Com fórmulas antigas, Sam Alves e Malta criam filão da estrela "made in TV"
No arenoso terreno do pop nacional, dois nomes despontaram em 2014 como novos ídolos da música brasileira. E sob a mesma fórmula: a até então desgastada plataforma dos realities shows. O cearense Sam Alves, vencedor do “The Voice Brasil”, e o grupo paulistano Malta, primeiro lugar no “SuperStar”, viveram um colorido conto de fadas ao longo dos últimos 12 meses. Em ambos os casos, a novidade não está na música que interpretam, mas no surgimento de uma espécie de novo filão de mercado, o da estrela "made in TV".
Após vencer a segunda temporada do programa de talentos vocais da Rede Globo, com 43% dos votos (cerca de 29 milhões), Sam recebeu R$ 500 mil, um carro e um contrato com a gravadora Universal. Em abril, realizou o sonho de lançar o primeiro álbum "oficial". Quase inteiramente composto por covers do pop, como Bruno Mars, Justin Timberlake e Christina Perri, o álbum estreou no topo da lista de vendas do iTunes, ancorado pelos singles "Be with Me" e "Você Merece Mais", que ganharam clipes bem produzidos -- assista aqui.
Os shows se mutiplicaram, incluindo participações no Réveillon da avenida Paulista e no festival Planeta Atlântida. Em sua Sam Alves Tour, o músico faz até dez apresentações por mês, com públicos que variam entre 1.000 e 2.000 pessoas. O ano de Sam Alves também foi marcado por prêmios: o de melhor cantor do Brazilian International Press Awards, nos Estados Unidos, e o Prêmio Mutishow de Música Brasileira, que venceu na categoria experimente.
"Depois do programa, a vida mudou completamente. A principal diferença é essa rotina de shows, que eu não tinha antes, pelo Brasil inteiro e até fora. Vamos fazer um show nos EUA em janeiro. Lançamos CD, dois clipes, vencemos o Prêmio Multishow, dois clipes. São muitas coisas que eu não esperava para um primeiro ano de carreira", diz Sam, que já trabalha na produção do segundo álbum.
"Irmã" de Sam Alves, a Malta viveu em estado de graça em 2014. Um mundo praticamente perfeito desde que se sagrou campeã do programa "SuperStar", em com 74% dos votos do público. Assim como o vencedor do "The Voice Brasil", a banda levou para casa o prêmio de R$ 500 mil, além de um contrato com a gravadora Som Livre, pertecente ao Grupo Globo.
Vencedores do prêmio Prêmio Rock Show e do Capricho Awards, a banda formada em 2013 dominou os ranking do iTunes, emplacando músicas como “Memórias”, “Lendas” e “Diz pra Mim”, esta incluída na trilha da novela “Alto Astral”. O álbum “Supernova” não ficou atrás. Bateu recorde de vendas já no primeiro mês. Em outubro, alcançou o hoje raro disco de platina, com 200 mil cópias vendidas, repetindo bandas como o Los Hermanos. Na enquete de retrospectiva 2014 do UOL, a Malta lidera com folga na categoria "Revelação", com 42.3% dos fotos.
Reflexo de tantos números positivos, os shows estão sempre lotados, chegando a reunir oito mil fãs em histeria. A rotina de rock star à moda antiga torna quase impossível agendar uma conversa com os integrantes, cujos compromissos praticamente se restringem aos shows e a entrevistas nos programas da Rede Globo.
“Quando surgiu a chance de participar do programa, fomos à Globo assinar o contrato, mas eu não podia aceitar os termos, porque sou produtor e tenho muitos compromissos, acabei tendo de sair”, disse à reportagem o produtor e guitarrista Giu Daga, irmão do baterista Adriano. O UOL tentou, mas não conseguiu um espaço na agenda da banda. "Todos da Malta sempre foram muito comprometidos. Eles são empenhados e perfeccionistas. Pessoal largou família, estudos, para se dedicar à música. Isso explica muito do sucesso."
Fenômenos
Em comum, além de um forte apelo estético —são bonitos, simpáticos, sabem se portar frente às câmeras e capricham no visual—, Sam e Malta provaram que o grande sucesso não depende de originalidade ou mesmo identidade. Artisticamente, ambos estão congelados em algum momento do início dos anos 2000.
Sucesso de público mas não de crítica, nenhum deles traz novidades ou vem na proa de um movimento. Mas parecem entender bem o contexto cíclico do showbusiness: o importante é, antes de tudo, estar no lugar certo na hora exata. E mais: saber preencher as lacunas de um mercado cada vez mais pulverizado, mas que nunca deixou de trazer consigo um público grande e diverso, sedento por novidades —mesmo que não tão novas assim.
Sam é uma versão masculina da Whitney Houston, sua maior influência como performer. A estratégia de regravar sucessos do pop é parecida com a de um fenômeno fugaz surgido no começo dos anos 2000, quando artistas como Emmerson Nogueira, Alex Cohen e Danni Carlos apareceram explorando o repertório do pop rock internacional, saindo dos bares diretamente para as prateleiras das lojas. Com o fim da onda do “boteco mainstream”, nenhum desses nomes conseguiu se manter em evidência. Um desafio para Sam.
“A ideia de lançar o primeiro disco com covers era para não chegar ao mercado com coisas novas, para a galera não estranhar. Mas já viemos com duas músicas novas: ‘Be With Me’, que é minha, e ‘Você Merece Mais’, versão em português de uma inédita em espanhol, do Luis Fonsi. Mas acho que, se a gente tivesse feito um disco com maioria de inéditas, todos teriam curtido do mesmo jeito. As duas músicas novas são as que eles cantam mais alto nos shows”, diz Sam Alves, que planeja lançar o segundo álbum em 2015, este recheado de composições autorais.
Se Sam Alves ainda luta por um lugar mais brilhante ao sol, a banda paulistana Malta está um ou dois passos à frente do cearense. Mesclando baladas com certo peso nas bases, o sucesso do álbum “Supernova” serviu não só de trampolim para os novatos, mas fez um já esquecido “rock romântico”, de verve pós-grunge, retornar com força às paradas. Creed e Nickelback à brasileira.
Mesmo com a voz excessivamente rasgada do vocalista Bruno Boncini e uma sonoridade pouco original, a Malta acertou em cheio em um público carente por novidades “roqueiras”, mas que não abre mão das melodias mais cheias de glacê. O sucesso comercial foi visto por executivos de gravadoras como um sopro de esperança não só para o rock de massa, mas também para o moribundo mercado fonográfico brasileiro, refém do sertanejo e de seus discos ao vivo.
“Toda banda precisa achar uma direção, um formato sonoro. Quando a Malta se reuniu, todos com a ideia de fazer um trabalho autoral, a gente ficou na dúvida entre um lance muito pesado e outro mais pop, com influências country. Quando surgiu a oportunidade do programa, decidimos juntar os dois. Bases distorcidas com melodias pop. Acho que acertamos”, conta o produtor e ex-integrante Giu Daga.
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