Ícone do prog "ostentação", Rick Wakeman defende virtuoses e descarta Yes
Com sua inconfundível capa majestosa, dourada e de motivos cintilantes, o tecladista Rick Wakeman subirá ao palco do Teatro Bradesco, em São Paulo, nesta segunda, para dar início ao primeiro dos cinco suntuosos espetáculos que apresentará este mês no Brasil. Tocando peças intrincadas, que chegam a ultrapassar os 20 minutos de duração, o músico contará a história das seis esposas do rei Henrique VIII, além da incrível jornada do geólogo Otto Lidenbrock pelo centro da terra, inspirado em Julio Verne. Muito requinte megalamoníaco para um mero show de rock?
“Bem, acho você tem um argumento (risos). Mas é exatamente isso que tentamos fazer. O rock progressivo sempre buscou mostrar todas as habilidades que os músicos têm e o que eles podem fazer. O que pode envolver os melhores instrumentistas do mundo. Mas não vejo nada de errado nisso”, conta ao UOL por telefone Wakeman, ex-integrante do Yes. "Por exemplo, quando você tem um grande jogador de futebol, que tem habilidades fantásticas, você vai querer que ele mostre todas elas na partida. Vai sair desapontado se não mostrar.”
Sinônimo de sonoridade intrincada e diversa —e, para uma legião de críticos, exagerada e “difícil”—, o progressivo de Rick Wakeman é um dos maiores mistérios do rock. Viveu o auge comercial entre 1972 e 1973, aos comandos de bandas inglesas como Genesis, Yes e Jethro Tull. Ainda antes da eclosão punk, em 1977, os reis já haviam pedido a majestade. A queda repentina, no entanto, não os impediu de seguir arrastando um público cativo, alheio a modismos, e que parece renascer a cada geração.
“O prog rock sempre significou ser livre para fazer o que você tem na cabeça. Ele não se encaixa em nenhum tipo de fórmula. Acho que é por isso que, algumas vezes, certos jornalistas o consideram muito 'difícil’”, entende Rick. “Mas as pessoas gostam de escutar música variada. Todos têm na coleção uma mistura que pode incluir música clássica, regional, música pop, jazz, folk. E promover essa mistura é exatamente a proposta do rock progressivo.”
Surfando na onda do rock sinfônico, Rick Wakeman foi um dos primeiros astros da música a desembarcar para uma turnê no Brasil, em 1975, época que apresentações dessa envergadura eram tão raras quanto músicas de três minutos em shows do Gentle Giant. As apresentações, que chegaram a ter público de 80 mil pessoas, demarcaram o auge do progressivo no Brasil, dando a “Journey to the Centre of the Earth”, lançado no ano anterior, aura de clássico maior entre os brasileiros.
“São memória que nunca irei esquecer. Foi inacreditável, fantástico. Todos nós ficamos apaixonados pelo país, pelas pessoas. Em todos os lugares víamos coisas acontecendo. Ou as pessoas estavam jogando futebol, ou dançando ou fazendo música. Quando vimos dança, música e futebol juntos, pensamos: isso deve ser paraíso! (risos) Fizemos muitos amigos no Brasil. Tive a oportunidade de tocar outras vezes depois. Ficamos sempre ansiosos.”
Nos próximos dois anos, Rick Wakeman ficará ocupado com dois novos projetos: um ao lado do guitarrista do Queen e velho amigo Brian May, e outro, operístico, com o tenor britânico Alfie Boe. A volta ao Yes, ele diz, está totalmente descartada. Embora sempre fiel ao estilo que consagrou, Wakeman não se mostra saudosista quando o assunto são bandas novas.
“Tenho seis filhos e nove netos. Quando eles me veem, você não acredita nas coisas que eles me dão para ouvir. Gostaria de dizer que gosto de tudo, mas certas coisas são realmente interessantes. É incrível como há bandas hoje em dia que são um pouco prog rock, um pouco de punk, de funk, jazz. Fazem como nós fazíamos. Pegam tudo o que está disponível.”
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