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Bowie sabia de fase terminal, mas queria gravar mais um disco, diz produtor

Do UOL, em São Paulo

14/01/2016 09h10

Cerca de uma semana antes de sua morte, David Bowie tinha planos de gravar mais um disco. Durante as últimas semanas de vida, que antecederam o lançamento de "Blackstar", Bowie escreveu e mostrou cinco novas músicas para o produtor e amigo de longa data, Tony Visconti. Via Facetime, ele disse que estava ansioso para voltar ao estúdio mais uma vez.

Bowie sabia desde novembro que seu câncer era terminal, mas imaginava que teria mais alguns meses de vida. “Eu estava emocionado e pensei, e ele pensou, que ele teria poucos meses, pelo menos”, disse Visconti à “Rolling Stone”. “Obviamente, se ele está animado em fazer o próximo álbum, ele deve ter pensado que tinha mais alguns meses”.

“Mas o fim deve ter sido muito rápido. Eu não estava sabendo [da gravidade]. Eu não sei exatamente, mas ele deve ter adoecido muito rapidamente após esse telefonema”, afirmou.

O corpo de David Bowie foi cremado em Nova York logo após sua morte no domingo (10), informou o tabloide britânico "Daily Mirror".

Produtor de álbuns clássicos na discografia do cantor, como “The Man Who Sold the World (1970) e “Scary Monsters (and Super Creeps)” (1980), além dos dois últimos discos da carreira, “The Next Day” (2013) e “Blackstar” (2016), Visconti contou que soube da doença de Bowie há um ano, durante a gravação de último trabalho em Nova York.

"Ele veio de uma sessão de quimioterapia, e não tinha sobrancelhas, não tinha cabelo na cabeça", disse Visconti. "Não havia nenhuma maneira de manter em segredo para a banda. Mas ele me disse reservadamente, e eu realmente fiquei engasgado quando estávamos sentados frente a frente falando sobre isso."

Despedida
Na metade de 2015, no entanto, o prognóstico de Bowie parecia indicar uma melhora. "Ele estava otimista, porque estava fazendo a quimio e estava funcionando", relembra Visconti. "E algum momento do ano passado, ele estava na fase de remissão da doença. Fiquei emocionado. Ele estava um pouco apreensivo e disse: 'Bem, não vamos comemorar muito rapidamente. Por enquanto eu estou em remissão, e vamos ver como evolui'”.

Em novembro, quando o álbum estava sendo finalizado, veio a notícia da metástase: “[O câncer] havia se espalhado por todo o corpo, então não havia nenhuma recuperação a partir dali."

Mesmo com o desejo de continuar a gravar, Bowie expressou nas letras, repletas de reflexões sobre a existência e a morte, o momento pela qual passava. Visconti conta que reparou nisso e disse ao amigo: “Você é um bastardo sagaz. Está escrevendo um álbum de despedida”. Bowie apenas riu. “Ele estava sendo bravo e corajoso. E a sua energia ainda era incrível para um homem que tinha câncer. Ele nunca mostrou qualquer medo”.

Visconti ainda afirmou que os rumores dos infartos são falsas. Na terça-feira, a biógrafa de Bowie afirmou que o cantor teve seis ataques cardíacos nos últimos anos, o que teria agravado seu estado de saúde. O produtor afirma que Bowie estava bem de saúde e chegou até a praticar boxe antes de 2013. “Ele se medicava para o coração [devido ao infarto que sofreu em 2004], o que era normal para um monte de gente em seus 50 ou 60 anos”.