Indio Solari, o cantor que atrai milhares de devotos aos seus shows
A palavra “peregrinação” descreve com precisão o deslocamento de pelo menos 350 mil argentinos neste final de semana para a cidade de Olavarría, a 350 km de Buenos Aires. Ao todo, cerca de 100 mil veículos chegaram ao lugar, quase a população local, de 130 mil habitantes. O motivo? O show do cantor Carlos “Índio” Solari, 68, uma das maiores celebridades da Argentina, cujo o trabalho é acompanhado com verdadeira devoção por lá.
Os administradores do município já aguardavam uma multidão mas, segundo entrevistas concedidas à imprensa local, eles não esperavam tantas pessoas e a situação saiu do controle. O tumulto foi tão grande que a “avalanche humana”, conforme foi descrita pelo prefeito Ezequiel Galli, deixou dois mortos e dezenas de feridos.
A título de comparação, o público do show foi superior ao dia mais lotado do Rock in Rio, em 2001, quando 200 mil pessoas foram à Cidade do Rock, causando um verdadeiro nó no trânsito da cidade. Detalhe, naquele dia as atrações eram Red Hot Chili Peppers, Deftones e Silverchair. Bandas muito mais conhecidas do que o argentino.
Mas, quem é Índio Solari, endeusado na Argentina, comparado a Evita Perón e Maradona, mas praticamente desconhecido para os brasileiros?
Índio ficou famoso como vocalista da banda de rock Patricio Rey Y Sus Redonditos de Ricota entre 1976 e 2001. Depois disso, ele formou um novo grupo, o Los Fundamentalistas Del Aire Acondicionado. O auge de sua carreira ocorreu nos anos 80, num dos piores períodos da ditadura militar argentina. As apresentações ao vivo de Índio são conhecidas pelas confusões e por promoverem a “maior roda de pogo do mundo” (quando uma clareira se abre na plateia com os fãs dançado no meio).
Avesso à imprensa, o artista dá poucas entrevistas e vive recluso. Suas apresentações quase sempre atraem grande público, já que são muito raras. A de Olavarría, no último sábado (11), ganhou ainda mais notoriedade porque o cantor anunciou recentemente que sofre de Mal de Parkinson e os fãs se mobilizaram para vê-lo ao vivo enquanto ele ainda consegue cantar.
As apresentações de Indio foram descritas em uma reportagem da BBC como um “ritual em que milhares de argentinos assistem com a mesma fidelidade e energia que um devoto religioso que vai a um templo” e os shows são chamados de Missa Ricotera (em referência ao nome de sua primeira banda). Por causa das multidões de fãs, o governo argentino proibiu há alguns anos que seus espetáculos fossem realizados na cidade de Buenos Aires, ocorrendo sempre em locais mais afastados da capital federal.
A tragédia em Olavarría deixou o país consternado e foi apontada pela imprensa argentina como algo previsível. O público começou a chegar ao local alguns dias antes. As pessoas acamparam na beira da estrada e promoveram, segundo a BBC, uma nuvem de fumaça permanente, proveniente dos tradicionais churrascos argentinos. Os “ricoteros” passaram os dias anteriores comendo choripan (tradicional sanduíche argentino) e tomando a cerveja mais gelada que o abraço do Maurício Macri (presidente da Argentina).
Em uma entrevista coletiva, o prefeito Galli afirmou que "o operacional de saída (do espetáculo) estava preparado para a metade das pessoas que havia. A situação entrou em colapso". O local onde o evento ocorreu estava preparado para receber 200 mil pessoas, ou seja, 150 mil a menos do total divulgado. Após o show, centenas de jovens ainda estavam na cidade, pois não conseguiram retornar para Buenos Aires e, descontrolados, saquearem restaurantes e outros estabelecimentos.
Veja o momento do acidente
Momento en el que el Indio Solari para el recital por una avalancha. #IndioEnOlavarria pic.twitter.com/
— Pato (@patorodriguez1_) 12 de março de 2017
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