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Em 50 anos de carreira, nunca tinha parado show, diz Milton Nascimento

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

12/09/2014 16h18

Quando o show conjunto de Milton Nascimento e Criolo, no final de agosto em São Paulo, foi interrompido, muito especulou-se sobre o estado de saúde do cantor, que passou mal e deixou o palco após pouco mais de 40 minutos. "Tive um mal estar momentâneo aquela noite", esclareceu Milton ao UOL. A apresentação foi remarcada para o final deste mês, mas nesta sexta-feira (12) ele volta a se apresentar ao lado do rapper paulista no palco do Vivo Rio, no Rio de Janeiro.

Em entrevista por e-mail ao UOL, Milton Nascimento explica o que aconteceu na noite em que passou mal em São Paulo, a amizade que construiu com Criolo e diz que jamais vai abandonar os palcos. "Isso é o que me faz viver", garante.

UOL - O que aconteceu com você no primeiro show do "Linha de Frente", em São Paulo? Você já está bem? O público não apenas compreendeu o fato como também ficou muito preocupado.
Milton Nascimento -
Tive um mal estar momentâneo aquela noite, e o grande azar é que foi acontecer logo em cima do palco. Nunca tinha me acontecido de parar um show em mais de 50 anos de carreira. Mas, apesar de tudo, realmente duas coisas me alegraram muito: o carinho do público e as palavras do Criolo no final daquele show interrompido. Hoje, no Rio, vamos com muito mais força. Essa é uma das turnês mais especiais da minha vida. 

O encontro com Criolo, embora seja recente, já provou ser um dos laços mais fortes na sua carreira. O que ele, sua música e essa parceria significam para você?
Já disse em várias entrevistas que Criolo é um dos caras mais incríveis que já conheci. Primeiro, quando recebi o [disco] "Nó na Orelha", fiquei muito fã do artista, do músico e do compositor. Depois, fiquei ainda mais impressionado com o amigo que ganhei. A gente se fala praticamente todos os dias, e essa turnê veio para nos unir ainda mais.

Criolo afirmou certa vez que o "Linha de Frente" é um encontro político. Concorda?
Muito simples, trata-se do meu encontro um cara que veio do rap, do Grajaú, da periferia de São Paulo, e que quase ninguém apostava, e que hoje é convidado para tocar no mundo todo. Imagina o que esse cara teve que fazer para chegar onde chegou. Tudo jogando contra, mas ele persistiu. A trajetória dele e, principalmente, sua atuação social é muita parecida com a minha, dadas as proporções de tempo e suas diferenças entre cada época. Outra coisa, apenas pelo fato de ser filho de Dona Maria Vilani, já é um ato político por si só.

Naquele dia, pouco antes de você deixar o palco, você tinha acabado de cantar "Ponta de Areia" em uma bonita versão, com a sanfona que ganhou de sua mãe, sem sustenidos, sem bemóis. O quão importante é esse instrumento para você?
Toda minha formação veio praticamente através da sanfona. Tudo começou em Três Pontas, e foi minha mãe Lília a responsável principal por tudo que sou hoje. Junto com meu pai, Seu Zino, tive o privilégio de ouvir músicas do mundo inteiro desde bem pequeno. E quando toco sanfona no show é uma forma de me conectar com ela, Dona Lília.

A emoção foi forte para você?
Muito antes do momento definitivo em que entro no palco já estou emocionado. É um privilégio muito grande estar na estrada há tanto tempo e ainda conseguir viver coisas tão maravilhosas na música. Não tem como não agradecer por isso todos os dias e ficar emocionado.

Embora alguns artistas da sua época tenham desacelerado hoje em dia, você está sempre na estrada, com uma turnê atrás da outra e, agora, com mais de um show na estrada. Qual é a importância de continuar na ativa dessa maneira? O que a estrada e o palco ainda te trazem?
O carinho das pessoas, a amizade, as viagens, os shows, e as novas experiências que ainda virão, são coisas que, enquanto eu tiver forças, jamais vou abandonar. Isso é o que me faz viver.