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Bon Jovi peca pela voz, mas mostra em SP que ainda é o rei do carisma

Leonardo Rodrigues e Renata Nogueira

Em São Paulo

23/09/2017 23h20

Em pleno 2017, a histeria em torno do Bon Jovi ainda se justifica. O cantor de 55 anos, que batizou a banda com o próprio nome, é carismático, tem mais sucessos do que você consegue contar nas mãos e sabe como poucos entreter uma plateia em um estádio, como a que viu o show da banda neste sábado (23) no festival São Paulo Trip.

Cria dos anos 1980, ele escolheu as músicas mais ganchudas da carreira, pulou, dançou, agitou. Um intensivão de show potente que não abre mão de músicas recentes, do álbum "This House Is Not For Sale". O grupo não quer nem saber de aposentadoria.

"Alguém nos viu ontem no Rock in Rio pela TV? OK. Foi legal, mas aqui vai ser muito melhor", prometeu o agora grisalho Jon Bon Jovi, sorriso mais branco do hard rock. Os mais de 40 mil presentes no Allianz Parque, a maioria mulheres, foram às alturas com o close no telão. No público, muitos casais nas casas dos 30 e 40 anos.

Grandes surpresas na noite: "Always" e "These Days", ignoradas nos shows de Porto Alegre e no Rock in Rio e cantadas a plenos pulmões pelo público paulista, com todo e salutar esforço de Bon Jovi para chegar nas notas. É uma das favoritas dos fãs, que puderam ir para casa com o sorriso mais largo, que deve durar até a próxima turnê.

Apesar do sucesso do show, da energia a pino do início ao fim, é fato que o cantor vive um dilema: sua voz mudou. É nítido o esforço físico para manter o tom em diversas músicas, especialmente nas mais antigas, do tempo em que cantava como o garoto que era.

Várias vezes, o vocal parecia simplesmente sumir em meio à massa sonora, como em "You Give Live a Bad Name", "It's My Life" --aqui a plateia ajudou-- e "Lay Your Hands on Me". Nesta última, o cantor aproveitou para descer do palco e tirar selfies com quem estava no gargarejo. Na romântica "Bed of Roses", chamou uma fã para dançar de rostinho colado. Carisma é com Bon Jovi, que centrou o repertório em álbuns como "Slippery When Wet" (1986) e "New Jersey" (1988).

Outro fator que pesa contra o Bon Jovi atual: desde 2013, o grupo não conta com o velho escudeiro Richie Sambora, guitarrista técnico e talentoso vocalista de apoio que deu lugar a dois ótimos instrumentistas, mas que não têm metade do carisma dele. Mas quem gosta mesmo não está nem é. O Bon Jovi é o Jon.

"Ele não precisa forçar a voz, como faz o Axl Rose. Ele canta com a voz natural dele. É claro que não é o mesmo de 20 anos atrás, mas, para quem é fã, ele continua perfeito", diz Adriana Malaquias 43, que veio ao show com o filho Thiago. O ingresso para pista foi presente do Dia das Mães. "Ele não tem mais aquela potência na voz, OK. Mas pra gente não importa nem um pouco. Te digo que iria no show dele até se ele estivesse rouco da vida", afirma Angela Silva, 42, que veio de Curitiba e é fã de Bon Jovi desde 1985 e assim será até o fim da vida.