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"Oldchella": Desert Trip atrai público mais velho que nunca foi a festivais

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em Indio (Califórnia, EUA)

10/10/2016 15h11

"Oldchella". Foi esse o apelido que o festival Desert Trip ganhou, uma brincadeira o fato de ser realizado no mesmo local de outro evento musical, o Coachella, em Indio, na Califórnia, mas com uma programação com artistas que passavam todos dos 60 anos ("old", em inglês, significa velho). E a idade elevada não se limitou apenas aos palcos e se traduziu também em um público que não costuma frequentar grandes eventos desse tipo.

Com uma média de idade superior aos 50 anos, boa parte do público do Desert Trip nunca tinha participado de algum festival na vida, enquanto seus filhos já foram em vários. A maioria, é claro, já havia ido a grandes shows em estádios, mas nunca havia passado pela experiência de participar de um evento de vários dias e com diversas bandas na programação.

E não é para menos, já que o Desert Trip está sendo considerado o “festival do século” por reunir Paul McCartney, Neil Young, Rolling Stones, Bob Dylan, The Who e Roger Waters em um mesmo lugar.

O casal Kim e Dave Danielski, ambos de 55 anos, encaixa-se nesse perfil. Embora eles sejam de Chicago, terra do Lollapalooza, nunca se interessaram em enfrentar as diversas dificuldades que um festival apresenta apenas para ver alguns shows. “Mas com o Desert Trip foi diferente. O line-up impressionante nos fez sair de casa e vir para a Califórnia só para assistí-los”, diz Kim.

Desert Trip - Felipe Branco Cruz/UOL - Felipe Branco Cruz/UOL
O casal de professores Ellen e Glen Gerhard, 60, era uma exceção em meio ao público do Desert Trip, porque costuma ir a festivais ver artistas "mais velhos"
Imagem: Felipe Branco Cruz/UOL

“Os outros festivais só têm bandas adolescentes irrelevantes. Adorei o clima de festival, fizemos muito amigos e percebemos que tudo foi bem fácil”, analisa Dave. “Mesmo cheio, eles fizeram um bom trabalho e deixaram esse lugar lindo".

Um pouco mais velho, o californiano Mark Endo, 62, estava no festival acompanhado apenas do noivo de sua filha, David Escandon, 26. “Nunca participei de festivais. Mas é impossível perder com esse line-up matador”, conta ele, que já viu grandes shows do Jackson 5, Frank Sinatra e Céline Dion. “Gostei da experiência e espero repetir, principalmente porque o público tem a minha idade. Para mim, o pior é o calor, mas minha filha me deu algumas dicas para aguentar bem as dificuldades”, diz.

Outro casal que nunca havia ido a festivais como esse foi Vicent Haris e sua mulher Nancy, ambos de 70 anos, que vieram de Detroit. “Gostaria de ver mais festivais assim. Temos dois filhos e eles já foram no Lollapalooza em Chicago e nos disseram que o clima de festival é inesquecível. Viemos conferir”, conta Nancy. “Tudo aqui foi pensando para atender a um público como a gente. Não é à toa que chamaram de 'Oldchella'”, conclui Vincent.

Uma das poucas exceções no festival era o casal de professores Ellen e Glen Gerhard, 60. “Não vamos em festivais com bandas que não conhecemos, mas já fomos em alguns com grupos mais ‘velhos’”, brinca Ellen. Já Glen, comparou a infraestrutura do Desert Trip com outros festivais. “Nunca tinha visto um telão com aquela qualidade de imagem. Também gostei da maneira como eles gerenciaram as multidões para evitar as filas, além das diversas opções de comida e cervejas caseiras. Também não vimos drogas, afinal, todos aqui somos mais velhos e experientes e já passamos dessa fase”, analisa o professor, apontando o show de Neil Young como o melhor do evento. “Ele é um verdadeiro roqueiro. Tocou sem apelar para a nostalgia com um show pesado. Muito bom”.