Topo

"Tenho um prazo de validade, só não sei quando virá", diz Ney, aos 72 anos

Ney Matogrosso no show "Atento aos Sinais", que marca os 40 anos de sua carreira - Foto Rio News
Ney Matogrosso no show "Atento aos Sinais", que marca os 40 anos de sua carreira Imagem: Foto Rio News

Leonardo Rodrigues

Do UOL, de Sâo Paulo

06/12/2013 15h24

Aos 72 anos, Ney Matogrosso está atento ao passar do tempo. Em turnê e com um álbum de estúdio recém-lançado, cumpre uma rígida rotina diária de musculação pela manhã, em sua cobertura no Rio, que lhe garante toda a energia e flexibilidade necessárias para ser Ney Matogrosso. Nos palcos, seu habitat natural, ele comemora 40 anos de carreira. E mesmo quem já o viu tantas vezes ao vivo é capaz de se impressionar com sua performance, que dá indícios de ser simplesmente perene.

"Eu acho que existe, sim, um prazo de validade para mim, e uma hora ele vai aparecer. Só não sei quando chegará", diz o cantor por telefone ao UOL. "Minha performance sempre foi muito física. E as pessoas sempre dizem que estou muito bem para alguém da minha idade. Então eu tendo a acreditar."

As marcas inapeláveis dos anos de fato precisam ser relativizadas quando envolvem um dos maiores intérpretes da música brasileira ("Nem penso nisso, procuro só fazer o meu trabalho", ele diz). Ney é jovem também musicalmente. Em diálogo com a nova geração, escolheu rechear seu novo trabalho, o disco "Atento aos Sinais", de compositores jovens, não necessariamente ligados à MPB, vindos de vários estados do Brasil.

Nomes como os rappers Criolo e Vitor Pirralho, o guitarrista Dani Black, e Beto Boing, da banda paulistana Zabomba, dividem ---em pé de igualdade-- espaço com Paulinho da Viola, Lenine, Pedro Luís e o sempre presente Itamar Assumpção. "O resultado eu chamo de pop, mas um pop que se aproxima do rock. O rock sempre esteve presente na minha vida. Foi o início de tudo para mim. Mas, claro, eu não quero e nem consigo me prender a ele", admite.

Nas palavras curtas e sintéticas de Ney, não há um conceito ou tema que fazem girar o novo álbum, cujo repertório, de 19 faixas, teve de ser reduzido para 14. As restantes estão no show homônimo que ele apresenta desde fevereiro pelo Brasil. O registro do DVD ao vivo está previsto para 2014.

"Não quis montar o repertório para ter uma mensagem específica. A não ser, talvez, na abertura", conta, em referência à "Rua da Passagem", de Arnaldo Antunes e Lenine, que abre "Sinais da Idade". Nela, que faz do trânsito uma espécie de metáfora mundana para a intolerância, ele canta em tom ríspido: "Travesti, trabalhador, turista, solitário, família, casal. Todo mundo tem direito à vida e todo mundo tem direito igual".

"Acho que regredimos em termos de direitos. Sei que existe muito mais abertura do que existia quando comecei, muito mais temas que são aceitos e podem ser debatidos. Mas não consigo ver um avanço real nas conquistas", entende.

O pessimismo, no entanto, desaparece para falar de sua grande conquista: a inteligência da maturidade. É como se o cantor enfim pudesse encerrar o ciclo de "Idade de Ouro" (de "Água do Céu - Pássaro", seu primeiro disco solo, de 1975), em que aguarda solene por "aquele velho tesouro", um "Deus à toa e uma vida boa".

"O que me motiva hoje a levantar da cama e trabalhar todos os dias? O que sempre me motivou. Só que agora, mais velho, acrescentei outras coisas à minha rotina, que me completam". O quê? "Sair, ir ao cinema, fazer [os trabalhos de] iluminação. Hoje sei aproveitar melhor minha vida."