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Gossip surpreende e Kings of Leon faz show correto no encerramento do festival Planeta Terra

A banda The Gossip tocou de Tina Turner a Stones, passando por Madonna e Ramones, em seu show no Planeta Terra (20/10/2012) - Reinaldo Canato/UOL
A banda The Gossip tocou de Tina Turner a Stones, passando por Madonna e Ramones, em seu show no Planeta Terra (20/10/2012) Imagem: Reinaldo Canato/UOL

Estefani Medeiros<br>Mariana Tramontina<br>Natália Guaratto

Do UOL, em São Paulo

20/10/2012 23h19Atualizada em 22/10/2012 15h33

Foi cantarolando o indefectível "oioioi", trecho da música-tema da novela "Avenida Brasil", que a vocalista da banda Gossip, Beth Ditto, entrou no palco alternativo do Festival Planeta para surpreender e encerrar a noite deste sábado (20). Em nova casa, agora no Jockey Club de São Paulo, a edição 2012 do evento recebeu cerca de 30 mil pessoas, segundo a produção. Enquanto isso, no palco principal, o Kings of Leon fazia uma apresentação apenas correta em sua terceira vinda ao país.

A agitação que o Gossip promoveu no palco alternativo era digna de um palco principal de festival. Beth Ditto roubou as atenções logo no início de seu show, quando entrou bradando: "Boa noite, nós somos o Kings of Leon". O show do Gossip, com pouco mais de 1h de duração, teve hits da banda misturados com versões de clássicos de todos os gêneros.

De "What's Love Got To Do With It", imortalizada por Tina Turner, a "La Isla Bonita", de Madonna, Ditto passou por "Bad Romance", de Lady Gaga, "I Wanna Be Sedated", dos Ramones, "Angie", dos Rolling Stones, e até "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana. O repertório, que começou com "Love Long Distance", teve "Eight Wonder" dedicada a uma integrante da banda punk feminista Bikini Kill e "Melody Emergency" para Lil Wayne.

Carismática, a vocalista pediu muitas desculpas pelas últimas apresentações canceladas. "Não acontecerá de novo, eu prometo. Vocês são maravilhosos", elogiou. O primeiro cancelamento aconteceu duas semanas antes do extinto Tim Festival, em 2008. Em 2010, outra apresentação foi desmarcada uma semana antes, com a justificativa de “um inesperado conflito de agendas”.

Ditto, que não largou o copo de caipirinha da mão, ofereceu ao público e brindou: "Saúde!" várias vezes. O bis veio com “Standing In The Way of Control” e o super hit “Heavy Cross”, que foi cantado pela vocalista quase no meio da plateia, onde distribuiu beijos, abraços e selinhos. Mesmo depois de encerrar o show, Ditto voltou ao palco, cantou “We Are The Champions”, do Queen, vestida apenas com um collant, e elogiou as apresentações do Garbage e The Drums.

Em entrevista ao UOL, a baterista Hanahh Blilie prometeu um show imprevisível e cheio de improvisações para os fãs. Mais que somente cumprir a promessa, o Gossip deixou uma sensação de redenção: sanou a vontade dos antigos fãs e ainda conseguiu alguns novos seguidores.

O Kings of Leon da família Followill, liderado por um Caleb com cabelos penteados para trás que lhe conferiram uma aparência mal humorada e austera, subiu ao palco às 22h04. De suas três vindas ao Brasil --a primeira no extinto Tim Festival em 2005 e a segunda no SWU em 2010--, esta talvez tenha sido a menos impactante.

O repertório começou com “Molly’s Chambers”, primeiro sucesso da banda a estourar no Brasil, em 2003. O quarteto emendou uma sequência de músicas mais pesadas, e trouxe um trecho mais romântico ao show com “The Immortals”. Com 1h30 de duração, o grupo privilegiou canções mais radiofônicas dos dois últimos álbuns, “Only By The Night” (2008) e “Come Around Sundown” (2010).

Caleb, que no ano passado enfrentou problemas vocais e cancelou a turnê da banda, desculpou-se pela rouquidão no show. "Estou há bastante tempo na estrada, por isso minha voz está ruim. Se quiserem, vocês podem cantar junto", disse ele.

