"Fomos muito felizes juntos", diz mulher de Naná Vasconcelos em velório
O corpo do percussionista Naná Vasconcelos foi velado na tarde desta quarta-feira (9), na Alepe (Assembleia Legislativa de Pernambuco), no Recife. O músico de 71 anos morreu na manhã desta quinta em decorrência de uma parada respiratória provocada por um câncer no pulmão.
A mulher do músico, Patrícia Vasconcelos, e a filha do casal, Luz Morena, acompanharam de perto as homenagens a Naná. "Vai ser difícil viver sem ele. Era uma pessoa maravilhosa. Fomos muito felizes juntos", disse Patrícia ao UOL. O enterro está marcado para quinta-feira, às 10h, no cemitério de Santo Amaro, área central do Recife.
Dezenas de coroas de flores foram depositadas nas galerias do salão principal da Alepe, que teve uma alta rotatividade de admiradores do percussionista. A secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, nomes como o cantor Ed Carlos e o coquista Mestre Galo Preto, batuqueiros, músicos e a ex-BBB Bella Maia acompanharam as homenagens, em clima de contemplação e respeito ao legado deixado por Naná Vasconcelos.
O governador do Estado, Paulo Câmara, decretou luto oficial de três dias em todo o estado de Pernambuco. A série de homenagens foram iniciadas na área externa da Assembleia, com o rufar dos tambores do maracatu. "Ele foi um dos grandes responsáveis pelo fortalecimento da nossa manifestação cultural quando, há 15 anos, ousou reunir as nações na abertura do Carnaval do Recife", disse Mestre Chacon, do Maracatu Nação Porto Rico.
Durante o velório, entre as apresentações musicais da Orquestra Cidadã e do grupo Voz Nagô, além de cantores e percussionistas que espontaneamente tocaram e cantaram em homenagem a Naná, foi exibido o documentário "Língua Mãe", produzido pelo cineasta Leo Falcão.
O projeto documentou o trabalho de Naná Vasconcelos com educação musical e reuniu 120 crianças de Portugal, Angola e do Brasil. "Ele sempre foi extremamente perfeccionista e, nessa busca pelo melhor resultado das coisas, produzia algo que se convertia em generosidade devido ao imenso talento e força musical que detinha", comentou o cineasta.
Sorriso sonoro
Para o Maestro Forró, um dos homenageados do Carnaval do Recife deste ano, Naná Vasconcelos tinha um poder agregador. "O sorriso sonoro de Naná é o que mais guardarei na memória. Muitas vezes ele começava a contar histórias, argumentar, explicar suas ideias e rompia numa gargalhada cheia de luz e de som. Pensar nele é lembrar de sua risada".
"Como grande estudioso da matriz africana, Naná conseguiu demonstrar a complexidade da música negra ao inserir, junto com o batuque do maracatu a voz, por meio das loas", disse Luciene Gloyce, uma das sete cantoras do grupo feminino Voz Nagô, que acompanhava o músico e os batuqueiros na abertura do Carnaval. "Ele tinha essa mística com o número sete, sempre fomos sete vozes".
O roadie Edelvan Barreto, que acompanhou Naná Vasconcelos por mais de 20 anos em shows e turnês em vários países, também prestou suas últimas homenagens ao músico. "Não importava se a pessoa era um músico erudito ou alguém da produção, Naná sempre fazia questão de deixar todos da equipe bem. O mais importante para ele era que as pessoas ao seu redor, assim como ele, vivessem e respirassem música".
Erudição
Além de sua presença musical focada na valorização do maracatu, Naná Vasconcelos também será lembrado pelos trabalhos seminais que produziu ao lado de grandes músicos, como Milton Nascimento e Egberto Gismonti, e também pelos experimentos musicais realizados no período em que morou no exterior.
Um dos grandes admiradores do trabalho de Naná, Francisco Saboya, presidente do Porto Digital, parque tecnológico do Recife, apontou o percussionista como o músico mais internacionalizado de Pernambuco. "Ele criou um instrumento novo, unindo o corpo, a percussão, a voz e o berimbau. Seu trabalho envolve uma presença sólida no jazz e na música erudita".
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