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Para Rolando Boldrin, manter música viva é a melhor homenagem a Inezita

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

09/03/2015 13h28

O músico, ator e apresentador Rolando Boldrin foi um dos amigos de Inezita Barroso que prestou sua homenagem no velório da ícone da música caipira, que acontece nesta segunda (9) na Assembleia Legislativa de São Paulo. A cantora morreu na noite do domingo (8) de uma insuficiência respiratória aguda.

Para Boldrin, além de lembrar o passado de Inezita, uma das melhores formas de homenageá-la é manter viva a música caipira de raiz.

"O meu desejo é que a gente continue cantando a música sertaneja e passando isso para frente como homenagem a Inezita",  disse ao UOL o apresentador do programa "Sr. Brasil", da TV Cultura, e, ao lado de Inezita, um dos maiores defensores da música tradicional do interior do país.

"Demoramos muito a nos encontrar", lembrou o apresentador e contador de "causos" do folclore interiorano. "Isso foi há 50 anos, durante um bom tempo conhecíamos o trabalho um do outro, mas não nos conhecíamos pessoalmente. Ela era muito mais que uma cantora, ela era também uma atriz que decidiu cantar a música sertaneja".

O enterro de Inezita Barroso acontecerá às 17h no cemitério Gethsemani, no Morumbi, zona sul da capital paulista.

Homenagens

Um dos famosos que foram prestar homenagem a Inezita foi o cantor e compositor Silvio Brito. "A gente sempre jantava junto. Ela gostava muito de conviver com os amigos, de bater papo. Nos encontrávamos muito em shows, tínhamos muitos amigos em comum", disse ele. "Realmente, ela foi fiel em levar adiante a historia da música caipira, a importância da música caipira."

Outros músicos que estiveram no velório foram Lourenco e Lourival, dupla caipira que tinha amizade com Inezita. "A gente trabalhava com ela em circo. Isso no final da década de 1960. Ontem mesmo fizemos uma homenagem a ela na TV Cultura, dos 90 anos [da cantora] e de 35 [do 'Viola, Minha Viola', na TV Cultura", disseram os sertanejos. "Ela era a bandeira da música brasileira. Era uma folclorista que nunca abandonou a música sertaneja. Ela gostava mesmo da música de raiz. Gravamos umas músicas modernas, e ela disse para não fazermos isso nunca mais."  

No final da manhã, o cantor sertanejo Donizetti, que começou sua carreira ainda criança no palco do "Viola", chegou ao velório. "Quando ela me abraçava, ela sempre dizia que eu estava muito bonitinho. Ela tinha muito carinho com a gente. Ela representou a cultura caipira muito dignamente. Inezita foi uma inspiração para mim como foi Jose Rico. Dois grandes ícones da musica que se foram e que temos que respeitar muito", disse o cantor. 

Quem também compareceu ao velório foi o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. "Já estamos com saudades da Inezita Barroso. Durante 35 anos, o programa dela encantou São Paulo e o Brasil", disse Alckmin, que revelou já ter ido ao programa. "Quando ela fez 88 anos, fui ao programa dela, e alguém perguntou o segredo da vida longa e feliz. Ela dizia que amava a música caipira, gostava do que fazia e fazia bem feito. Ela resgatou as raízes do nosso país."

Trajetória

Ignez Magdalena Aranha de Lima, nome de batismo de Inezita Barroso, nasceu em 4 de março de 1925, no bairro da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Filha de família tradicional paulistana, passou a infância cercada por influências musicais diversas, mas foi na fazenda da família, no interior paulista, que desenvolveu seu amor pela música caipira e pelas tradições populares.  Formou-se em biblioteconomia pela USP e foi uma grande pesquisadora do gênero musical. Por conta própria, percorreu o Brasil resgatando histórias e canções.

Além da cantora, foi instrumentista, arranjadora, folclorista e professora. Em cerca de 60 anos de carreira, gravou mais de 80 discos. Como intérprete, sua gravação mais famosa foi "Moda da Pinga", dos versos "Co'a marvada pinga é que eu me atrapaio/ Eu entro na venda e já dô meu taio/ Pego no copo e dali num saio/ Ali mesmo eu bebo, ali mesmo eu caio/ Só pra carregá é queu dô trabaio, oi lá!".

Na televisão, iniciou a sua carreira artística junto com a TV Record, onde foi a primeira cantora contratada. Depois, passou pela extinta TV Tupi e outras emissoras, até chegar à TV Cultura para comandar o "Viola, Minha Viola", que apresentava desde os anos 1980.

Inezita manteve a rotina de apresentações e gravações do programa até 2014. Em dezembro, ela chegou a ser hospitalizada após cair dentro da casa de sua filha, em Campos do Jordão, no interior de São Paulo. Desde então, não participou mais do seu tradicional programa de música sertaneja.