Ghost se solta em "missa" completa em SP e supera show do Rock in Rio
Menos de um ano depois de trazer sua missa negra ao Rock in Rio e a se apresentar em São Paulo abrindo para Iron Maiden e Slayer, o Ghost voltou ao Brasil com seu metal setentista sombrio e psicodélico, mas com um toque pop que o diferencia de seus pares. O grupo sueco liderado por Papa Emeritus II se apresentou no Rio de Janeiro na quinta-feira e fechou sua viagem ao Brasil reagrupando seu rebanho de São Paulo nesta sexta (05).
O sexteto se apresentou no HSBC Brasil para um público de cerca de 2.800 pessoas, tendo como principal novidade estrear como banda principal em terras brasileiras. Se em entrevista ao UOL eles defenderam que o melhor show do Ghost é apresentado quando eles têm controle total do ambiente, foi justamente o que se viu. Isto é: o grupo pôde tocar seu set completo e utilizar todo o seu aparato de luzes e cenários, com o ambiente imitando uma igreja. E foi aí que morou o sucesso em relação à passagem anterior. O Ghost de 2014 deu um banho no de 2013.
Se na primeira passagem a banda chamou muito a atenção, mas sofreu com a frieza de parte do público que estavam só no aguardo para acompanhar Iron Maiden e/ou Slayer, desta vez o Ghost teve os brasileiros na mão. O resultado foi uma interação mais quente, músicos se apresentando com mais vontade e uma experiência potencializada pelo aspecto mais intimista de uma apresentação em casa de show, em relação aos concertos a céu aberto.
Como é comum, a banda foi introduzida pela soturna “Masked Ball” de Jocelyn Pook e entrou no palco com a dobradinha “Infestissumam” e “Per Aspera ad Inferi”. O ritmo de marcha e os corais já conectaram banda e público, com os brasileiros acompanhando o vocalista, Papa Emeritus II, nas letras.
O som do Ghost nasceu calcado no hard rock dos anos 1970 e nas primeiras bandas de metal. Uma mistura sonora e temática de Blue Oyster Cult e Mercyful Fate. Foi nessa pegada mais direta do primeiro disco que eles prosseguiram e tiveram a maior reação da plateia, com “Ritual” e “Prime Mover”.
O menor palco deixou os instrumentistas mais próximos e a interação entre os chamados The Nameless Ghouls (em livre tradução, "bestas sem nome") foi quente, algo curioso de ver entre dois guitarristas e um baixista que circulam pelo palco com um longo uniforme, máscara e capuz. O som é simples e direto, e a banda afiada, o que dá espaço para uma performance energética, com um brilho mais discreto do baterista.
Já o Papa, é um show à parte e esteve bem mais solto desta vez. Sempre orquestrando com as mãos o movimento dos seus fãs e interagindo aqui e ali, ele arriscou algumas palavras em português, distribuiu beijos e fez juras de amor ao Brasil, além de fazer algumas provocações, como ao perguntar se os fãs curtiam comer carne humana ou beber sangue. A performance vocal perde impacto em relação às músicas gravadas, já que ao vivo o grupo tem de adotar playback nos backing vocals e corais, mas o grupo também melhorou neste aspecto e ganhou mais naturalidade na apresentação.
Com um set de uma hora e meia, foram 16 músicas, seis a mais do que no Rock in Rio. "Con Clavi Con Dio", com o Papa espalhando incenso pelo palco, e "Elizabeth", foram as que mais agitaram o público, ambas do debut "Opus Eponymous", tocado na íntegra. Do segundo álbum, "Secular Haze", "Year Zero" e a balada soturna que tem até surf music, “Ghuleh/Zombie Queen”, fizeram o “rebanho” do Ghost cantar junto.
Outro destaque foi a adição de dois covers: “Here Comes the Sun”, que ganha um tom muito menos feliz com os suecos do que se ouve na versão ensolarada dos Beatles, e "If You Have Ghosts", música de Roky Erickson.
A despedida, já no bis, foi com “Monstrance Clock”, convocando o público a cantar junto o refrão. Estava fechado o ritual, a “missa negra”, como os fãs da banda chamam, e em tom apoteótico, apesar da saída no escuro do grupo. Foi também o adeus aos brasileiros do personagem Papa Emeritus II, já que o grupo pretende apresentar um “novo” vocalista – ou, pelo menos, uma nova identidade visual ao frontman de sempre, como já foi feito.
O terceiro Papa virá com um novo disco, que já está em processo de composição e será gravado logo após a turnê que passou pelo Brasil. Pela expressão dos fãs após o show, eles já não veem a hora de ver o que saíra. E certamente já estão na expectativa por uma terceira passagem do Papa e seus demônios pelo Brasil, de preferência como São Paulo e Rio os viram em 2014: como uma banda principal que sabe exatamente o que fazer quando comanda seu palco.
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