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Por que o Calypso não volta? Artistas contam como superaram brigas internas

A notícia do fim do casamento de 18 anos de Joelma e Chimbinha abalou os fãs e desmanchou a Calypso - Montagem BP
A notícia do fim do casamento de 18 anos de Joelma e Chimbinha abalou os fãs e desmanchou a Calypso Imagem: Montagem BP

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

03/11/2015 15h54

A máxima de que o convívio dentro de uma banda é semelhante a um casamento nunca fez tanto sentido quanto no caso da Calypso. A banda tem se desmanchado junto com a separação de Joelma e Chimbinha. O desfecho, com trocas de acusações e revelações íntimas, é acompanhado em público, confundindo ainda mais a vida conjugal com a profissional. A própria cantora afirmou em entrevista ao "Fantástico": "Eu acho que o objetivo dele [Chimbinha] era mais financeiro do que familiar".

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Os fãs imploraram para que o casal reatasse, mas, ao que tudo indica, o que era para ser um negócio a parte, acabou virando questão de foro íntimo. Brigas entre companheiros de banda existem desde sempre e em qualquer nação, mas o guitarrista Edgard Scandurra, do Ira!, vê como algo tipicamente brasileiro.

"Temos uma relação muito passional com o trabalho. Em outros países, parece que eles têm uma consciência em relação aos fãs e a indústria. É uma visão mais fria, mais profissional", observa o músico, que após seis anos do fim do Ira! reatou os laços com o vocalista Nasi. "Tem lendas, como no caso dos Rolling Stones, de que o Mick Jagger e o Keith Richard se odeiam, não se falam direito, mas continuam fazendo shows".

Mesmo encarando a banda como uma empresa, Mick Jagger e Keith Richards também precisaram de uma longa conversa para cortar o clima crescente de tensão antes de a banda sair em turnê, em 2010. Assim como os Stones, foi apenas com a cabeça fria e uma conversa franca que Nasi e Edgard colocaram uma pedra nas discordâncias. O Ira! se tornou um bom e raro exemplo de banda a superar os atritos, algo que Edgard não acreditava ser possível. "Eu achava que não teria retorno. Foram os piores anos de minha vida".

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Queríamos tanto o sucesso e, quando veio, veio tão grande e tão forte que a gente se envolveu demais. Éramos dois duros (...) quando a gente viu, estávamos nesse emaranhado

Em 2007, quando estourou a notícia da separação do Ira!, os fãs estranharam --afinal, não havia relatos de brigas nos 30 anos de carreira. Hoje, o músico observa que foi justamente o "excesso de respeito" que prejudicou a relação. "Gerou certa omissão de opinião, de vontades. Muito receio. Na hora que cada um foi falar, a coisa virou um desabafo violento. E veio tudo, reclamação de letras de música, desejos artísticos", lembra Edgard.

O imbróglio levou seis anos para ser resolvido, até o momento em que Edgard ficou sabendo que Nasi queria retomar o contato. "Tive uma conversa breve com o Nasi. Ele se desculpou por alguma coisa que ele fez, e eu precisava ouvir essas desculpas. Havia acontecido coisas desagradáveis". Foi um show beneficente em 2013 que reuniu os amigos novamente no palco. Logo em seguida, veio o primeiro show oficial da volta da banda --ou parte dela: ainda há arestas a serem aparadas com os outros integrantes. "Eu queria que essas pazes fossem feitas por todos da banda. Ainda espero isso", revela Edgard.

Nasi, apesar do bom convívio com o parceiro musical, prefere não se lembrar dos anos que passaram. Segundo o assessor do cantor, ele está trabalhando em seu disco solo e prefere não falar mais sobre este assunto.

"Chupins" da vida

Com laço familiar ainda mais estreito, os irmãos Edson e Hudson também se afastaram profissionalmente por causa de uma briga pessoal, em 2008. Passada a má fase, a dupla observa que o maior problema foi o envolvimento de outras pessoas nos momentos de discordância.

"Se eu estava com algum problema, ninguém chegava e dizia: 'Não, calma, respira aí'. Era: 'É mesmo, o Edson não deveria ter dito aquilo, ele te ofendeu'. Estou dando um exemplo tosco, mas é bem isso que acontecia. São os 'chupins' da vida, que mamam na teta e torcem para que a coisa piore. A gente deixou de enxergar um ao outro", lamenta Hudson.

Assim como a reclamação de Joelma, Edson conta que a falta de estrutura em relação ao sucesso degringolou ainda mais a relação. "Queríamos tanto o sucesso e, quando veio, veio tão grande e tão forte que a gente se envolveu demais. Éramos dois duros, vendíamos o almoço para comprar a janta e, de repente, tínhamos uma puta grana. Quando a gente viu, estávamos nesse emaranhado", relembra Edson.

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Entre o amor e a profissão

Se com amigos e irmãos a relação precisa de cuidados constantes, a atenção precisa ser redobrada quando se trata de um casal. O grupo sueco Abba, formado por dois casais, não resistiu quando os integrantes resolveram anular o matrimônio. Primeiro foi Agnetha e Björn, em 1979. Dois anos depois, Anni-Frid e Benny também se divorciaram. Na época, a banda divulgou uma nota dizendo que a decisão não atrapalharia os planos futuros da banda. O Abba acabou durando mais um ano. Seu biógrafo oficial, Carl Magnus Palm, é categórico: "O Abba começou como um grupo formado por dois casais apaixonados, e, quando o amor se foi, grande parte da energia do Abba desapareceu".

O mesmo aconteceu com os heróis do rock alternativo Sonic Youth, encabeçados pelo casal Thurston Moore e Kim Gordon. A baixista descobriu a traição do marido e pediu separação. Os integrantes logo perceberam que a energia da banda já não seria mais a mesma e anunciou uma pausa que dura até hoje. "Marido e mulher tem que esperar o turbilhão passar para sentar e resolver as questões pessoais", avalia Scandurra.

Para Edson, o Calypso surgiu junto com o relacionamento de Chimbinha e Joelma e, por isso mesmo, só faz sentido se o casal estiver junto. "Calypso sem Joelma e Chimbinha não dá em nada. Eu tentei minha carreira solo e não deu certo. Foi bem meia boca. O dia mais feliz da minha vida foi quando eu voltei com meu irmão", relembra Edson. "Mas não é fácil, há muita insegurança a cerca da gente nesse processo".