Em ato do MTST, Caetano deixa discurso de lado por show de tom amoroso
No show que encerrou as comemorações de 20 anos do MTST (Movimento dos Trabalhados sem Teto), Caetano Veloso resgatou canções históricas de 1967, que inauguraram o movimento tropicalista e canalizaram o sentimento da contracultura na época da Ditadura.
"Alegria Alegria" e "Tropicália" foram cantadas em uníssono pelo público que tomou o Largo da Batata, em São Paulo, neste domingo (10), para comemorar o aniversário do movimento, mas o paralelo entre a época e o Brasil de 2017 ficou restrito apenas à música.
Sem fazer qualquer discurso, Caetano deixou para a plateia o coro de “Fora, Temer”. No refrão de “Odeio”, canção sobre o fim de um relacionamento, como de praxe o público respondeu: "Odeio você, Temer". Segundo Guilherme Boulos, coordenador do MTST, havia 30 mil pessoas no local.
No momento mais forte da apresentação, enquanto Caetano cantava "Um Índio", a líder indígena Sônia Bone Guajajara fez um discurso a favor dos sem-teto e da demarcação de terras indígenas: "É a nossa missão tirar das mãos das grandes cooperações esse poder podre que eles têm na mão. Nós podemos lutar pelo direito de lutar e existir."
A presença de Guajajara, junto com “Podres Poderes”, cantado em seguida, foi o momento mais explicitamente político de um show que privilegiou mensagens mais amorosas e manifestos à beleza do Brasil, entremeada por músicas de Criolo, Maria Gadú e Péricles. O ex-Exaltasamba cantou "Eu e Você Sempre" e resumiu o tom da apresentação: "Vamos falar de amor, o mundo está precisando."
Enquanto “Tigreza” e “Vaca Profana” eram cantadas como eco do movimento feminista, em peso no show, “Gente”, com o verso “gente é para viver, não morrer de fome”, trazia à tona as preocupações de um artista sempre muito crítico à esquerda, mas que recentemente tem participado de forma mais ativa de movimentos sociais.
“Minha primeira motivação para colocar-me à esquerda se mantém até hoje: a horrenda desigualdade da sociedade brasileira”, ele diz no capítulo que introduz o relançamento de seu livro, “Verdade Tropical”. “E só faz exacerbar-se no clima dos meses recentes, em que o horror dos conservadores finge se dirigir à corrupção quando é nojo e medo dos pobres, pretos e desorganizados, além de impaciência com estes.”
Convidado do show, Criolo pulou no trio durante toda a apresentação e atiçou a plateia: "Uma salva de palmas para o maloqueiro Caetano", pediu. Vestindo trajes de estilo urbano da Lab, marca de roupas do rapper Emicida, o cantor e compositor de 75 anos sorriu.
No final de “Força Estranha”, após os versos “Por isso é que eu canto, não posso parar, por isso essa voz tamanha”, no entanto, olhou para a plateia que o acompanhava e disse incisivamente: “Esta é a voz”.
Show foi impedido na Justiça
Vestindo a camiseta dos 20 anos do MTST, a empresária Paula Lavigne acompanhou todo o ato com o celular na mão.
Ela é o nome por trás da apresentação, que aconteceria no dia 30 de outubro, na ocupação da Frente Povo Sem Medo, em um terreno de quase 70 mil m² que abriga cerca de oito mil famílias em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Paula e Caetano chegaram a ir ao local, mas foram impedidos se apresentar por determinação da Justiça. Caetano reagiu: "Não sei dizer se foi censura, não sou um técnico. Mas dá impressão de que não é um ambiente democrático", disse. "Pode ser um modo de reprimir uma ação que seria legítima."
Ao lado das atrizes Sonia Braga, Aline Moraes e Marina Person, Paula fez um breve discurso antes da apresentação: "Promessa feita, promessa cumprida. Quero agradecer apenas a juíza que impediu o show em São Bernardo. Você nos deu força, nos deu garra e determinação", disse.
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