunda-feira (8) a São Paulo, depois de
passar por Brasília no sábado (6) pré-Eleições. A turnê Elvis In Concert que está no Brasil --com mais três shows na capital paulista e um no Rio de Janeiro-- coincide com a celebração de 35 anos de morte do cantor, mas o que se viu no Ginásio do Ibirapuera foi muito próximo de uma lenda viva.
Mais do que apenas um show, o evento é uma interessante experiência de pouco mais de 2h de duração. No palco, cerca de 30 músicos funcionam como a engrenagem do espetáculo, enquanto a atração principal se movimenta em um grande telão de LED. Ainda que não haja grandes efeitos ou cenários arrebatadores, não é tão diferente ou distante dos grandes shows em estádios de hoje em dia, onde se consegue ver mais o artista em telões posicionados estrategicamente do que o próprio no palco.
A configuração de plateia com cadeiras faz com que o público se limite a assistir aquilo que é mostrado --o que, por vezes, amplifica ainda mais a sensação de estar frente à um DVD. A proposta é apreciar, e não propor um show de rock para dançar, como bem fazia Elvis Presley. Foram poucas as músicas que fizeram a plateia se levantar e entrar no clima rock and roll, como "Johnny B Goode". Outras tantas canções, no entanto, deixaram olhos lacrimejantes e semblantes emocionados, como a interpretação de "My Way".
Repertório e banda original
O repertório da turnê resgata trechos extraídos do material filmado para os documentários "Elvis, That's The Way It Is" (de 1970); "Elvis on Tour" (de 1972) e do clássico especial de TV "Elvis: Aloha from Havaí, Via Satellite" (de 1973). É deles que saem performances bem humoradas e cheias de gingado do Rei do Rock, que interage com a plateia com sorrisos e olhares, e recebe de volta gritos e aplausos entusiasmados.
Mas o critério para uma música entrar no show vai além da excelência no palco: as canções escolhidas são aquelas que deveriam ter, necessariamente, gravações com separação de faixas, no sistema chamado multi-track. Só assim os produtores seriam capazes de deixar de fora todos instrumentos registrados na época, isolando apenas o som do microfone de Elvis.
Enquanto os vocais de Elvis foram eternizados pela tecnologia, a vivacidade da banda que o acompanha impressiona. A sintonia supera o ensaio cronometrado, em que precisam casar com perfeição o som com cada gesto de Elvis nos vídeos. A banda não para. Não há intervalo entre uma música e outra. Eles estão sempre preparados para entrar em cena.
Uma das ofertas mais curiosas do evento é a possibilidade de ver alguns dos músicos da banda de Elvis em duas etapas: antes (pelo telão) e hoje (ao vivo no palco). O guitarrista James Burton, um jovem sorridente que aparece nas imagens dos anos 70, segue hoje com presença dominadora no palco, enquanto Ron Tutt, que tocou com Elvis de 1969 até sua morte em 1977, golpeia sua bateria de pedal duplo com a mesma energia vista nos vídeos.
Estão lá também o pianista Glen Hardin, o baixista Norbert Putnam e o diretor musical Joe Guercio, juntos com a backing vocal Estelle Brown (ex-integrante do grupo Sweet Inspirations) e os cantores Joe Moscheo e Terry Blackwood (originais dos Imperials, quarteto gospel que trabalhou com Elvis entre 1969 e 1971).
Entre as passagens mais divertidas do espetáculo está "Love Me Tender", quando Elvis atiça um festival de selinhos nas jovens da plateia que o assistiam na época. O medley de "Don't Cry Daddy" com "In The Ghetto" rememora fotos de infância, tanto de Elvis quanto da herdeira Lisa Marie Presley ao lado pai.
Os brasileiros talvez sintam falta de canções que fizeram grande sucesso por aqui, como "Always On My Mind" e "It's Now or Never", mas estão lá outros tantos hits: a versão para "Johnny B. Goode", "Heartbreak Hotel", "All Shook Up", "My Way" e a obrigatória "Suspicious Mind", essa última como se fosse a dona da noite, que faz todo o público se levantar para aplaudir.
Ainda que o cantor esteja apenas num telão, nenhum show de cover ou imitação de Elvis chegará perto da experiência que é ver a afiada banda que o acompanhou em sintonia de celebração. E, sem bis, Elvis deixou o prédio.
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