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Líder do Dream Theater atribui crescimento da banda à base de fãs na web

Cassiano Pereira

Do UOL, em São Paulo

03/10/2014 15h26

Músicas de mais de 20 minutos, compassos estranhos, longas sessões instrumentais. A descrição do som feito pelo Dream Theater parece o mais longe possível de uma banda de sucesso. Após quase 30 anos de existência, entretanto, hoje o grupo de metal progressivo acumula mais de 12 milhões de discos vendidos no mundo todo e já influenciou nomes como Slipknot e Avenged Sevenfold, além de manter uma turnê consagrada, como a que passa pelo Brasil esta semana --até agora, a sua maior por aqui, em sete cidades. Sem o apoio da mídia tradicional, o êxito da banda encontra uma de suas principais bases na legião de fãs que construiu, ao longo dos anos, em paralelo com o próprio desenvolvimento da internet.

"O progresso da nossa carreira internacional realmente ficou dependente de um tipo muito específico de público, que são fãs de música e pessoas que gostavam não só de heavy metal, mas de progressivo e um tipo de música desafiante", contou John Petrucci, guitarrista líder e membro original do Dream Theater, por telefone ao UOL. "Eles eram o mesmo tipo de gente que nós, que amamos música, tocar e ultrapassar as barreiras. Tem sido um grande relacionamento com os nossos ouvintes ao longo do tempo e, definitivamente, fez o que nós somos hoje".

Adriana Califano, presidente do fã-clube brasileiro YtseBR que existe desde 1998, lembra que Mike Portnoy, um dos líderes da banda que saiu em 2010, era quem tinha um relacionamento mais próximo com os fãs. "Ele interagia tanto com os fãs desde o início, por meio de listas de discussão e depois por fóruns, e às vezes isso até ia contra ele, em relação a conflitos com alguns  fãs".

As listas de discussão por e-mail, que surgiram há cerca de 20 anos e antes do uso massivo de multimídia na internet, foram uma das primeiras maneiras com que o Dream Theater fez aumentar sua comunidade internacional. Após o lançamento do formato MP3, dos canais de YouTube e da tecnologia de fóruns e redes sociais, entretanto, a banda cresceu de forma exponencial.

"A internet nos ajudou muito porque trouxe todas as comunidades juntas. Se você não era uma banda pop ou uma banda comercialmente bem sucedida, não havia como alcançar as pessoas em diferentes pedaços do mundo aonde se podiam existir fãs, porque você não estava no rádio ou na TV. Existe uma comunidade extremamente gigante e poderosa de fãs muito apaixonados por rock progressivo no mundo inteiro, e a internet nos ajudou a reconhecer essas pessoas e fazê-las parte de nosso mundo, e vice-versa, de maneira muito fácil", conta Petrucci.

Para o líder da banda, os efeitos de uma relação positiva entre artista e admiradores pode virar pessoal demais para fãs apaixonados, principalmente quando ocorrem mudanças, como a saída de Portnoy. "Acho que muitas pessoas não gostam quando existe mudança, especialmente se é algo que se manteve por muito tempo. Acho que existe um tipo de fantasia de que as coisas retornem ao jeito que eram, mas não é a vida como ela é, sabe?", diz, rindo. "Às vezes, eu mesmo me sinto da mesma maneira a respeito de bandas das quais eu sou fã, então eu entendo. Eu acho que a maioria nos apoia da maneira como nos movemos ao longo dos anos, com as mudanças e os tipos diferentes de álbuns que lançamos".

Em seu último DVD, "Breaking the Fourth Wall", lançado em setembro último, existe inclusive a participação de uma orquestra e de um coral regidos por um fã da banda, o jovem turco Eren Basbug, que também só foi possível através da internet. "Ele era um grande fã de Dream Theater que fazia arranjos de orquestra de nossa música. Jordan [Rudess, tecladista da banda] notou os arranjos que ele fez e o contatou há algum tempo, um tipo de coisa que não seria possível 15 anos atrás. O fato de alguns anos depois ele acabar trabalhando com o Dream Theater e fazendo parte do nosso DVD é inacreditável".

Visivelmente emocionado, John relata que tem sido "sensacional" seu encontro com fãs no mundo inteiro. "Agora que estamos aqui no Brasil vejo gente que estava lá com a gente no início, há quase 20 anos, no primeiro show, e eles nos dizem que continuarão a nos apoiar e a estar em todos os shows, contanto que lancemos música e toquemos para eles. Isso é algo incrivelmente inspirador para se ouvir. Como músico, quando você tem esse tipo de apoio e amor de fãs, é algo incrível".

De volta ao Brasil, a banda norte-americana traz a turnê "Along for the Ride Tour", que já passou por Porto Alegre e Curitiba, e segue para outras cinco cidades. A formação atual do Dream Theater é John Petrucci, John Myung, James LaBrie, Jordan Rudess e Mike Mangini.

04.out - São Paulo: Espaço das Américas

05.out - Rio de Janeiro: Vivo Rio

07.out - Brasilia: Net Live Brasilia

10.out - Recife: Chevrolet Hall

11.out - Fortaleza - Centro de Eventos do Ceará