"A música brasileira faz parte de quem eu sou", diz cantor Beck
Doze anos após sua primeira e única passagem pelo Brasil --na terceira edição do Rock in Rio--, Beck está de volta. Porta-voz da geração alternativa dos anos de 1990, ele é uma das atrações do Festival Planeta Terra, que acontece no próximo sábado (9), no Campo de Marte, em São Paulo.
O tão aguardado regresso ao país tem sabor especial para o músico, que dificilmente consegue falar sobre o que faz sem mencionar artistas como Caetano Veloso, João Gilberto e Mutantes. "Acho que a música brasileira é parte de quem eu sou, basicamente. Se eu estou fazendo música ou não, se minha música soa como ela ou não. Faz parte do meu caráter", disse o músico ao UOL.
Beck, que recentemente cancelou o show que faria em Porto Alegre por questões de logística, começou cedo sua educação musical. Mais precisamente na segunda metade dos anos 1970, época em que dividia o tempo entre brincadeiras, estudos e o som da bossa nova.
"Lembro dos longos verões de Los Angeles, que duravam seis meses, e de ouvir João Gilberto tocar no aparelho de som da nossa sala de estar. Fui a um show do Tom Jobim no Greek Theater. Só fui a dois concertos quando criança, e esse foi um deles. Teve um impacto grande em mim", lembrou.
Capaz de enumerar em seu DNA sonoro nomes tão díspares quanto Hank Williams, Beatles, Nick Cave e Yellow Magic Orchestra, ele muda o tom apenas quando a conversa aponta para os rótulos associados à sua geração. O mais famoso deles, "Slacker Generation" (a tal "geração preguiçosa"), designou os jovens de 20 anos atrás, simbolizados involuntariamente em músicas como "Loser", "Creep" (Radiohead) e "Smells Like Teen Spirit" (Nirvana).
"Nos anos 90, quando eu e essas bandas estávamos começando, a imprensa era muito desdenhosa. Criaram os 'slackers', e tentaram marginalizá-los a todo custo. É um rótulo ridículo. Nós trabalhávamos duro. E tínhamos de fazer isso porque vínhamos depois de uma grande era da música. Boa parte da melhor música da era moderna foi feita pouco antes da gente".
"Agora, a jovem geração é muito grande. Há tantas bandas, tanto público. Hoje a mídia não pode dizer que você é um idiota porque depende deles para comprarem as revistas, os discos e todo o resto", ponderou.
Recém-contratado pela Capitol Records, Beck está de volta ao mainstream e já tem data para lançar seu novo álbum, "Morning Phase", o primeiro em seis anos, e que deve sair em fevereiro de 2014. Descrito como mais acústico, o disco vai resgatar o espírito contemplativo de "Sea Change", de 2002.
Concessões comerciais, entretanto, nem pensar. Uma pegada, talvez, ao estilo Bob Dylan? "Eu não sei. Mesmo que eu tentasse soar como o Dylan, não sairia como ele. Espero que as músicas sejam boas. Não me preocupei em saber como elas soariam", disse o músico, célebre por sua concepção sônica eclética.
Indie, alternativo, experimental, eletrônico, folk, pós-grunge, rap rock, low-fi: tantos já foram os termos empregados para definir seu estilo. Para o artista, no entanto, nunca a contento. Uma amálgama chamada "Beck music" provavelmente soaria mais fidedigna. "Talvez eu faça mesmo meu próprio gênero. Porque minha música nunca se encaixou no alternativo, ou no som mais comercial que estava rolando nos anos 1990. Ela é muito diferente".
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