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Após hiato de 4 anos, Pitty volta e toca sete músicas inéditas em Americana

17.mai.2014 - Pitty canta em Americana músicas do disco "Sete Vidas" - Stephanie Gaspar/UOL
17.mai.2014 - Pitty canta em Americana músicas do disco "Sete Vidas" Imagem: Stephanie Gaspar/UOL

Stefanie Gaspar

Do UOL, em Americana (SP)

19/05/2014 13h42

"A Pitty roqueira voltou!", comemoravam os fãs que se amontoavam no frio da cidade de Americana, interior de São Paulo, para assistir ao retorno da cantora Pitty aos palcos neste final de semana. Durante um hiato de quatro anos sem lançar músicas inéditas (a última havia sido o single "Comum de Dois", parte do álbum ao vivo "A Trupe Delirante no Circo Voador"), Pitty se afastou de seu som tradicional e experimentou em um formato acústico com o projeto Agridoce, ao lado do guitarrista Martin Mendonça. Agora, a cantora se prepara para lançar um novo disco, "Sete Vidas", que deve chegar às lojas no dia 3 de junho.

O Espaço Americana recebeu neste sábado (17) o primeiro show desta nova turnê, em uma apresentação lotada e que reuniu 2.000 fãs de todo o Brasil. Por ser a primeira vez que a banda apresenta as novas músicas ao vivo, o show foi um teste para o formato que deve ser adotado nas demais apresentações da turnê, que continua no dia 9 de agosto com um show no Audio Club, em São Paulo.

No palco, nada do trio voz, piano e violão que marcou os três anos de Pitty com o Agridoce. O foco foi no peso dos instrumentos, em um show marcado pela força da guitarra e da bateria. Se em seu último disco de estúdio, "Chiaroscuro", a cantora se aventurou por um som com referências literárias e elementos de soul e tango, as músicas de "Sete Vidas" parecem trabalhar uma linguagem rock mais despojada e simples, e Pitty se mostrou confortável interpretando essa linguagem mais direta no palco.

Das dez músicas de "Sete Vidas", Pitty apresentou sete: "Pouco", "Deixa Ela Entrar", "Boca Aberta", "Olho Calmo", "Pequena Morte", o single "Sete Vidas" e "A Massa". Nas letras, a cantora apostou na introspecção e na tristeza, criando um álbum com temáticas soturnas e poucos discursos de superação. Em "Boca Aberta", Pitty fala sobre maneiras de compensar a depressão diária ("Êta alma, buraco sem fundo/Que se vive tentando preencher/Com deuses, com terapia/ Cartão de Crédito, academia"), e em "Sete Vidas" o discurso é dramático ("Só nos últimos cinco meses/Eu já morri umas quatro vezes"). Embora o teor sério das letras não deixe muito espaço para comemoração, o show se mostrou leve, com as bases roqueiras transformando odes de sobrevivência em hits para cantar junto.

Mesmo que o som ruim da casa tenha prejudicado a apresentação - em diversas músicas era quase impossível entender o que Pitty cantava, o que é especialmente importante quando o artista está apresentando músicas inéditas -, a cantora tentou compensar com um diálogo divertido com o público, apresentando com calma as novas canções e se mostrando feliz com o retorno aos palcos. Dos hits antigos, Pitty trouxe "Anacrônico", "Admirável Chip Novo", "Teto de Vidro", "Equalize", "Me Adora" e "Máscara", mostrando que a nova turnê pretende seguir o formato tradicional de equilibrar canções garantidas com o material inédito. As canções antigas foram apresentadas com exatamente os mesmos arranjos de suas versões de estúdio, deixando espaço para inovação apenas nas músicas de "Sete Vidas".

No release oficial do disco, a assessoria da cantora afirmou que "Sete Vidas" traz elementos de ritmos africanos e um diálogo com a herança rítmica do candomblé. Ao menos ao vivo, as referências ficaram imperceptíveis, com a veia roqueira dominando toda a sonoridade e dando o tom para a Pitty "rocker" pedida pelos fãs aos berros. Considerando que o álbum foi gravado ao vivo com todos os instrumentos tocados simultaneamente, é especialmente importante que esse som mais tradicional funcione no palco, e o show em Americana provou que a banda não deve ter problemas para trazer essa credibilidade roqueira. A parte visual do show contou com um telão de LED que projetou imagens de vários momentos da carreira de Pitty, além de interpretações gráficas para as novas canções.

Após uma hora e meia de show, a cantora encerrou a apresentação e agradeceu o público por ter presenciado a estreia da nova turnê. Nesse primeiro show "teste", Pitty conseguiu equilibrar o repertório de sua carreira e retomar sua predileção pelo rock, mesmo tendo arriscado pouco na hora de reinterpretar seus hits antigos e nas bases das canções inéditas.

Loucuras dos fãs

Enquanto Pitty se preparava para o show de estreia de sua turnê, seus fãs não poupavam esforços para conseguir chegar a Americana a tempo de ficar na gigantesca fila, que deu a volta na casa de shows e só aumentou com a demora da abertura dos portões.

A estudante Débora Gisa Morais Cabral, de 14 anos, não desistiu da ideia de ver a cantora mesmo morando em outra cidade e não tendo idade mínima para o show, que tinha classificação de 16 anos. "Eu virei fã da Pitty aos quatro anos, quando ganhei de presente um CD dela. Minha mãe falava que era fase, mas não passou nunca!", brincou ela. "Quando eu soube que ia ter esse show eu comecei a tremer, não consigo dormir direito há um mês". A mãe de Débora, Patrícia, afirmou que a força de vontade da filha fez a família se deslocar de Diadema para acompanhá-la na empreitada. "Mãe de fã também acaba indo junto, né? A gente mora longe, mas acabamos vindo para fazer a vontade dela", explicou.

Ao lado de Débora viajou o estudante Leonardo Silva, de 16 anos, amigo que conheceu por meio de vários fã-clubes de Pitty. "A gente se conheceu no Facebook e, desde então, ficamos muito amigos. Quando vimos que ia rolar um show em Americana antes do lançamento do CD, fizemos questão de vir pra cá. A Pitty é muito verdadeira, ouvir um disco dela é entender um pouco de tudo que está acontecendo no mundo hoje", contou ele, animado.

O estudante de gastronomia Junior Faiatt percorreu mais de mil quilômetros para concretizar um sonho: comemorar seu aniversário de 24 anos no show da conterrânea Pitty. "Eu vim da Bahia só para o show e adoro o quão exótica ela é por lá: afinal, ela é uma baiana que não canta axé e adotou o rock. Gosto muito dessa originalidade", contou ele, que assistiu ao show enrolado em uma bandeira da Bahia.

Com o show marcado para depois da meia-noite, os amigos Walaf Oliveira, Tatiane Almeida e Luis Fernando Miranda enfrentaram sol e frio por mais de treze horas para conseguir um lugar na grade. "Chegamos umas 11h, meio-dia, mas estamos animados e morrendo de vontade de ver a veia roqueira dela de volta. Gostamos demais da Pitty porque ela tem personalidade, não é dessas artistas que fingem que estão bem só para agradar os fãs. Todo mundo tem aqueles dias ruins, e ela é sempre sincera sobre isso e mostra pra todo mundo que cada um tem espaço para ser o que quiser", explicou Luis.