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Cachorro Grande gera polêmica ao criticar "engajados de ocasião" em música

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

10/08/2016 16h30

A faixa “Electromod”, novo single da banda gaúcha Cachorro Grande, mal caiu na internet e já se transformou na nova polêmica instantânea da vez.

O motivo: a música, que dá nome ao recém-lançado disco do grupo, soa como um ataque nada velado ao universo esquerdista, com versos como “Vota no PT/Depois vem pagar de intelectual” e “Fora do DCE/Não sabe como é que a vida é”.

Outros trechos da letra frisam que a nova MPB “não tem o que dizer” e que hoje “Quem começou um blog/agora virou pop/Escreve no jornal”.

Há ainda referências a conflitos de manifestantes com a polícia. “Enchendo linguiça/Apanha da polícia/E acha genial”, canta o vocalista Beto Bruno, que arrebata: “Fazendo passeata/Aquela gente chata/Acha que é Carnaval/Spray de pimenta/Ninguém te aguenta/Rango natural”.

O tom crítico movimentou as redes sociais e fez a música virar notícia em blogs liberais e até na página do MBL (Movimento Brasil Livre). Conhecido por organizar os protestos a favor do Impeachment de Dilma Rousseff, o grupo elogiou a banda por “falar a verdade” e enfrentar a “hegemonia da esquerda”.

Estariam os expoentes da direta roqueira Lobão e Roger Moreira arregimentando novos soldados no combate à chamada “esquerda caviar”? Não exatamente.

“A gente se surpreendeu com esse bafafá todo. Não é uma música política”, diz ao UOL o guitarrista Marcelo Gross, que compôs “Electromod” com o vocalista Beto Bruno e o baixista Rodolfo Rodolfo Krieger. Segundo ele, o trio simplesmente foi adicionando versos sonoros que se encaixavam ao tema ou que soavam engraçados.

“É uma letra anarquista. O personagem da música é um punk que sai vociferando sobre tudo que está rolando aí, toda essa situação virulenta”, explica Bruno, afirmando que a letra também continha trechos alvejando a direita e o PSDB. Mas eles acabaram preteridos por "não caber" na composição.

“O que a gente é contra de verdade é essa galera fake. O hipster que compra vinil só porque está na moda, não porque gosta realmente do som; De quem vai na manifestação só parar tirar selfie e aparecer, não por estar engajado.”

Uma banda de centro (espírita)

O músico diz que a banda não é de esquerda, muito menos de direita. "Não somos contra nem a favor de nenhum partido. A gente é de centro. Centro espírita: Jimi Hendrix, John Lennon, saca? É a mensagem dessa galera que move a gente", brinca.

“Também achamos chata essa intolerância que existe hoje, de ter que ser isso ou aquilo. Só por estarmos falando sobre isso não quer dizer que estejamos assumindo uma posição. Estamos na nossa, fazendo nosso rock and roll”, afirma Marcelo, que se diz a favor da Lei Rouanet.

“[A lei] sempre foi uma coisa distante para a gente. Nunca pensamos em fazer alguma coisa com ela. Mas, se ela ajuda os artistas, ela é válida. Qualquer incentivo à cultura no país é válido. A lei só não pode ser privilégio de alguns.”