Não escrevo para fazer bandas felizes, diz o "biógrafo do rock" Mick Wall
Mick Wall teve a vida que praticamente todo fã de música pediu a Deus. Escrevendo para revistas como “Kerrang!” e “Mojo”, e trabalhando como assessor de imprensa das maiores bandas do planeta, o jornalista é uma das poucas pessoas no mundo a conhecer a intimidade de Angus Young, Lou Reed, Jimmy Page e Ozzy Osbourne.
Hoje, aos 56 anos, o britânico é uma espécie de “biógrafo oficial do rock”. Tem mais de 20 livros sobre músicos e bandas, incluindo as recentes bios de AC/DC, Metallica e Guns N´ Roses. Seu último lançamento no Brasil é “Black Sabbath – A Biografia”, no qual joga luz para além de uma história cujos riffs esculpiram o heavy metal. O foco do autor, e ele faz questão de ressaltar nas entrevista, são as pessoas e suas motivações.
“Meu livros não se preocupam primeiramente com a música, apesar de também cobri-la com profundidade. Falo abertamente sobre drogas, casamentos desfeitos, mortes e tragédias. Conto histórias que as bandas tentaram esconder durante anos”, afirma em entrevista por e-mail ao UOL. “Eu trabalhei para o Ozzy e Black Sabbath por 30 anos. Este é o livro definitivo. Leia e chore.”
A franqueza e as frases de efeito são o combustível de Wall. Ele não poupa personagens. Além de chamar o Black Sabbath de “lixo” logo na primeira frase do livro, devido à má fama que o grupo carregava nos primeiros anos, redige com detalhes a tentativa de Ozzy de estrangular a mulher, Sharon, o vício do vocalista em antidepressivos e outras drogas, que o fizeram ser expulso da banda, e a aversão de Dio à cocaína e às groupies, embora não dispensasse um cigarrinho de maconha. Está tudo lá, sem peias –ou quase.
“As únicas histórias que tive de deixar de fora eram todas relacionadas a Sharon Osbourne. E me processaria se eu contasse. Não porque não são verdadeiras, mas porque são. Mesmo assim, você vai ficar chocado com as histórias que eu tenho no livro sobre ela –e Ozzy e todos os outros”, diz Wall, sem os podres preteridos.
Polêmica das biografias
Entre outras histórias, o livro sobre o Black Sabbath remonta o episódio em que o guitarrista Toni Iommi perdeu as pontas do dedo do meio e anelar da mão direita, quando tinha 17 anos e trabalhava em uma fábrica em Birmingham. O acidente redefiniu sua forma de tocar guitarra, nascida de um trauma que levaria anos para ser superado. Qualquer semelhança com o cantor Roberto Carlos e o tabu de sua perna direta, amputada após um acidente de trem, é mera coincidência.
Mas a postura proibitiva do rei, que alvoroçou autores lutando contra a publicação de biografias não autorizadas, vira alvo de desprezo por parte de Mick Wall. A grande maioria de seus livros não teve anuência dos personagens, e isso não foi problema. A maior parte dos biografados, conta, ainda são seus amigos.
“Eu não escrevo meus livros para fazer as bandas felizes. Não ligo para o que pensam. Só escrevo para os meus leitores. É por isso que os livros são tão diferentes. Sem puxa-saquismo. Sem besteiras. Apenas a verdade --o que é o mais difícil de encontrar. Sobre essa lei, então, se alguém escrever um livro sobre Hitler e ele não gostar, seria correto censurar a publicação? Claro que não. É uma lei estúpida e maligna. Quem quer ler livros sobre pessoas que só dizem coisas agradáveis que vá ler contos de fadas para crianças. Não a coisa louca e sangrenta que eu escrevo”, diz Wall, que, além do lançamento da biografia de Lou Reed no Brasil, prepara as histórias do guitarrista Joe Bonamassa e da banda The Doors. Mais sangue para os olhos dos leitores.
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