The Who erra, desafina e faz o melhor show que você poderia ver em SP
A espera mais inglória dos roqueiros brasileiros teve seu fim na noite desta quinta-feira (21), no primeiro dia do festival São Paulo Trip. Após mais de cinco décadas, o The Who finalmente estreou no Brasil, diante de um estádio Allianz Parque parcialmente vazio --a concorrência do Rock in Rio pode ter pesado.
O que significa o The Who versão 2017:
1) É um clássico pela metade, com os integrantes originais Roger Daltrey, 73, e Pete Townshend, 72, lendas cansadas;
2) É uma performance estritamente de acordo com idade do grupo, aquele que já foi considerado o mais barulhento do mundo.
Para agravar, a banda está em sua pior forma física e artística, há 35 anos sem lançar material relevante. As músicas estão mais lentas, o vocal de Daltrey está bem mais fraco --com direito a uma desafinada "Behind Blue Eyes". O baixista John Entwistle e o baterista Keith Moon são insubstituíveis --em seus lugares, hoje, estão respectivamente Jon Button e Zak Starkey, filho de Ringo Starr.
Dito tudo isso, frisemos: ainda assim é um show incrível e maravilhoso de se ver.
"São Paulo, é tão bom ver vocês!" foram as primeiras palavras ditas pela banda ao público brasileiro, por Pete Townshend. "É a primeira vez na América do Sul. Primeira vez no Brasil. Estamos muito felizes por estar aqui". O Allianz surtou.
O guitarrista, por sinal, acabou sendo o astro principal na maior parte da apresentação. Seus solos e palhetadas de braço giratório --uma invenção dele-- eram respondidos por uma onda de gritos, seguidos de sonoros urros de "Who". Finalmente a plateia do festival acordou. Muitos estavam ali apenas para ver o The Who, mas a banda merecia mais gente.
A quem preferiu deixar para ver o show do grupo no Rock in Rio, no próximo sábado (23), vale o aviso: metade do setlist vem de três grandes álbuns clássicos, "Tommy", "Who's Next" e "Quadrophenia". Não dá para reclamar. Quase nada fica de fora.
Estão lá, entre tantas, "I Can't Explain", "The Kids Are Alright", "I Can See for Miles", "Who Are You", "Pinball Wizard", "Won't Get Fooled Again", "My Generation" --esta última, um dos maiores clássicos da história do rock, contou com erro grosseiro de Roger Daltrey, atrasado logo na primeira estrofe da música. Ninguém ligou.
Ao fundo, no telão, fotos, filmes e animações ilustravam cada música relembrando o passado e a glória do The Who, o nome que provavelmente inspirou a banda de rock que você mais gosta. Entre os erros e o inapelável efeito da idade, este é um dos melhores shows de 2017. Na pior das hipóteses, vale pela nostalgia.
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