Análise: Sábado "pesado" atraiu mais fãs de música do que de oba-oba
Diferente do que se viu no primeiro dia de Rock in Rio 2015, o sábado teve menos oba-oba e mais gente interessada em música. A média da faixa etária da multidão era nitidamente mais nova. E, embora o público não fosse necessariamente jovem, estava mais disposto a ver os shows do que simplesmente se divertir no parque temático de patrocinadores.
O som também melhorou consideravelmente, principalmente se levarmos em conta o volume das atrações. Tirando os imperdoáveis apagões durante o show do Metallica --um mico que poderia ter se transformado em desastre caso os silêncios durassem mais tempo--, os dois palcos estavam com o som mais nítido e era possível ouvir todos os instrumentos com clareza, mesmo nas bandas mais barulhentas.
Claro que os selfies, os celulares apontados para o palco e os registros para as redes sociais persistem: são uma característica de nossos tempos. Mas os shows de sábado eram, em sua maioria, vistos com os olhos, e não através dos monitores dos telefones portáteis do público. As bandas exerciam um poder de magnetismo sobre a plateia que fez os dois palcos permanecerem lotados o tempo todo --ao contrário de sexta, quando a maior parte do público preferia deitar-se na grama sintética para esperar o último show (Queen + Adam Lambert) do que assistir às outras apresentações que não conheciam.
As bandas, afinal, tinham algo em comum: o som pesado. E por mais que o industrial do Ministry esteja num extremo oposto do blues rock do ótimo Royal Blood (que segurou sua apresentação só com baixo e bateria), o volume ensurdecedor das caixas de som fazia fãs de diferentes bandas acompanharen shows que talvez não assistissem caso não estivessem no festival. É fácil resumir o sábado como "o dia do metal", mas a árvore genealógica do gênero há tempos cresce para além do estereótipo tradicional do heavy metal.
Ajudou o fato de que as apresentações do palco principal ainda são atrações na ativa. Por mais antigo que o Metallica seja, eles ainda são uma banda que lança discos com músicas novas em vez de viver apenas do passado. No Palco Mundo, só o Mötley Crüe dedicou-se aos flashbacks, mas ainda se dá um desconto pelo fato do show do Rock in Rio fazer parte da última turnê da carreira da banda.
Já o Palco Sunset promoveu a volta dos mortos-vivos do dia. A esdrúxula combinação entre Angra e Dee Snider, do Twisted Sister (que tiveram seu grande momento com a clássica "We're Not Gonna Take It"), o arrebatador som do Ministry e um disputado Korn garantiram a presença maciça do público.
As pessoas também passavam longe do clichê do "metaleiro", um termo popularizado no primeiro Rock in Rio, em 1985. O cabelo curto era a regra, bem como a onipresença do boné e as camisetas, que não são mais apenas pretas tampouco tinham estampas somente de bandas, mas também de personagens de quadrinhos, séries de TV, desenho animado, videogame e até camisas de time de futebol. O aspecto quase indigente do fã brasileiro de heavy metal do passado foi substituído por um ar mais família e mais saudável, incluindo um farto público feminino --outra mudança considerável que ocorreu no gênero nos últimos 30 anos.
Será que os fãs de heavy metal de hoje são o que eram os fãs de rock de outrora? Se os ouvintes de rock parecem desatentos e alheios à música que curtem, o público do som pesado está acompanhando tudo bem de perto, inclusive as bandas que não conhecem.
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