Queridinha da MPB, portuguesa Carminho diz que fado pode emplacar no Brasil
A cantora portuguesa Carminho se diz privilegiada pela sorte. Sucesso instantâneo, pôde gravar logo no segundo disco, “Alma” (2012), com alguns de seus maiores ídolos: Chico Buarque, Nana Caymmi e Milton Nascimento. Ao lado do último ela subirá no palco do HSBC Brasil, em São Paulo, no próximo dia 11 de abril, apresentando uma peculiar mistura de fado e música brasileira.
“[Conhecer Milton] Foi incrível, indescritível, um momento de concretização”, diz ao UOL por telefone, falando de Lisboa. “Só de ouvir o nosso deus dizendo o meu nome... Quer dizer, não posso dizer Deus, porque sou religiosa. Que fique assim para não ofender, mas realmente ele é um deus na música. Estar com ele é sentir a expressão máxima de um artista.”
Aos 30 anos, de voz remansa e pausada, Carminho —apelido de Maria do Carmo Carvalho Rebelo de Andrade— é uma das fadistas mais respeitadas da nova geração. Mistura o tradicional gênero popularizado por Amália Rodrigues nos anos 1960 a toques de música pop, o que ajudou a abrir portas para a carreira internacional, longe da recente crise econômica portuguesa.
Carminho
Acho que é possível, sim [fazer sucesso no Brasil cantando fado]. O Brasil tem milhões de pessoas, muito mais que Portugal. Falamos a mesma língua, uma ligação umbilical. Uma história que nos tornou irmãos.
O estilo ao mesmo moderno e tradicionalista já rendeu elogios emocionados de Caetano Veloso. Ney Matogrosso, com quem gravou a música “Ser Feliz”, a trata como uma querida (“como vocês falam aí”), assim como a amiga Marisa Monte, parceira de “Chuva no Mar”.
Do “descobridor de talentos” Milton Nascimento, talvez o aplauso maior. Em entrevista, “Bituca” já afirmou que simplesmente não conseguiu acreditar quando a ouviu cantando pela primeira vez. Se a alta cúpula da MPB já se rendeu aos encantos da voz doce e profunda da lisboeta, falta ainda o reconhecimento do grande público do país.
“Acho que é possível, sim [fazer sucesso no Brasil cantando fado]. O Brasil tem milhões de pessoas, muito mais que Portugal. Falamos a mesma língua, uma ligação umbilical. Uma história que nos tornou irmãos. Isso é fortíssimo. Basta conseguir entrar. Uma vez que o brasileiro comece a ouvir as letras, a intensidade da melodia e a história que está por trás, tudo se torna uma mesma cultura, a 'nossa' cultura.”
Fã na mesma proporção de fadistas como Beatriz da Conceição e Amália Rodrigues e de nomes brasileiros como Elis Regina e Nana Caymmi (“ela tem tudo que eu projetaria para mim”), Carminho vê um meio termo nesse caminho nem tão transatlântico assim. Muitos, inclusive, defendem a tese de que o fado tem origem afro-brasileira, oriundo de danças como o lundum e a umbigada.
“Na verdade, o que penso que há de comum é a profundidade. Nós somos mais melancólicos. Vocês, mais alegres e coloridos, mas há sempre uma profundidade grande nas temáticas dos dois lados. E mesmo na dor. Muita gente diz que o brasileiro é só alegre, mas eu não sinto isso. O brasileiro sabe cantar muito bem a dor.”
Outra similaridade entre as culturais musicais de Brasil e Portugal seria o oceano. Uma temática recorrente, que remete a uma imensidão misteriosa —ainda que convidativa. E que a leva a recitar. “Como diria Vinicius, ‘o sal das minhas lágrimas de amor criou o mar que existe entre nós dois para nos unir e separar.”
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