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Donos de hits instantâneos tentam driblar prazo de validade da música

Thays Almendra

Do UOL, em São Paulo

29/07/2014 06h00

Michel Teló, Naldo, João Lucas & Marcelo têm algo em comum: lançaram os hits mais bombados nos últimos tempos. O boom instantâneo de "Ai, Se Eu Te Pego", "Amor de Chocolate" e "Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha", no entanto, não eternizou a carreira de seus intérpretes, que ainda precisam se recriar constantemente para driblar o efeito perecível da atual música popular.

Com um empurrãozinho de Neymar, que levou para os campos a coreografia de "Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha", João Lucas & Marcelo estourou em 2012 e chegou a fazer 30 shows por mês naquela época. Dois anos depois, dupla sertaneja tem na agenda cerca entre 12 e 15 apresentações. "É um gancho que a música nos deu", diz João Lucas ao UOL.

"Sempre tivemos aquele medo de dar continuidade a um sucesso. Acontece com todos os artistas, ainda mais com os menos conhecidos. Lança-se uma música, é novidade e o pedido de shows é muito maior", reconhece João Lucas. "Agora nós queremos mostrar as músicas românticas, mas não podemos fazer uma mudança rápida demais porque nos conheceram por 'Tchu, Tcha' e 'Louca Louquinha'. É complicado acertar o gosto do brasileiro".

Trajetória semelhante teve Naldo e seu refrão que falava de "uísque ou água de coco". A música "Amor de Chocolate" estourou em 2012 e a promessa o funkeiro ser o Jay-Z brasileiro não se concretizou até então. Ele chegou a gastar mais de R$ 4 milhões e mobilizou 600 pessoas em julho do ano passado para gravar um DVD em formato 3D.

Naldo diz que "não tem medo de cair no esquecimento" e que o sucesso lhe trouxe maturidade para lidar com a fama. "A evidência é normal e a minha cabeça já foi muito segura em relação ao sucesso que poderia acabar ou não acontecer mais. A minha carreira está estabilizada. Eu continuo fazendo shows", contou.

Quem também se diz com maturidade maior é a cantora Anitta. Responsável pelo hit "Show das Poderosas", que fez sucesso em 2013, ela adaptou a pegada do funk para a música pop e segue em evidência. No início do ano lançou o DVD "Meu Lugar", gravado após passar por uma série de cirurgias plásticas e dar uma repaginada no visual. "Quando me diziam que eu ia ser uma cantora de um hit só, eu ria por dentro. Ninguém imaginava o que estávamos fazendo", contou ela aos risos, no lançamento do novo trabalho.

Prazo de validade

Para o sertanejo João Lucas, o brasileiro consume as músicas com mais rapidez do que antigamente. "Antes se comprava um CD e ele era ouvido por inteiro. Hoje a pirataria fez com que fizessem CDs com a música mais bombadas de cada artista e, com isso, ninguém ouve um trabalho por inteiro. Isso induz as pessoas a quererem a rotatividade".

Ricardo Cravo Albin, musicólogo e criador do dicionário da MPB, acredita que a responsável pela forma passageira das músicas atuais é a internet e a classifica como uma "fatalidade". "São hits descartáveis pela pressa em que o mundo se encontra a partir de um elemento que é fundamental e definidor dos costumes. Ele é assustador e se chama internet", disse.

Ao mesmo tempo, foi a internet que deu status internacional a Michel Teló com seu hit-chiclete "Ai, Se Eu Te Pego". Em 2011, o cantor sertanejo chegou a fazer mais de 240 shows no ano, ganhou o prêmio da categoria Top Canção Latina do Billboard Awards 2013 e cobrava cachê de R$ 150 mil. Após o hit principal, tentou emplacar "Humilde Residência" e "Amiga da Minha Irmã", sem o mesmo sucesso anterior. Em maio deste ano, Teló --que recentemente se arriscou em um programa da TV-- precisou cancelar uma apresentação por falta de público, depois que o show foi reagendado para outra data.

Para Cravo Albin, a música de consumo imediato pode gerar efeitos positivos e permanentes a longo prazo, como a mistura dos ritmos e o resgate da memória da música brasileira. "Chico Buarque, Edu Lobo, continuam aí. Há vários outros artistas que vieram dos festivais há 40 anos, resistem fazendo música e são aclamados pelo público, independentemente de terem música descartável. São pessoas que definem a permanência da memória da música brasileira".