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Tributo a Raul Seixas no Rio reúne Os Panteras, mas não empolga fãs

Henrique Porto

Do UOL, no Rio

20/08/2014 08h57

“Fiquem à vontade para gritar ‘Toca Raul’ o quanto quiserem, afinal, é para isso estamos aqui hoje”, brincou Viviane, filha de Raul Seixas, pouco antes de proclamar aberta mais uma edição de “O Baú do Raul”, na noite desta terça-feira (19), na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Mas o projeto criado em 1992, e que vem reunindo músicos brasileiros de várias gerações para regravar ao vivo a obra do cantor e compositor baiano, parece ter chegado sem fôlego a 2014, ano em que se completa um quarto de século desde a morte de Raulzito.

Seja pelo pouco ineditismo que a homenagem oferece hoje, seja pela pouca ousadia das novas versões apresentadas, o fato é que o show desta terça não chegou a empolgar totalmente o bom público que compareceu à Fundição. Ainda assim, houve momentos especiais e curiosos, como a reunião dos Panteras, banda original de Raul Seixas, depois de 46 anos. Junto de Jerry Adriani e do cantor Edy Star, amigos de Raul, tocaram “Você Ainda Pode Sonhar” (versão do “Maluco Beleza” para “Lucy in The Sky With Diamonds”, dos Beatles) e “Sessão Das Dez”, respectivamente. Ou Zeca Baleiro e sua interpretação para “Aos Trancos e Barrancos”, único samba de autoria de Raul.

O guitarrista Luis Carlini (autor do célebre solo de “Ovelha Negra”, de Rita Lee) levantou poeira com “Rock das Aranhas”. Sob gritos de “bota pra foder”, o carismático Marcelo Nova também fez bonito com as roqueiras “Século XXI” e “Rock n’ Roll”. E Nasi e Edgar Scandurra, do recém-reagrupado Ira!, foram reverenciados com “As Minas do Rei Salomão” e uma hendrixiana “Pai Nosso da Terra”. Mas todas em versões corretas, sem muito a acrescentar às originais.

O fato de a apresentação ter sido gravada pelo canal a cabo Canal Brasil, para ser transformada em um DVD, também contribuiu para a quebra de ritmo do show, uma vez que, por questões técnicas, boa parte das músicas precisa ser executada mais de uma vez — "Se o Rádio Não Toca", com o Cachorro Grande, foi tocada três vezes.

Quem fez diferente mesmo foi a cantora Ana Cañas. Acompanhada "apenas" por uma Gibson Les Paul e pelo guitarrista Lúcio Maia, do Nação Zumbi, rearranjou "Medo da Chuva" e "Metamorfose Ambulante" em versões com ecos de Neil Young. E Gabriel Moura, aproximando "Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás" do balanço de Jorge Ben Jor.

Cañas, aliás, foi a única representante da ala feminina no show, já que Maria Gadú, escalada para cantar "A Maçã", anunciou sua ausência do projeto um dia antes do show, por meio de comunicado publicado em sua página no Facebook.

No encerramento, Nação Zumbi escolheu "Conserve Seu Medo", um dos "lados B" da obra de Raul, como explicou sua ex-mulher e responsável pela homenagem. E voltaram para algo, a princípio, fora do roteiro: o sucesso "Manguetown", da era Chico Science, com participação de B Negão. "Essa vai pra você, Raul", gritou o vocalista Jorge Du Peixe.

Agora é esperar o DVD, que deve chegar as lojas até o fim do ano. Uma exibição especial também está programada para ir ao ar no Canal Brasil, ainda sem data definida.

Veja o repertório completo do show:

Os Panteras e Jerry Adriani, “Você Ainda Pode Sonhar”
Os Panteras e Edy Star, “Sessão das Dez”
Zeca Baleiro, “Aos Trancos e Barrancos”
Luis Carlini, “Rock das Aranhas”
Digão, “Aluga-se”
Plebe Rude, “Abre-te Sésamo”
Tico Santa Cruz, “No Fundo do Quintal da Sua Casa” e “Sapato 36”
Marcelo Jeneci e Laura Lavieri, “Caubói Fora da Lei”
B Negão, “Metrô Linha 743”
Marcelo Nova, “Século XXI” e “Rock'n Roll”
Nasi e Edgar Scandurra, “Pai Nosso da Terra” e “As Minas do Rei Salomão”
Gabriel Moura, “Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás”
Rick Ferreira e Cláudio Roberto, “Quando Acabar o Maluco Sou Eu”
Cachorro Grande, “Se o Rádio Não Toca”
Baia, “Disco Voador” e “Loteria da Babilônia”
For Fun, “DDI” e “Sociedade Alternativa”
Ana Cañas, “Medo da Chuva” e “Metamorfose Ambulante”
Nação Zumbi, “Conserve seu Medo” e “Manguetown”