Com proibição da Justiça, show de Caetano Veloso em ocupação é cancelado
O show que Caetano Veloso faria nesta segunda-feira (30) na ocupação Povo Sem Medo, em São Bernardo do Campo (SP), foi cancelado após uma decisão judicial sob pena de multa de R$ 500 mil. A decisão partiu da juíza Ida Inês Del Cid da 2ª Vara da Fazenda Pública de São Bernardo após o Ministério Público entrar com uma ação civil pedindo a não realização do show na tentativa de manter a integridade de todos os envolvidos.
A apresentação ocorreria em solidariedade às 8.000 famílias sem-teto que ocupam uma área de 70 mil metros quadrados em São Bernardo do Campo (SP) há 45 dias. O terreno fica na região central e vizinhas a prédios de classe média alta. Segundo o MTST, o terreno está abandonado há mais de 30 anos e com uma dívida de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) de aproximadamente R$ 500 mil.
Na decisão, a juíza destacou que a figura de Caetano Veloso atrairia um público que o local não suporta. "Seu brilhantismo atrairá muitas pessoas para o local, o que certamente colocaria em risco estas mesmas, porque, como ressaltado, não há estrutura para shows, ainda mais, de artista tão querido pelo público, por interpretar canções lindíssimas, com voz inigualável", diz o texto.
Cumprindo a decisão do Ministério Público, a Prefeitura de São Bernardo do Campo afirmou ainda que Caetano Veloso pode se apresentar no município quando desejar, "desde que cumpra a legislação municipal com base na lei 5468 de 15/03/2007 como todos outros artistas sempre seguiram".
Paula Lavigne, mulher e empresária do cantor, tentava desde o início da tarde a liberação dos equipamentos para a realização da apresentação. "Eu não estou aqui para descumprir decisão judicial", afirmou a produtora cultural, confirmando o cancelamento. Ela disse que ainda vai tentar agendar a apresentação em outra data seguindo os critérios legais.
Acompanhada de artistas que apoiam o movimento, como as atrizes Sonia Braga, Alinne Moraes e Letícia Sabatella e a cineasta Marina Person, Paula Lavigne chegou a ser recebida na prefeitura da cidade pela chefe de gabinete e secretários e, depois, seguiu para o Fórum de São Bernardo. A produtora cultural também fez questão de elogiar a ação da Guarda Municipal quando os equipamentos foram barrados, já que não houve conflito em nenhum momento.
Para Marina Person, mesmo sem a apresentação de Caetano, a presença dos artistas no local já chama a atenção da causa social. "É importante que nós viemos e conhecemos como esse é um movimento pacífico. A nossa presença já diz que estamos juntos na mesma luta", disse a cineasta ao deixar o fórum e seguir para o terreno onde acontece a ocupação.
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Artistas realizam ato
Mesmo com o cancelamento do show, Caetano Veloso seguiu para a ocupação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra). O cantor participa de um ato no local junto com outros artistas e lideranças políticas. As atrizes Sonia Braga, Leticia Sabatella, Alinne Moraes, a cineasta Marina Person, os cantores Criolo e Emicida, o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) conversam com os sem-teto em um palco improvisado.
"Manobras legais foram feitas para que o show não pudesse acontecer", disse Caetano Veloso ao público, que respondia com gritos de "amanhã, amanhã". O coro se refere a uma marcha dos sem-teto marcada para esta terça-feira (31) que seguirá por mais de 20 km do local da ocupação até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado de São Paulo, no Morumbi, zona sul de São Paulo.
Guilherme Boulos, líder do MTST, afirmou que a Constituição foi rasgada com a proibição do show. "Se eles queriam nos provocar para uma reação violenta, eles não conseguiram", disse. Segundo o lider, o movimento "se fortalece" com a decisão judicial.
Alinne Moraes foi ovacionada ao subir no palco. A atriz disse que, assim como entra de cabeça em seus personagens, estava dedicada à luta da ocupação sem medo. "Cada coisa que o personagem passou eu lutei e sofri na alma. (...) Quando eu saí do Ministério [Publico] eu não tive vontade de desistir, mas de lutar", afirmou ela, que acompanhou Paula Lavigne em toda a negociação. A plateia respondeu com o grito de guerra do MTST. "Aqui está o povo sem medo, sem medo, de lutar".
O rapper Emicida também participou do ato e prestou solidariedade aos sem-teto que ocupam o terreno. "Hoje é um caso clássico de piores problemas e melhores pessoas", disse. "Não tem coisa mais bizarra de que a casa ser um sonho, a casa é básico", afirmou sobre a reivindicação do movimento por moradia.
Às 20h, os artistas encerraram o ato e se reuniram em um barracão que é utilizado como escola e brinquedoteca no acampamento. Lá, eles receberam crianças da ocupação para tirar fotos. Eles deixaram a ocupação cerca de uma hora depois e prometem voltar para participar da marcha, que deve sair do acampamento às 5h desta terça-feira (31).
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