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Do alto do morro e com pé na rua: Anitta dá xeque-mate certeiro na carreira

"Vai Malandra": Anitta volta às origens e faz a melhor música do seu projeto "Check Mate" - Divulgação
"Vai Malandra": Anitta volta às origens e faz a melhor música do seu projeto "Check Mate" Imagem: Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

18/12/2017 16h22

Determinada a conquistar o mercado internacional, só neste ano Anitta dançou na Amazônia, rebolou nas areias do Marrocos e "quicou" em uma estação de metrô em Nova York. Mas foi nas vielas e lajes do Morro do Vidigal, na zona sul do Rio de Janeiro, que a principal artista pop brasileira hoje lançou seu melhor single.

Nesse jogo de xadrez proposto por ela no segundo semestre, em que cada movimento visava derrubar o outro lado do tabuleiro (leia-se chegar a tão sonhada carreira internacional), seu "Check Mate" não poderia ser mais brasileiro: um funk sacana, sensual e com um beat irresistível.

O vídeo da música "Vai Malandra" chegou nesta segunda-feira (18) renegando o glamour e os clichês típicos para gringo ver, logo nos primeiros segundos. A bunda da estrela aparece com celulites, e no lugar das praias e dos cartões-postais do Rio de Janeiro, asfalto rachado, piscina improvisada na caçamba de um caminhão e a técnica de bronzeamento na laje.

A grande aposta tem gosto de subversão para quem passou o ano lançando singles e atirando para todos os lados para ver onde conseguia emplacar um hit.

Cantando todas as músicas em inglês ou em espanhol, a balada "Will I See You", o primeiro single do projeto, serviu para mostrar que a cantora tem boa voz. "Is That For Me?", com Alesso, foi direcionada para fazer o público fritar nos festivais de EDM. E "Downtown", com J. Balvin, caiu no reggaeton sedutor que ditou os lançamentos no mundo inteiro este ano.

Nenhuma delas foi aquele tiro, como dizem nas redes sociais, mas a sequência de lançamentos serviu para mostrar que o talento de Anitta tem mais matizes que seus detratores costumam pregar e, principalmente, projetar seu nome em terreno americano, onde sua fama ainda é incipiente.

Ao subverter a lógica de agradar o mercado, o derradeiro e mais importante movimento do jogo é este single com mais força para finalmente bombar lá fora.

É chiclete, é cru, é real. E como "Bum Bum Tam Tam" (que ganhou versão gringa na semana passada) e MC Kevinho (presente até no carro de Madonna) indicam, este é o futuro do pop, tanto aqui quanto lá fora.

A melhor das "Anittas"

O toque dos produtores Tropkillaz ainda aponta o som para frente. A dupla formada por André Laudz e Zé Gonzales faz pontes com o rap moderno e joga elementos do trap no batidão.

Anitta se joga pela primeira vez em uma coreografia de dança de rua, mostrando que a cultura do asfalto é que vai injetar verdade e energia em um mercado que sempre foi excessivamente produzido e fantasioso.

O único gringo no meio, o cantor e produtor Maejor Ali, traduz para o inglês os versos lascivos do funk, mas quem faz frente mesmo é Jojo Toddyinho, a youtuber com seios grandes; a empresária Érika Bronze, que fez bombar o bronze com os biquínis de fita adesiva; os musos do Vidigal, o barman Rodrigo Motta e o nosso Justin Bieber Pietro Baltazar; e o funkeiro MC Zaac, que apresentou à Anitta os primeiros versos da música. E mais: A atriz transsexual Wallace Ruy, o modelo andrógino Goan Fragoso e a criadora do "Canal das Bee", voltado ao público LGBT, Jéssica Tauane.

É a representação mais fiel da cultura do funk, ainda renegada nas rádios e nos círculos mais intelectuais da música. Dentro desse "rolê" tão nosso é que está a melhor das "Anittas". Só falta o mundo descobrir isso.

Cena do clipe de "Vai Malandra" - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Cena do clipe de "Vai Malandra"
Imagem: Reprodução/Instagram