"Sertanejos copiaram a gente", diz diretor de hits do funk no YouTube
No final de 2012, a lista dos dez vídeos mais assistidos pelo YouTube no Brasil mostrava em primeiro lugar a música "Camaro Amarelo", de Munhoz e Mariano, com 37 milhões de visualizações. Valorizando dinheiro e carros nas imagens e nas letras, os cantores sertanejos desbancaram até mesmo Psy, com o hit "Gangnam Style".
Mas Konrad Dantas, produtor responsável por vídeos de artistas do funk em SP, sugere que a ideia dos sertanejos não é original. "Os sertanejos copiaram o funk, o que a gente fazia", afirma o rapaz de 24 anos, que nasceu no litoral paulista. "Se toda essa estrutura deles viesse para o funk, o sertanejo não teria chance."
A aposta do produtor, conhecido no mercado como Kondzilla, tem fundamento. Logo abaixo de "Camaro Amarelo", três vídeos da lista dos dez mais no YouTube em 2012 foram dirigidos por ele: "Onde Eu Chego Eu Paro Tudo", do MC Boy do Charmes; "Plaque de 100", do MC Guimê; e "Como É Bom Ser Vida Loka", do MC Rodolfinho.
Os sertanejos copiaram o funk, o que a gente fazia
Konrad Dantas, o KondzillaAs músicas representam um estilo desenvolvido desde 2010 em São Paulo que ficou conhecido como funk de ostentação e voltado para carros caros, correntes de ouro e mulheres. Somados, seus clipes ultrapassam a marca de 40 milhões de visitas.
O produtor também assinou um documentário sobre os funkeiros paulistas, no qual apresenta depoimentos de outros nomes do estilo como MC Dede e MC Bio G3.
Caminho para a ostentação
No esquema de Kondzilla, os artistas interessados entram com a produção do vídeo, arranjando carros, motos, mulheres e acessórios para serem usados na tela. Já o produtor só cobra seu cachê. Os clipes contam com materiais próprios dos artistas, emprestados de amigos ou até mesmo usados em mais de um vídeo.
Kondzilla argumenta com tranquilidade sobre o fato de que nem tudo o que é mostrado seja verdadeiro. "Os artistas são personagens, estão vendendo um sonho ao público", explica. "Não é porque o Tom Cruise aparece do lado de um Porsche que o carro precisa ser dele."
Comigo houve uma democratização, eu mostrei que é possível fazer vídeo bom mesmo sem recurso
Konrad Dantas, o KondzillaAjudando artistas jovens, muitas vezes sem dinheiro para os vídeos, Kondzilla acredita ter apontado mais uma receita para o sucesso por iniciativas independentes.
"Comigo houve uma democratização, eu mostrei que é possível fazer vídeo bom mesmo sem recurso", afirma o produtor, apontando um caminho para músicos despontarem que dispensa o modelo tradicional de gravação e divulgação de CDs. "Hoje em dia, os funkeiros mais famosos conseguem viver somente com os vídeos e os shows."
Mas Kondzilla é sincero ao citar as expectativas de jovens que o consultam sobre a possibilidade de gravar novos vídeos no estilo. "O perigo é a galera se espelhar no exemplo dos meninos que se deram bem e esperar que eu faça deles o próximo Guimê. Isso não vai acontecer", diz o produtor. "Tem que prestar atenção na música, ser organizado. Os artistas que deram certo não fizeram as coisas no susto, tinham estrutura."
Volume
Com 70 clipes e quatro DVDs na curta carreira desde que decidiu largar o trabalho como publicitário, Kondzilla começou no ramo aceitando quase todas as propostas que chegavam a seu conhecimento. "Eu queria fazer um volume de produção, cheguei a pegar 14 vídeos por mês para gravar", disse.
Mesmo com a forte conexão com o funk, Kondzilla já dirigiu vídeos de rap, esportes radicais e produções de nomes grandes no cenário musical brasileiro como Charlie Brown Jr. e Cláudia Leitte.
Eu queria fazer um volume de produção, cheguei a pegar 14 vídeos por mês para gravar
Konrad Dantas, o KondzillaMas a procura por seu trabalho começou a aumentar a partir do lançamento de um clipe de funk do MC Guimê, em maio de 2011. O funkeiro teve tanto sucesso que chegou a ser convidado para participar do programa "Casa de Verão" na MTV. "Antes do Guimê, eu fazia dois vídeos por mês. A partir daí, foram no mínimo oito por mês", conta Kondzilla.
Com o tempo, praticamente todos os artistas do funk paulista já tinham trabalhado com Kondzilla. A exceção era Nego Blue, que somente trabalhou com o produtor em "É o Fluxo", clipe mais caro que Kondzilla gravou até meados de 2012 -- a produção custou R$ 40 mil à época, mesmo valor dos vídeos mais recentes lançados por Kondzilla atualmente.
"Ao contrário dos outros, ele não precisou do meu trabalho para impulsionar a carreira, eu que fui atrás dele", afirmou o produtor, que tenta diminuir o ritmo de trabalho e ser mais seletivo. "O meu objetivo é pegar, no máximo, quatro por mês."
Kondzilla durante a gravação de mais um clipe. O produtor paulista já gravou com artistas como Claúdia Leitte e Charlie Brown Jr., antes de entrar de vez no universo do funk de SP e do RJ
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