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Chitãozinho: "Sem Inezita Barroso, a música caipira fica desprotegida"

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

09/03/2015 14h11

Inezita Barroso não ganhou o título de grande dama da música caipira à toa. Uma das intérpretes mais populares do gênero, ela também foi uma exímia pesquisadora da cultura caipira. Doutora Honoris Causa em folclore brasileiro, ela dava aulas sobre o tema enquanto se aventurava no cinema e nos programas de TV.

“Ela foi a maior defensora da cultura caipira que o Brasil já teve. Dedicou a vida à divulgação dessa cultura que ela aprendeu ao conviver com as pessoas do interior”, conta o sertanejo Chitãozinho ao UOL.

Para o músico, o trabalho de conservação das raízes do sertanejo e da cultura do homem do interior é uma das maiores heranças que Inezita, morta no domingo (8) aos 90 anos, deixa ao país.  “Acho que a música caipira vai ficar um pouco desprotegida, as gerações futuras não terão acesso a esse programa como ela fazia. Vamos correr esse risco”, observou.

Nos anos 60, Inezita também viajou por todo o Brasil para ampliar sua pesquisa musical. Em uma das filmagens nos estúdios do Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, ela ficou com um jipe usado na gravação e partiu em uma viagem ao Nordeste com esse objetivo. Na época, mulher no volante era tabu, imagina desbravar comunidades do sertão brasileiro. "Posso afirmar até que eu 'causava'", Inezita comentou, divertida, no livro “Inezita Barroso – Rainha da Música Caipira", escrita por depoimento ao jornalista Carlos Eduardo Oliveira.

Sempre crítica à modernização do gênero, chegando a chamar a atual safra de sertanejos de “sertanojo”, Inezita guardava admiração especial por cantores como Chitãozinho e Xororó e Daniel, por, segundo ela, cantarem e tocarem como nos velhos tempos.

Chitãozinho se recorda da primeira vez que se apresentou no programa “Viola Minha Viola”. “Estávamos começando a fazer sucesso. No principio, ela ficou meio assim porque a gente, na época, estava modernizando a música. Depois ela entendeu a necessidade daquele trabalho e nos convidou para participar do programa. Levamos uma banda e foi muito legal."

A última participação de Chitãozinho e Xororó no “Viola Minha Viola” foi em 2011. Inezita fez questão de cantar o clássico sertanejo, “Chitãozinho e Xororó”, composto por Athos Campos em 1939 e que viria dar o nome a dupla anos depois.

"Das últimas vezes que nos vimos ela disse: ‘É tudo tão bonito, tão emocionante. Vocês cantam e tocam de verdade”. Ela fez questão de cantar ‘Chitãozinho e Xororó’ e foi um momento muito especial. Precioso”, recorda.