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Hits de Bon Jovi têm apelo até para quem não gosta de rock romântico

Daniel Buarque

Do UOL, e São Paulo

23/09/2013 01h21

Depois de 50 minutos do início do show de Bon Jovi deste domingo (22) no estádio do Morumbi, em São Paulo, me pego sorrindo e balançando a cabeça para cima e para baixo enquanto ele canta a música "Keep the Faith", de 1992. Mas, peraí, não era para eu estar gostando. Era para eu preferir estar longe do Morumbi, em casa, assistindo novamente a Slayer e Iron Maiden no Rock in Rio pela TV. Roqueiro de verdade não gosta de Bon Jovi, não pode ficar feliz nesse show do rei do rock romântico.

A verdade, entretanto, é que 8 das 23 músicas do repertório soaram bem familiares a estes ouvidos acostumados com barulheira, e em alguns momentos é possível até mesmo se divertir durante o show de Bon Jovi - nem que tenha sido para pagar uma dívida para uma versão adolescente de mim mesmo, 20 anos atrás.

Do show, hits como "Runaway", "You Give Love a Bad Name", a própria "Keep the Faith", "Bad Medicine", "Wanted Dead or Alive" e "Born to be my Baby" ajudaram a entrar no mundo do rock, por volta dos 13 anos. Mais tarde, canções românticas, como "Never Say Goodbye" (que não foi tocada no show), até faziam parte do repertório dos Boêmios Ilimitados, banda em que toquei durante a faculdade, no Recife, misturando o brega com clássicos do rock, como Neil Young.

Não me entenda mal, não sou fã de baladas românticas, prefiro um bom riff de guitarra distorcida com um pedal duplo de bateria, mas não dá para rejeitar totalmente o gênero. É quase impossível ter mais de 30 anos, gostar de rock e ter passado a vida inteira imune à quase interminável lista de clássicos de rádio da banda. Além disso, a vida de todo mundo foi marcada em uma hora ou outra por uma balada “mela cueca” das FMs. E ver isso tudo ao vivo até que é interessante e divertido.

Boa parte do show, com músicas mais novas e que não conhecia, é extremamente irritante para ouvidos mais acostumados com rock pesado. As músicas lançadas nas últimas duas décadas me soam como um rock modorrento com letras de autoajuda, como se fossem trilha sonora de um desses filmes hollywoodianos de adolescentes. Mas nenhum metaleiro nasceu ouvindo Metallica, e a nostalgia pelos sons do início da adolescência me fez gostar muito de algumas partes da apresentação - é como a famosa metáfora literária da madeleine de Proust, só que com música. Assim, até músicas chatas podem evocar bons sentimentos.

Dignidade musical

Independentemente de qualquer questão de gosto musical, é preciso reconhecer que a apresentação de 2h20min de Bon Jovi é um grande espetáculo. A banda consegue entregar um som de qualidade (melhor de que o que se ouviu na apresentação do Rock in Rio transmitida pela TV), e, com o público de quase 60 mil pessoas nas mãos, Jon Bon Jovi cria um clima apoteótico a cada música, com mãozinhas para cima, palmas, gritos femininos e uma infinidade de celulares acesos fazendo o papel dos antigos isqueiros.

A voz de Jon Bon Jovi claramente não tem mais a mesma força (e tom) de 20 anos atrás, é verdade, mas, aos 51 anos, ele não faz feio, e consegue entregar bem todas as músicas, demonstrando que é um showman como poucos, que consegue animar e segurar o público durante horas, e que soube envelhecer mantendo qualidade musical. Como disse um amigo, fã de Gun ‘n Roses: “se Axl Rose tivesse 10% desse talento que Bon Jovi tem pra se manter em alta, Guns ainda era uma banda”.

O resto dos músicos do Bon Jovi se esforça para compensar as ausências de Richie Sambora e Tico Torres, e em muitos momentos consegue, evitando o sentimento de que Bon Jovi atualmente seja somente um cover da banda no passado. O público que acompanhou empolgado o show cantando todas as músicas não deixa nenhuma impressão de fim de carreira. Apesar da idade, o Bon Jovi está vivo e ainda consegue dominar o mundo do rock romântico.

Nickelback tenta enganar, mais ou menos

Antes de Bon Jovi subir ao palco o Morumbi teve ainda show do Nickelback, banda da qual havia ouvido apenas algumas canções de rádio e contra a qual tinha muito preconceito. Mas até que eles conseguem enganar bem em alguns momentos.

Às 18h25, o sistema de som do Estádio começou a tocar “Walk”, de Pantera, uma das bandas mais distantes de Bon Jovi no espectro musical. Minutos depois, Nickelback começou a tocar com riffs muito mais barulhentos de que eu esperava. A banda conseguiu enganar bem, com boas guitarras em alto volume, por 7 minutos, até que apareceram os primeiros violões e as primeiras baladinhas pegajosas que dominaram o show de uma hora.