Reconhecida nos EUA, brasileira era zoada pelos amigos por cantar ópera
Ela é cantora de ópera e já se apresentou em palcos da Itália, Áustria, Russia, Estados Unidos, Bulgária e México. Também venceu uma competição de artistas internacionais, que lhe abriu três vezes as portas de um dos principais palcos do mundo, o Carnegie Hall, em Nova York. Mesmo assim, a soprano carioca Daniella Carvalho, 41, ainda é pouco conhecida no seu país de origem, mas ela diz que as coisas estão mudando.
Em março deste ano, ela fez sua estreia no Theatro São Pedro, em São Paulo, com a peça "O Amor dos Três Reis", que não era montada no Brasil há 96 anos. "As coisas que eu faço são mais noticiadas lá fora, mas acho que as pessoas estão me conhecendo mais de alguns anos pra cá", disse Daniella, que vive há 17 anos nos Estados Unidos, e fez apenas uma passagem rápida pelo país.
Vendendo K7 na escola
Apesar de sua formação acadêmica ter acontecido toda em Nova York, Daniella começou a cantar com oito anos de idade. Antes de contar como tudo começou, ela avisa: "É uma história meio idiota...No segundo ano do Ensino Fundamental, tive que fazer uma poesia e, achando que aquilo não era suficiente, transformei em música", contou.
Motivada com as primeiras notas, ela e outras cinco amigas fundaram um grupo musical, batizado de As Serelepes. Gravaram fitas K7 e começaram vender a arte no recreio, mas a diretora vetou o comércio e decidiu montar um coral. "Acho que eu sempre quis ser artista, só não sabia o veículo. Quando ia dormir na casa da minha madrinha, me vestia e me maquiava para tirar foto".
Daniella Carvalho
As coisas que eu faço são mais noticiadas lá fora, mas acho que as pessoas estão me conhecendo mais de alguns anos pra cá
A aproximação de Daniella com a música clássica foi natural, já que tinha contato com o gênero desde criança, graças ao pai, que a levava a concertos e óperas. Sua vocação só não foi natural para os amigos. "Eles não entendiam e me zoavam muito, mas comecei a levá-los para ver ópera comigo e até hoje eles falam: 'Lembro quando fomos ver o 'Navio Fantasma' [ópera de Richard Wagner, de 1843] com você'. Hoje eles curtem e compartilham tudo da minha carreira. Torcem muito".
Popularização no Brasil
Apesar de ter desempenhado papéis importantes no mundo todo, como os personagens-título de "Madame Butterfly", em Miami, e "Tosca", na Rússia, ela expressa o desejo de que a ópera se popularize ainda mais no Brasil. Há interesse em todos os estados, ela garante, não só no eixo Rio-São Paulo. "Como tenho família em Aracaju, acompanhei o trabalho de uma orquestra jovem de um bairro carente. O número de jovem que apareceu para as audições foi três ou quatro vezes maior que o esperado. As crianças ficam lá, apaixonadas, aprendendo a tocar todos os instrumentos, tendo coro", contou ela, que já interpretou Mimi, de "La Bohème", em uma montagem na capital sergipana.
Ela acredita que o interesse do público é o mesmo que o das crianças que querem se profissionalizar. "Se tiver mais incentivo e preços mais baixos, é possível levar ópera a cada vez mais gente. A ópera nasceu elitizada, patrocinada pela corte, mas com os anos isso foi mudando". Em maio, a soprano segue para Manaus para o tradicional Festival Amazonas de Ópera, onde fará sua estreia no papel de Adriana, em "Adriana Lecouvreur".
Enquanto o dia de voltar ao país não chega, ela conta qual é sua tática para estar sempre em contato com o país: "Adoro ouvir música brasileira para me sentir mais perto. Estou sempre com Maria Bethânia, Marisa Monte e Caetano. Ajuda a amenizar as saudades".
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