Os sucessos mais conhecidos da banda --como “Closer”, com o guitarrista Matthew tocando o instrumento com a boca, “Use Somebody” e “Sex On Fire”-- empolgaram o público, que fez coro nos refrãos, mas não mostrou tamanha devoção à banda que justificasse o posto de headliner do palco principal.

Do Playcenter ao Jockey Club

De casa nova, o festival Planeta Terra deixou o Playcenter, onde foi alocado por três anos, para se instalar confortavelmente nas dependências do Jockey Club de São Paulo. Na edição de 2012 aumentou a capacidade de 20 mil pessoas para 30 mil e, ironicamente, se viu filas menores e uma certa organização mantida. 

Liderança feminina na programação do festival

Oito das 13 bandas que se apresentaram nesta edição do Planeta Terra foram lideradas por mulheres de diversos estilos e gerações: Das novíssimas Bethanie Constantino (do Best Coast) e Little Boots à provocativa Azealie Banks, passando pela diva dos anos 90 Shirley Manson e a carismática Beth Ditto (do Gossip). Representantes brasileiras, Mallu Magalhães teve companhia das integrantes da Banda Uó e Madrid.

"Eu adorei o line up só de meninas. Para mim, o festival foi só das meninas", disse Camila, 23, acompanhada da amiga Renata, 25.

"O line-up foi fraco, independente do sexo dos integrantes. Faltou um nome de peso", comentou Julio César, 27. Sua amiga, Fernanda, 25, discordou. "Eu gostei dessa mistura final, principalmente de Garbage e Gossip. Garbage é mais história, e Gossip é muito legal ao vivo", disse.

A mudança de casa, no entanto, dividiu opiniões e não houve como evitar a comparação com o Lollapalooza Brasil, realizado no mesmo lugar em abril deste ano. "Acho que o festival perdeu um pouco a identidade. Essa cara mais urbana já é do Lollapalooza", disse o publicitário Rafael Nishida, de 27 anos. "Eu achei uma grande evolução. Aqui é muito maior e mais espaçoso. Achei mais organizado", elogiou a estudante Camilla, de 22 anos.

Para suprir a carência dos brinquedos do Playcenter, a organização montou diversas barracas de patrocinadores com atrações como games e paredes de escalada, mas nada que roubasse tanta as atenções do item principal: os shows.

Um grande lounge com arquibancadas e pufes estava disponível para o público descansar, mas nada com vista para os palcos. Funcionou para quem preferiu passar um tempo recarregando as energias, mas atrapalhou o fluxo de quem andava de um palco para o outro.

Os dois tradicionais palcos --um principal e outro alternativo-- foram montados em pontos diferentes com cerca de cinco minutos de caminhada, mas sem interferência de som mesmo quando shows ocorriam simultaneamente. O ponto positivo foi que não houve atrasos significativos entre as atrações.

No primeiro palco, os destaques foram as duas atrações mais veteranas do festival: os ingleses do Suede, que trouxeram seus hits de britpop noventista sem muita interação com o público, e o Garbage de Shirley Manson e Butch Vig, que voltou aos palcos no ano passado após se separarem em 2008.

No palco alternativo, as atenções se voltaram para a provocativa e inquieta Azealia Banks, rapper norte-americana de 21 anos. Nome forte da nova cena de hip-hop feminino, a menina de longos cabelos ruivos chega ao país no auge de sua ainda curta carreira, desfrutando do sucesso de seu EP "1991", lançado em maio deste ano.

Entre os brasileiros, o trio goiano da Banda Uó arrancou elogios de quem assistia seu tecnobrega moderno. O repertório trouxe "Rosa", sua versão para "Last Nite", dos Strokes, e alcançou o ápice com uma versão de "Gangnam Style", do rapper sul-coreano Psy. Mallu Magalhães foi quem abriu o festival, mas teve problemas com o som e chegou a chorar logo no início da apresentação.

A três horas do encerramento do festival, por volta das 20h, os ingressos da bilheteria do Planeta Terra já estavam esgotados, de acordo com informação da produção. Do lado de fora do festival, cambistas vendiam entradas por até R$ 30 no entorno do Jockey Club.