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Parte da guitarra de Kurt Cobain continua em SP desde Hollywood Rock de 1993; veja depoimento

16.01.2013 - O jornalista Fábio Akio Sasaki, de São Paulo, com pedaço da guitarra de Kurt Cobain que pegou durante show do Nirvana no Hollywood Rock de 1993, no estádio Morumbi - Arquivo pessoal
16.01.2013 - O jornalista Fábio Akio Sasaki, de São Paulo, com pedaço da guitarra de Kurt Cobain que pegou durante show do Nirvana no Hollywood Rock de 1993, no estádio Morumbi Imagem: Arquivo pessoal

Mariana Tramontina

Do UOL, em São Paulo

16/01/2013 16h16

A tradicional quebra de instrumentos do Nirvana em seus shows já fez a felicidade de muitos fãs. Pedaços dos aparatos dos músicos descansam até hoje em diversos lugares do mundo. Uma das partes da guitarra de Kurt Cobain, por exemplo, continua em São Paulo desde o show no festival Hollywood Rock de 1993, que chega nesta quarta-feira (16) aos seus 20 anos. A banda, em seu auge, veio ao Brasil para duas apresentações que integravam a programação do extinto evento.

O jornalista Fábio Akio Sasaki, de 37 anos, é o dono de um pedaço da Fender Stratocaster preta que Kurt Cobain destruiu no palco (outra parte da mesma guitarra foi parar nas mãos de um estudante, na época com 20 anos, chamado Alexandre Neves). Exatas duas décadas depois da mítica apresentação do Nirvana no evento, Fábio relembra como tudo aconteceu naquele 16 de janeiro de 1993:
 

Eu estava assistindo ao show bem na grade, e a certa altura, como sempre faziam, eles começaram a quebrar os instrumentos. Kurt quebrou a guitarra, pegou um pedaço e desceu na área dos seguranças. Eu olhei para ele e ele estava vindo em minha direção. Kurt deu aquela parte na minha mão, virou e foi embora. Só deu tempo de eu dar um tapinha nas costas dele e falar "thank you!".

As pessoas que estavam perto de mim ficaram olhando. O pedaço da guitarra tinha três captadores e um deles estava pendurado. Um cara puxou o captador e começou a rolar um princípio de tumulto para tomar a guitarra de mim. Foi quando um segurança me puxou para dentro da área deles e me aconselhou a colocar o pedaço dentro de um saco plástico e ir embora. Saí por trás do palco e fiquei do lado de fora do estádio esperando meus amigos saírem.

Já havia se passado mais da metade do show, eles tinham tocado as principais músicas, mas perdi o final da apresentação. Só fiquei sabendo depois, quando me contaram, do que rolou lá no palco, as jams sessions e os covers. Na verdade, esse fato da guitarra foi tão impressionante que o show ficou em segundo plano. Foi uma troca razoável!

Hoje, o pedaço da guitarra está em casa, mas não tenho um lugar especial para ele. É uma recordação do show e daquela época. Minha mulher vive tentando me convencer a me desfazer disso. Ela até brincou: "aproveita que você vai dar entrevista e anuncia que está vendendo". Mas não tenho intenção de vender, não. Nem sei quanto vale. Enquanto eu não estiver passando por necessidade, o valor afetivo vai prevalecer.

O festival do grunge

A primeira edição oficial do festival Hollywood Rock aconteceu em 1988, mas foi em sua quarta realização que o evento deixou sua marca. A programação, divida entre São Paulo e Rio de Janeiro, trouxe ao país Nirvana, Alice in Chains, L7 e Red Hot Chili Peppers, a nata do rock alternativo do momento. O público, então acostumado a atrações internacionais defasadas, finalmente veria bandas novas e em pleno auge.

  • Fabio Carbone/Arquivo pessoal

    Jan.1993 - Placa indica programação do festival Hollywood Rock em São Paulo e no Rio de Janeiro


Em São Paulo, o Hollywood Rock aconteceu nos dias 15, 16 e 17 de janeiro de 1993 --com ingressos que variavam entre 140 mil e 220 mil cruzeiros, algo em torno de R$ 50 e R$ 80--, e na Praça da Apoteose do Rio de Janeiro nos dias 22, 23 e 24.  

Mas foi no estádio Morumbi, há exatos 20 anos, que o Nirvana fez um dos shows mais lendários, surreais e emblemáticos de sua curta carreira de cinco anos. Frente a cerca de "110 mil pessoas e a maior multidão para a qual o Nirvana já tocou, tanto a equipe como a banda se lembram dele como a pior apresentação que já haviam feito", segundo relatou Charles R. Cross na biografia de Kurt Cobain, "Mais Pesado que o Céu".

O show do Nirvana no Hollywood Rock sempre dividiu opiniões de fãs, da crítica e dos entusiastas em geral. Há quem diga que a apresentação não foi digna de seu potencial e que a banda não estava nem aí para o público. Outros defendem que o Nirvana fez um verdadeiro show de rock, imprevisível e sem regras. E a medida que o tempo passa, mais importância atribui-se àquela performance e mais clássico torna-se o show.

Na época, uma pesquisa do Datafolha registrou a opinião do público do festival e 71% dos entrevistados classificaram o show do Nirvana entre bom e ótimo. Para 37%, a banda foi a melhor daquela noite, enquanto a maioria (39%) preferiu o L7. A pedido do UOL, personalidades que estavam naquele dia relembraram a passagem da banda pelo festival --e fora dele-- e as demais atrações. Clique aqui para ler.