Rock de TV: Como o "SuperStar" tem servido de gatilho para uma nova cena
O rock pode estar ausente da lista de músicas mais tocadas nas rádios do Brasil, mas tem tomado um espacinho na TV na hora do almoço aos domingos. E na emissora de maior audiência do país. O "SuperStar", reality musical da Globo, chega ao fim de sua terceira temporada no próximo domingo (26) com três bandas de rock entre as quatro finalistas, um número representativo que cresce a cada ano, desde sua estreia em 2014.
"A televisão alcança muita gente e eu não sabia que funcionava realmente dessa forma", diz Rodrigo, vocalista da banda Suricato, que ficou entre os quatro primeiros do programa em 2014. Para ele, o efeito da exposição remete à época em que a geração rock BR, nos anos 1980, explodia pelo país através dos populares programas de calouro.
Do quarto lugar no programa, a Suricato pulou direto para o palco do festival Rock in Rio e emendou parcerias com bandas veteranas. "Tivemos um décimo do que as bandas dos anos 1980 tiveram. E isso já foi muito", compara.
Anualmente, o palco do reality show abre espaço para bandas de gêneros diversos em busca de uma nova sensação na música. O objetivo até agora não foi muito bem cumprido, e talvez nunca seja, mas a exposição durante a temporada no ar tem sido mais efetiva, principalmente quando o assunto é rock. De preferência, aquele com viés mais comercial, de refrões assobiáveis e flerte com o pop.
Horizonte distante
Assim como a Suricato, bandas como Scalene, Versalle e Supercombo garantiram um horizonte para além do programa. Seus shows foram dobrados, contratos foram assinados e a popularidade aumentou, sendo destaques na última edição do festival Lollapalooza Brasil, em São Paulo.
Na edição deste ano do "SuperStar", o rock mais eletrônico do Bellamore, o rock pop do Plutão Já Foi Planeta e o folk do OutroEu disputam com o grupo de forró Fulô de Mandacaru um espaço ao sol --espaço este que não necessariamente tem a ver com "ficar em primeiro lugar".
"Diferente dos outros programas que revelam uma voz, como 'The Voice', o 'SuperStar' revela artistas. Uma banda não pode tocar qualquer coisa, tem que ter uma identidade", observa Rodrigo. "No nosso caso, só funcionou de fato porque havia canções sólidas e uma identidade".
Jurada desde a segunda edição, Sandy é uma das entusiastas dessa safra. Não raro, ela se desdobra em elogios na bancada e já chegou a dividir a composição de uma nova música sua, "Respirar", com Daniel Lopes da banda Reverse, destaque da segunda edição do programa.
Para a cantora, o palco é o habitat natural para o gênero. "O rock não só é bom de ser ouvido, é bom de ver. A performance é sempre muito legal e isso impressiona bastante nos realities musicais", ela explica ao UOL.
Com milhões de cópias vendidas com o RPM nos anos 1980, Paulo Ricardo divide o júri com Sandy e Daniela Mercury e crê que a TV ainda serve para amplificar uma produção cada vez mais pulverizada e nichada. "Este momento se assemelha a 1981, com a cena punk paulista e o Circo Voador [tradicional casa de shows no Rio] começando a revelar os jovens talentos da época". E ele prevê: "O melhor ainda está por vir."
Nova MTV?
Quando participaram da segunda edição do "SuperStar", os brasilienses do Scalene já se apresentavam fora do país e planejavam a carreira a passos lentos na cena alternativa. Isto até tocarem no palco construído no Projac, o estúdio da Globo, e verem o grande telão, que separa a banda do público, subir pela primeira vez. O que se abria ali era algo ainda maior.
Na última semana do programa, quando o grupo perdeu para a dupla pop Lucas e Orelha e garantiu o segundo lugar, a Scalene foi contratada pela Slap, selo da Somlivre, do grupo Globo, onde lançam agora o primeiro DVD ao vivo. Nos shows, eles ainda identificam parte do público que foi conquistado no reality. "Adiantou nossa carreira em dois ou três anos", resume o guitarrista Tomás Bertoni.
Diretor-geral da 89 FM A Rádio Rock, emissora paulista dedicada ao gênero, Junior Camargo acredita que, guardada as devidas proporções, o reality tem peso semelhante ao da MTV nos anos 1990. "É apenas um programa de 1 hora, que fica na grade por dois meses, mas seu efeito é devastador", avalia. "É importante incluir essas bandas em um cenário nacional. É isso que os faz ficar importantes. Se outro estado não ouviu falar do Supercombo, ninguém vai contratá-los."
Com essa vitrine global, ele enxerga que a "pizza" começa a ser melhor repartida. "Já tem acontecido algo legal com as bandas Vespas Mandarinas, Dona Cislene, Far From Alaska. Não é que o rock veio substituir o sertanejo. Naquela pizza, o rock nacional estava sem pedaço nenhum. Agora tem", diz. "É, certamente, um cenário mais otimista".
Interesse nas atrações
Um dos organizadores do festival João Rock de Ribeirão Preto, Luit Marques acompanha o reality desde a segunda temporada, interessado mais nos concorrentes do que propriamente no vencedor. "Quem ganha, muitas vezes, tem o maior apelo popular, independente da qualidade da banda. Mas o mais bacana é que outros trabalhos passam por essa visibilidade. E eles chegam mais à frente com essa vitrine".
Foi através da TV, por exemplo, que Marques conheceu as bandas Scalene e Supercombo, atrações da 15ª edição do festival, que ocorreu no última fim de semana no interior de São Paulo. O encantamento agora paira sobre os potiguares da Plutão Já foi um Planeta, uma das finalistas desta edição. "Tem levada bacana e a vocalista tem uma voz muito bonita."
O rock teve uma única vitória até agora na TV, durante a primeira temporada do programa. Com peso e letras românticas, a banda Malta manteve-se no auge depois do reality. Mas, sem o aval da crítica, não levou dois anos para a se desmanchar com a saída repentina do vocalista Bruno Boncini. "Vamos combinar, a Malta fazia música pensando no óbvio, no comercial, em curto prazo. Não há nada de errado, mas não ajuda o mercado", defende Tomás, da Scalene.
Para os concorrentes desta edição, a exposição está assegurada até domingo, já o sucesso...
"Não há garantia. Essa é a dor e a delícia do rock and roll", resume Paulo Ricardo. "Entre por sua conta e risco."
* Com reportagem de Renata Nogueira
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