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Roberto Medina diz que seria impraticável repetir Rock in Rio de 1985

Roberto Medina, criador do Rock in Rio - Marco Antonio Teixeira/UOL
Roberto Medina, criador do Rock in Rio Imagem: Marco Antonio Teixeira/UOL

Jotabê Medeiros

Colaboração para o UOL

14/09/2015 07h00

Aos 66 anos, o publicitário e empresário Roberto Medina já levou até agora 8 milhões de pessoas em 2 continentes ao Rock in Rio, festival que criou há 30 anos. Mas ele revela hoje que, olhando para as imagens do que foi o primeiro Rock in Rio, há 30 anos, ainda para e fica um tanto aturdido: “Como a gente conseguiu? Como abastecia de comida tanta gente? Como o trânsito fluía? Eu saí de manhã no primeiro dia do festival e vi aquela multidão nas ruas do Rio de Janeiro e pensei: o que é que eu fiz?”, confessa. “Hoje, acho que eu não saberia como fazer, porque as coisas complicaram muito. É uma infinidade de advogados, de exigências, de licenças. O mundo está muito burocrático. Eu imagino que hoje, se quisessem colocar o Cristo Redentor lá em cima, não conseguiriam. Precisaria muita licença, muito órgão ambiental para consultar”, ele diz.

Medina considera que o Brasil vivia na infância do show business quando o Rock in Rio surgiu, há 30 anos. As maiores plateias da época no País giravam em torno de 40 mil pessoas, e ele reuniu 1,3 milhão. “Foi uma travessia sair da Idade da Pedra e entrar direto em um negócio de tal envergadura, de tanta sofisticação”, diz. Sua motivação, curiosamente, foi uma briga conjugal. Em sua casa, em Ipanema, ele e a ex-mulher discutiram porque ele estava disposto a ir embora do Brasil e ela resistia à ideia – o empresário conta que a então esposa o provocou, dizendo que ele ainda não tinha feito algo realmente grande no País.
“Eu fiquei transtornado. Não dormi aquela noite. Fiquei rabiscando na sala, esquematizando tudo. Já estava tudo ali: o nome Rock in Rio, a ideia do local, a abrangência de gêneros”, conta. Mas, ao levar a ideia para sua agência de publicidade, as equipes de criação rejeitaram unanimemente suas pretensões. “Aí, foi um trabalho de convencimento que perdura até hoje”.

Artistas que participaram daquela edição concordam que o Rock in Rio 1985 foi um marco. “Quando a gente viu o tamanho daquela coisa, foi uma paulada na moleira. O Brasil se sentiu supervalorizado, porque até então a gente era tupiniquim, não é?”, exclama a cantora Baby do Brasil, que volta à edição de 2015 ao lado do ex-marido, o guitarrista Pepeu Gomes. Ela estava grávida de 8 meses naquele ano, e pretende também levar o filho Kriptus Baby, hoje trintão, para subir ao palco com os pais.

O Rock in Rio influenciou diversas carreiras executivas bem-sucedidas, como a do produtor Luiz Calainho, que tinha 19 anos e foi à primeira edição. “Aquilo me estimulou. Além do que significou para o rock nacional, o salto de qualidade que teve a partir dali, há o legado do sonho, do enfrentamento dos desafios que o Rock in Rio nos ensinou”, considera Calainho, que voltou à edição seguinte, em 1991, já como todo-poderoso executivo da Sony Music e empresário de artistas do cast do evento, como George Michael.

“Em janeiro de 1985 eu estava em casa, vendo TV num aparelho em preto e branco de 12 polegadas, quando vi o Paralamas no palco. De boa, cara: aquilo chapou. Eu queria estar lá”, diz o guitarrista do Legião Urbana, Dado Villa-Lobos. O cantor Toni Garrido, vocalista do Cidade Negra tinha 16 anos na época, e foi ao festival. Em edições seguintes, já pop star, foi escalado diversas vezes para palcos menores com sua banda, a última no Rock in Rio USA. Em 2015, no entanto, ele vibra com o que considera a sua emoção máxima como protagonista. “Nós vamos tocar no Palco Mundo, ali onde os diamantes são fundidos. É a primeira vez em 30 anos que uma banda de reggae é escalada. No ano que vem, vamos evoluir tanto que faremos o Reggae in Rio”, exagera.

Roberto Medina diz que seu insight inicial foi e permanece sendo o mesmo. "Cerca de 55% das pessoas que vão a um shopping não vão para comprar, vão para ver, socializar. Eu já tinha isso em mente em 1985. O Rock in Rio hoje, segundo pesquisa do governo do Rio, é mais popular que as Olimpíadas, o Carnaval e o Réveillon". Ele não evita a controvérsia – até parece procurá-la. “Num festival, não dá para cantar músicas novas. O pessoal quer cantar junto, quer os hits”, considera Roberto Medina, ao relembrar a vaia que Erasmo Carlos recebeu em 1985. “Foi uma infelicidade dupla: nós o escalamos no dia errado, não casamos bem a escalação, e ele queria cantar canções desconhecidas, em vez dos seus sucessos”.

Medina também não se abala com os rótulos de “comercial” e “repetitivo”, e explica: “É errado dizer que é um evento comercial. Não é, é inteligente. A interferência das marcas de empresas no palco é zero, é mais puro. Se você for a outros festivais, vai notar que batizam os palcos com nomes de marcas. Nós não. Mas nós captamos 12 vezes mais patrocínio do que os americanos, por exemplo. Não é porque nada, é porque é a única conta que paga os shows, caso contrário o preço dos ingressos seria impraticável”.

Quanto à sensação de déjà vu da escalação, ele admite: “Qualquer evento grande de música que você fizer hoje, não tem como não repetir bandas. Existem apenas umas 5 ou 6 que têm cacife para tocar para mais de 80, 100 mil pessoas no mundo. O que torna o evento um pouco repetitivo do ponto de vista artístico”.

Com preços considerados um tanto salgados para a edição que começa no próximo dia 18, o Rock in Rio 2015 ainda assim deixou 1 milhão de pessoas na fila de espera para comprar um ticket. Geralmente vendia tudo em horas, mas dessa vez levou 4 dias. Medina atribui a demora a um erro da operadora de venda de bilhetes. “A máquina quebrou por causa da grande procura e informava que estava tudo esgotado. Demorou muito para consertar, o que causou essa demora”.